Elas estão mais aceleradas, espertas e ávidas por novidades. Com acesso praticamente irrestrito à informação e com uma agilidade cerebral de dar inveja, as crianças da atualidade se tornaram um público consumidor exigente, capaz de deixar os adultos mais rigorosos no chinelo. E não demorou para que elas se tornassem um novo nicho de mercado, com oferta de serviços que vão de cursos de inglês para pequenos a partir dos dois anos até spas, com direito a banhos de imersão e cromoterapia. As apostas têm dado certo e passado ao largo da crise econômica.   “Tudo fica diferente depois do spa. Eu não sei como explicar, mas eu fico muito relaxada e é muito bom”, afirma Manuela Flores. Aos 8 anos, ela é cliente do Spa Lótus, localizado na Savassi, região Centro-Sul de Belo Horizonte.   Além de atender aos adultos, o estabelecimento oferece uma gama de serviços a crianças de 7 a 12 anos, chamada de Spa Kids. O ritual de beleza e relaxamento dos pequenos engloba cromoterapia, candle massage (realizada com velas aromatizadas com chocolate, morango, melancia, entre outros) e banho de imersão com óleos essenciais, florais de Bach e ervas medicinais. Entre 2014 e 2015, a procura pelo pacote, que custa R$ 440, aumentou 20%.   “Fazemos uma análise do que a criança necessita e oferecemos um pacote personalizado. Cada óleo e cada erva possui uma propriedade específica”, explica Cristiane de Carvalho Antuzi, do Spa. De acordo com ela, não é raro as crianças chegarem ao local estressadas, ansiosas ou angustiadas, já que muitas delas realizam diversas tarefas durante o dia.   Outras, ainda segundo Cristiane, acham que os serviços ajudam no desempenho escolar, ou, simplesmente, gostam dos mimos. Afinal, quem não gosta? E não há diferenciação de gêneros. Meninas e meninos são adeptos dos serviços.   Autoconhecimento   A psicóloga Clarissa Freitas concorda que tornou-se comum problemas antes considerados de adultos, como o estresse, pegarem as crianças de cheio. Um dos motivos, de acordo com ela, é o excesso de atividades intelectuais realizadas pelos pequenos. “Muitas vezes, a criança realiza tarefas que ela não gosta, mas não se expressa. Além disso, ela faz atividades intelectuais em excesso, mas deixa de lado as brincadeiras e os exercícios físicos”, diz.   Para solucionar o problema ou, pelo menos, minimizá-lo, ela desenvolveu um processo de coaching que utiliza métodos de autoconhecimento para crianças de 4 a 10 anos. O projeto deu tão certo que ele será expandido para outras cidades, como o Rio de Janeiro, em breve.   “De forma lúdica e em contato com a natureza, a criança se conhece melhor. É uma maneira de reforçar a individualidade de cada um”, afirma. O objetivo do projeto, ainda segundo a psicóloga, é fazer com que a criança saiba se posicionar em um mundo cada vez mais competitivo, reforçando que a meta da infância é ser feliz. “Muitas crianças têm talento para música e dança, por exemplo, mas eles não são desenvolvidos. Nas vivências, essas expressões afloram”, diz.   Apesar disso, ela nega que o processo seja uma espécie de teste vocacional, ou de curso de oratória. “Não emitimos relatórios, nada disso. A intenção é aumentar a autoestima da criança”, enfatiza. O projeto tem cinco módulos, cada um com dois meses. A mensalidade custa R$ 250.   Crianças ingressam cada vez mais cedo nos cursos   A conscientização dos pais acerca da importância da educação e o acirramento da competitividade no mercado de trabalho reduzem cada vez mais a idade com que as crianças iniciam cursos, como o inglês. No Number One, rede de franquias com 124 pontos de ensino espalhados pelo Brasil, a procura dos cursos para os pequenos com idade entre 2 e 6 anos aumentou 61% no primeiro semestre desde ano, na comparação com igual período do ano passado.   De acordo com a superintendente geral do Number One, Thelma Lawton, 3 mil alunos estão matriculados no curso infantil. “Quanto mais cedo começar as aulas, melhor”, diz. Segundo ela, o método é baseado no lúdico, com desenhos, colagens, brincadeiras e jogos, e as salas de aula são adaptadas para as crianças. “Elas aprendem de forma natural”, afirma.   Longe do lúdico, Lila Alves desenvolve um curso de fotografia para crianças de 9 a 12 anos baseado em três pilares: abertura do diafragma da câmera, velocidade do obturador e ISO. Apesar de ser técnico, o curso possui uma linguagem simples e prepara os pequenos para captar imagens de maneira subjetiva e com muita qualidade. As aulas são realizadas aos sábados e são práticas.   “Saímos para fotografar em diversos locais de Belo Horizonte. Ensino a manusear o equipamento do aluno e também fotografo com o meu. Ao final do curso, na última aula, fazemos uma avaliação de todo o material, inclusive das minhas fotos”, diz Lila.   O único pré-requisito é que a criança possua o equipamento. “Não precisa ser profissional, mas não pode ser apenas automático”, afirma.   COZINHAR É UMA FESTA!   Colocar a mão na massa é a premissa da Pizza d’Maio. O buffet possui uma oficina de pizzas para crianças em que os pequenos aprendem a preparar o próprio alimento em festas de aniversário e eventos de escola. Os cursos são realizados para crianças entre 5 e 12 anos, mas o público-alvo são os que possuem entre 6 e 9 de idade.   “É uma atração diferente para os aniversários. As crianças adoram. Cerca de 90% das festas que fazemos são por indicação”, afirma. Na oficina, os pequenos aprendem sobre higiene dos alimentos e história da pizza. Depois, vestem o uniforme, que inclui avental e chapéu de chef, e preparam a pizza.   “O Spa faz muito bem para as crianças. Tanto que muitas comemoram aniversário no espaço. O preço varia de acordo com o pacote. Além da massagem, banho de imersão e cromoterapia, oferecemos decoração e lanche” - Cristiane Antuzi - Spa Lótus   “A ideia surgiu com o objetivo de integrar o físico e o emocional. Para que as crianças possam olhar para dentro delas. Também fazemos sessões mensais com os pais” - Clarissa Freitas - Diretora do Coaching Kids

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