Intolerância no berço da vanguarda

Pedro Artur - Hoje em Dia
21/02/2015 às 11:24.
Atualizado em 18/11/2021 às 06:06

O elevado nível cultural de um povo não impediu o crescimento da intolerância racial, o antissemitismo e a repressão política verificados na Alemanha dos anos 1930. A forma como o nazismo ascendeu naquele país foi objeto de estudo do escritor mineiro Eduardo Szklarz, o que resultou em “Nazismo: Como Ele Pôde Acontecer”, livro que ele lança neste sábado (21), às 16h, no Café com Letras (rua Antônio de Albuquerque, 781, Savassi), pela Editora Abril, ao custo de R$ 29,90.   O escritor vai fundo na questão. “O que choca é que o nazismo floresce na vanguarda da cultura europeia, sustentando um alto nível de rejeição aos judeus e minorias”, observa Szklarz, que trabalha como repórter da Revista Super Interessante, do grupo Abril.   O autor conta o caso de um sobrevivente, que fugiu da Alemanha nazista para o Brasil – Moses Bardfeld tinha 24 anos, no auge da ascensão do nazismo. Ele fica preocupado com o clima antissemita e pede ao pai para deixarem juntos o país. “O pai diz que ‘vai passar, porque a Alemanha já havia passado por outros regimes totalitários’. Ele (Moses) pega uma bicicleta, vai para a fronteira da Holanda, onde é acolhido por um clube judaico e vem para o Brasil”.   Para Szklarz, o nazismo não surgiu de uma hora para outra na Alemanha e foi, sim, uma confluência de fatores, do antissemitismo ao nacionalismo extremado. “O nazismo se apropria de tudo, chacoalha e assim explode”.   Some-se a isso fatores como a impopularidade dos políticos da República de Weimar (1919 a 1933) – os alemães os culparam pela aceitação do Tratado de Versalhes que colocou vários impeditivos à Alemanha após a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) –, além do caos econômico com a queda da Bolsa de Nova York, em outubro de 1929.   “Para se ter uma ideia, o partido nazista obteve 2,6% dos votos nas eleições de 1928 e, em 1932, 37,4% dos votos no Parlamento”, destaca o escritor.     Eduardo Szklarz aponta a mudança de estratégia de Hitler, que teve frustrado o Putsch da Cervejaria de Munique, em 1923, quando tenta tomar o governo da Bavária, mas utilizando os meios institucionais. “Quando então vira chanceler, começa o desmanche da democracia, cujo primeiro alvo eram os comunistas e social-democratas. Assim, neutraliza a esquerda”, aponta o autor.   Outro passo foi o acordo com o cardeal carmelengo Eugênio Pacelli (que viria a ser o Papa Pio XII) para que os católicos abrissem mão da participação política, em troca da Igreja Católica não ser perseguida. “A base do acordo envolvia 23 milhões de católicos alemães”, explica, acrescentando que, com isso, foi extinto o partido do Centro Católico, o que colaborou, decisivamente, para a implantação do partido único, o Nacional Socialista.   Para o escritor, nada impede que um país caia na mesma armadilha. “Hoje estamos mais alertas, mas há o fenômeno do neonazismo”, e cita, entre os partidos, a Frente Nacional, extrema-direita francesa, que tem Marine Le Pen no comando. 

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