(Flávio Tavares)
Era a tarde do dia 23 de março de 2011. Diante de 4.263 torcedores, um menino franzino, de apenas 1,64m, fazia sua estreia com a camisa do time principal do Atlético na Arena do Jacaré, em Sete Lagoas. Improvisado como lateral-direito, o meia-atacante Bernard mostrou qualidade, mas bastante insegurança no empate em 1 a 1 contra o Uberaba, pela oitava rodada do Campeonato Mineiro. Pouco mais de três anos depois, ele foi um dos atletas mais festejados, nessa sexta-feira (27), por onde o ônibus com a delegação da Seleção Brasileira passou no trajeto entre o Hotel Ouro Minas e o clube do Sesc, em Venda Nova. Cada vez que algum torcedor, principalmente as adolescentes, notavam a presença do menino criado no Barreiro, a gritaria era geral. Apesar da reserva, Bernard é um dos queridinhos do atual grupo do Brasil, como aconteceu com Kaká na campanha do penta, em 2002. Na Seleção, Bernard se sente em casa. Reencontrou o goleiro Victor e o atacante Jô, companheiros com quem conquistou o título da Copa Libertadores do ano passado. Nessa sexta, da janela do ônibus, ele acompanhava tudo e distribuía sorrisos e simpatia. A alegria de voltar à cidade onde deu os primeiros chutes como jogador profissional era visível no rosto do jovem que tem a “alegria nas pernas”, como bem definiu o técnico Luiz Felipe Scolari quando convocou Bernard pela primeira vez. “É a cidade em que eu cresci, me tornei profissional e pude conquistar muita coisa. Tenho certeza de que a torcida vai comparecer e nos apoiar mais uma vez. Está sendo uma alegria muito grande retornar ao estádio onde conquistei um título muito importante no ano passado”, afirmou o mineiro. Grandes incentivadores da carreira do filho, dona Nélia e senhor Délio estarão em um lugar privilegiado neste sábado (28) no Gigante da Pampulha na torcida para que Bernard entre em campo no segundo tempo. Outra que também torcerá bastante para que isso aconteça é a estudante Letícia Kalik Giordano, 15 anos, uma das maiores fãs do atacante. Quando sabe que o jogador está de folga em Belo Horizonte, a jovem, moradora do Bairro Anchieta, marca o craque de perto. “Vou para o aeroporto e fico esperando ele chegar. Já me encontrei com ele umas cinco vezes. Tenho várias fotos, mas não canso”, contou, enquanto esperava o ídolo deixar o hotel na manhã dessa sexta e para ir ao treino no Sesc. Com um cartaz nas mãos, Letícia desejava boa sorte ao “amigo”. Bem diferente dos outros encontros, nessa sexta só foi possível admirá-lo de longe. Todos os jogadores saíram do hotel no ônibus escoltado por batedores da Polícia Militar. Baixa estatura dificultou a carreira Duas dispensas da base do Atlético por causa da baixa estatura, escalação fora da posição e vaias da torcida. Cansado da pressão dos atleticanos, Bernard chegou até a falar em encerrar a carreira. Quem vê o atacante hoje na Seleção Brasileira não imagina o árduo caminho que ele teve que percorrer até conseguir mostrar todo seu potencial. A primeira oportunidade com o técnico Dorival Júnior veio na lateral-direita. Depois o treinador passou a aproveitá-lo no setor ofensivo, onde Bernard se sentia muito mais à vontade. Mas até sair o primeiro gol, Bernard levou nada menos que 28 partidas. Foi com a chegada de Cuca em agosto de 2011 que as qualidades do atacante começaram se evidenciar. As vaias foram substituídas pelos aplausos e ele se tornou uma peça fundamental na conquista da Libertadores do ano passado, com atuações que despertaram a atenção do futebol europeu. “Está sendo uma sensação maravilhosa tudo isso o que estou vivendo. Estamos tendo uma grande oportunidade de fazer história em casa e gravar nossos nomes na história das Copas”, diz Bernard. “Tenho aproveitado todos os momentos para amadurecer e melhorar mais e mais o meu futebol”, completa o jogador do Shakhtar Donetsk, da Ucrânia.