Rocinha vive tensão 2 anos após sumiço de Amarildo

Estadão Conteúdo
19/07/2015 às 10:18.
Atualizado em 17/11/2021 às 00:59

Dois anos após o desaparecimento e morte do pedreiro Amarildo de Souza, os relatos de supostas arbitrariedades cometidas por policiais militares ainda não permitiram que os moradores da Favela da Rocinha, na zona sul do Rio, se reconciliassem com a Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Polícia Militar, mesmo com a saída dos 25 policiais acusados.

De acordo com moradores e pesquisadores, mesmo após a saída do comandante à época do crime, major Edson Santos, em agosto de 2013, a animosidade permaneceu. As reclamações vão desde abordagens violentas até tiros para o alto, como forma de provocar os traficantes do morro.

"Depois de um dia tranquilo, eles entram e fazem incursões, dando tiros para o alto. Quando tem uma incursão dentro da comunidade, os policiais normalmente agem com muita violência. Acabam se excedendo na forma de trabalhar. É tapa na cara. Eles acham que o morador deve ser tratado como suspeito", afirmou o líder comunitário Carlos Eduardo Barbosa.

A Coordenadoria de Polícia Pacificadora (CPP) da PM informou, em nota, que os policiais da UPP da Rocinha passaram por treinamento de conduta de patrulha, por instruções de tiro e por disciplinas voltadas à estratégia de aproximação entre moradores e profissionais de segurança pública. "O comando segue acreditando no processo de pacificação e investe nos projetos de prevenção na comunidade, em parceria com moradores e demais órgãos públicos", diz a nota, que não comenta as acusações dos moradores.

Segundo Barbosa, o Grupamento de Ações Táticas (GAT) da UPP, composto por policiais mais experientes e preparados para enfrentamentos com traficantes, é o maior alvo de reclamações. Ele afirmou que em novembro do ano passado teve a casa invadida pelo Bope e sua mulher, Ilma Maria dos Santos, de 40 anos, foi espancada. Barbosa registrou a ocorrência na 11.ª Delegacia. O inquérito ainda não foi concluído.

A Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa acompanha quatro casos de suspeitas de abusos policiais na Rocinha, posteriores a setembro de 2013. Um deles envolve o eletricista Diego Barros da Silva, de 26 anos, que diz ter passado a ser perseguido depois que sua então mulher, a caminho da delegacia, questionou a revista sofrida pela filha dela, de 16 anos, em julho de 2014.

"Minha mulher perguntou para ele (o PM): 'Tenho de trabalhar hoje ainda, será que vai demorar muito?' Quando ela perguntou de novo, ele falou 'para que você quer saber? Vocês não trabalham, vocês são todos vagabundos'. Esse policial, toda vez que me vê, até hoje, fica mexendo comigo, quer tirar foto minha." Um mês após o episódio, Silva diz ter sido espancado em um beco. "Eles me chutaram e bateram em mim com o bico do fuzil", declarou.

A presença da PM levou projetos sociais à Rocinha. Segundo a CPP, seis deles atendem a 550 crianças e adolescentes na favela, em atividades como lutas, dança e reforço escolar. A CPP divulga que 14.198 pessoas são beneficiadas por projetos de prevenção à criminalidade em favelas ocupadas pela PM. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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