Nelson Ned, um exemplo de vida para o Brasil

Hoje em Dia
07/01/2014 às 06:24.
Atualizado em 20/11/2021 às 15:11

Morreu domingo em São Paulo o mais famoso anão brasileiro, Nelson Ned. Primeiro dos sete filhos de um casal de estatura normal de Ubá, na Zona da Mata, foi o único dos irmãos a sofrer de nanismo, mas os três filhos do cantor e compositor integram uma das partes mais discriminadas da sociedade brasileira. Esse cantor e compositor mineiro de um metro e 12 centímetros de altura passou a maior parte da vida em São Paulo, onde seu corpo foi cremado.

É um exemplo de superação que dificilmente poderá ser imitado por dezenas de milhares de outros brasileiros adultos de pequena estatura.

“Foi muito difícil ser cantor brega e anão neste país”, afirmou Nelson Ned, em 2012. Já então, ele estava inativo há mais de dez anos, depois de sofrer um derrame cerebral, mas continuava muito lembrado por sucessos como “Tudo passará”, música que gravou em 1969 e teve mais de 40 regravações em vários idiomas.

Esse artista discriminado pelos intelectuais brasileiros por sua breguice – mas admirado pelo colombiano Gabriel García Márquez, ganhador do Prêmio Nobel de Literatura – teve 32 discos gravados em português e espanhol, com vendas superando 45 milhões de cópias. Chegou a cantar no Carnegie Hall e no Madison Square Garden, em Nova York, no auge da carreira.

Nelson Ned Junior, de 1,08 metro de altura, lamentou recentemente que o pai tivesse que viajar ao exterior para alçar-se na sua própria história. Ao contrário de pelo menos 20 mil brasileiros que sofrem de nanismo, Junior teve condições de estudar numa escola de jazz na Suíça, tornou-se baterista profissional e vive no México desde 2011, tendo trabalhado com artistas conhecidos, como Cesária Évora.

Ele parece ter escapado do destino dos anões que, em geral, são discriminados pela sociedade e têm poucas chances de emprego. Pode-se contar nos dedos da mão os que estão empregados no setor artístico brasileiro, geralmente atuando como atores cômicos de filmes ou em programas humorísticos de televisão.

O acesso ao mercado de trabalho tem sido tão difícil aos anões, como a acessibilidade deles aos telefones e banheiros públicos. Alguns não resistem à pressão, mesmo quando fazem sucesso na carreira, como o francês Hervé Villechaize – o anão Tattoo do seriado “Ilha da Fantasia” – que se suicidou em 1993, aos 50 anos.

Nelson Ned foi uma exceção. Presente ao velório, o cantor Moacyr Franco disse que o velho amigo tinha 12 anos quando cantou pela primeira vez em programa de TV. Mas, segundo ele, foi no exterior que Nelson Ned “era respeitado no nível que merecia”. De qualquer forma, também no Brasil milhões de pessoas viram em suas canções românticas uma forma de escapar da dura realidade da vida.

Seria menos cruel, se fossem menos discriminados os anões. Que são maltratados até na ficção, por Charles Dickens! 

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