Rogério Zola Santiago fala de sua inclusão no Comuc

Hoje em Dia
21/12/2015 às 09:17.
Atualizado em 17/11/2021 às 03:25
 (Wesley Rodrigues)

(Wesley Rodrigues)

Aos 60 anos, Rogério Zola Santiago ostenta, no seu vasto currículo, marcos como os nada menos que oito livros de poemas e de prosa publicados. Não bastasse, notabilizou-se também como crítico de artes e na vida acadêmica. Nada mais natural, pois, que abraçasse causas das mais diversas visando o fomento da cultura em Minas Gerais. No findar deste 2015, Rogério anuncia seu ingresso no Conselho Municipal de Cultura de Belo Horizonte, o Comuc.   A gênese de toda esta história pode ser localizada em 2013, quando Rogério foi convidado, pela artista plástica Simone Zanol, a fazer par com ela (Titular/Suplente). “Ela sabia que sou crítico de artes desde os anos 1980, quando atuei como Assessor Cultural da Embaixada dos EUA”, rememora ele, que passou a frequentar, pois, as assembleias, como ouvinte. Pouco depois, os demais membros assinaram um documento, oficializando-o. Rogério tornou-se, pois, Conselheiro Suplente das Artes Plásticas.   Na ocasião, lembra, conseguiram fazer passar duas moções na Conferência Municipal de Cultura, uma obrigando prédios a ter pelo menos uma obra de arte, “ levando-se em conta o tamanho do terreno. A outra, acrescenta, objetivava a Galeria de Arte do Mercado da Lagoinha.   Projetos   Agora, tendo registrado uma votação surpreendente para seu ingresso no Comuc, Rogério Zola acalenta sonhos diversos. Como os concernentes à Virada Cultural. “(A iniciativa) é o carro-chefe do marketing cultural da Prefeitura, hoje. Grandes verbas são movimentadas devido aos patrocinadores, mas incomoda, a alguns, a pouca participação de artistas locais. Eles têm direito de ser valorizados e remunerados como os de fora. Afinal, é função da cultura de nossa cidade mostrar o que temos de bom nas várias regiões. A meu ver, os conselheiros regionais do Comuc deveriam ser mais consultados sobre os talentos de suas regiões, seja o Barreiro, a Noroeste, a Pampulha ou a Sul, dentre outras”, opina ele, democrático.   Mas sim, Rogério sabe que pedras no caminho sempre vão existir. “É tudo lento nesses trâmites, em especial para a Sociedade Civil que não tem um Departamento Jurídico a seu dispor, e nem uma Comissão de Ética que a defenda. Assim, conselheiros civis devem se unir, segundo sugere um dos que trouxeram o Comuc a Minas – o vereador Arnaldo Godoy”.   Por que razão resolveu abraçar a causa da Literatura no Conselho Municipal de Cultura?   Para atuar em prol desta área profissional. Tenho oito livros de poemas e de prosa. Dentre eles, "Draga", de 1989, – ilustrado por Yara Tupinambá; "Fragatas e Silêncios", ilustrado por Inimá de Paula, em 1991; "Terra Brasilis", prosa poética, escrito em Boston e lançado pela Editora LÊ, em 2000, levado a vários países europeus pelo Balé Movimento, de Nora Vaz de Melo. Ganhamos o Primeiro Lugar no "Youth Festival", da Escócia. É tema palpitante: brasileiros obrigados a deixar o Brasil para aceitar subempregos na América. E "Oriente, Apocalipse Antecipado, Tudo Sobre a Solidão", – pela Mazza Edições, escrito em 2002 nos Emirados Árabes Unidos e no Vaticano. Em 2014, consegui o apoio dos membros do COMUC, cujo nome já fora trocado para Conselho Municipal da Política Cultural de Belo Horizonte para duas obras: a da jornalista Leslie Ceotto Deslandes, "Hinos de Vida", sobre luta e vitória em relação ao câncer; e o livro "Divã de Papel", obra da ex-menina de rua Maria de Jesus da Silva, a Zuza, que – mesmo tendo sido recusada pela Lei de Incentivo Municipal há alguns anos, acabou sendo, no Canadá, tema de Mestrado e Doutorado, e também na PUC Minas. Finalista do Jabuti, em São Paulo, a obra da Zuza foi lançada com enorme sucesso na Academia Mineira de Letras.     Tem algum ponto em particular sobre o qual quer se debruçar?   Quero lembrar o que disseram e escreveram o filósofo e crítico de arte Jean Paul Sartre, de posição "de esquerda ferrenha", e o escritor inicialmente de direita, o brasileiro Alceu Amoroso Lima: ambos afirmaram que "A arte e a cultura não podem ser atreladas a partidos e a interesses políticos, ou perderão sua função básica que é a Libertação do homem e da mulher". Por isso, creio, existem estes conselhos Culturais mundo afora, e mesmo os da Saúde, da Segurança, da Educação, que visam estrategicamente a inclusão da Sociedade Civil e seus cidadãos e cidadãs numa suposta ação "paritária" com os governos que, claro, têm forte aparato de ação profissional planejada. Os civis têm de lutar por suas ideias, ideais e Direitos, e sem aparato. Se tiverem de se defender, terão de pagar por uma assessoria jurídica, por exemplo.     É difícil entrar nesta luta em prol do Direitos Civis e sair vitorioso?   Não quero ser ingênuo: temos de trabalhar dentro da realidade dos Poderes que estão aí, eleitos e remunerados pelo Povo, mas nem sempre só pelo povo. Às vezes são, sim, em prol da população, mas também agem por meio de seu marketing cultural partidário que movimenta milhares nas ruas, o ano todo ou em dias especiais. É assim hoje nas democracias do Planeta: governos buscam satisfazer às massas. Sei que esta ideia de Conselhos veio da França e da América do Norte, e as adaptamos aqui. Porém, há de ser aprimorada a relação do funcionário público bem-preparado e tecnicamente correto, alguns atuantes há décadas na esfera governamental, com os Conselheiros Civis bem-intencionados, trabalhando de graça no meio da sua tarde útil, mas que em geral não possuem tal fausto técnico e acabam por incomodar. São bons, devo dizer, os Centros Culturais Regionais e os Centros de Cultura da PBH, ativos – mas, ainda carentes. A demanda é imensa. Fui a reuniões com a Caroline Craveiro e grupo da PBH. É uma funcionária-modelo, de ampla ação e notável savoir-faire. Útil pela boa vontade em promover o que governos querem, mesclando conhecimento humano à necessidade diplomática. Fui Assessor Cultural da Embaixada dos EUA e sei do que falo. Assim, hoje, realisticamente, povo e governo buscarão formas de obter o que querem - e a Liberdade já deve ter ficado em segundo plano. E eu até aceitaria – caso, economicamente, cidades, estados e países se viabilizassem em prol de maior equilíbrio entre as classes sociais.     Em que categoria você se encaixa como ser humano político dentro da comunidade mineira?   Sou detentor de Mestrado nos EUA. Falo seis línguas, inclusive o grego, pois morei lá. Não tenho a cultura de eruditos como Fábio Lucas e Maria José de Queiroz, meus mestres, e que deveriam (meu conselho aos organizadores) ser convidados para a próxima versão do bom FLI – Festival Literário Internacional de Belo Horizonte, promovido pela PBH/FMC. Na organização, dentre vários, Fabiola Farias, Diretora de Bibliotecas, e Leônidas Oliveira, Presidente. E da sociedade civil, citarei a Editora do Hoje em Dia, a escritora Leida Reis. Os escritores Fábio e Maria José, em seus quase 80 anos, são mineiros candidatos à Academia Brasileira de Letras. Urge que sejam valorizados. Tenho 60 anos. Estou na Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais. Não posso dizer que não pertença à elite cultural. Porém, sendo sobrinho-neto do ministro Gustavo Capanema, que enviou a pianista Magdalena Tagliaferro pelo Brasil afora tocando piano erudito para o povo que a aplaudia de pé, emocionado, no Governo Getúlio Vargas, afirmo que pessoas de visão podem fazer política e abrir atalhos, mas, evitando que outros caminhos se fechem devido a preconceitos, animosidades e resistências. A luta é temerosa, e alguns desistem: eu, não. Por isto, entrei para estes Conselhos Municipais e Grupos em prol da Educação, seja por meio da implementação da Leitura e da Literatura para crianças e adolescentes (a PBH/FMC faz isto), ou do simples apoio que jamais nego: uma lúcida revisão, uma orientação sobre edição e sobre a divulgação de obra sem o selo oficial. Há de ser valorizado o bom escritor chamado "Independente", ou seja, sem o aval de uma editora que distribua seus livros em nível nacional e lhe marque uma entrevista no Jô (Soares). As leis de incentivo acabaram por restringir ao mesmo tempo em que viabilizam, já disse Fernanda Montenegro, e seus critérios de seleção têm de ser reavaliados. Sensível ao fato e a esta necessidade é o senhor Murilo Junio, um gentleman na PBH.     Como transcorreu a votação na FMC - Fundação Municipal de Cultura, no dia 26 de novembro de 2015?   84 foram votar em minha pessoa. Meus votos conferidos: 76, votaram em dia útil, pela manhã, deixaram de trabalhar, e não era voto obrigatório. Sei que quebrei, pela segunda vez na FMC, o recorde nacional em número de eleitores em eleição de representantes voluntários da Sociedade Civil para atuar com funcionários governamentais. Os meus, para minha alegria, eram de todas as classes sociais, alguns ex-alunos, educadores, mestres e doutores, membros do Movimento Negro, escritores, jornalistas, artesã de Araçuaí que mora em BH agora, e senhoras das Academias de Letras. Todos de áreas pelas quais passei. "Sua presença fortalece a formulação da política pública de Cultura de Belo Horizonte", escreveu o presidente (da FMC) Leônidas Oliveira aos participantes da "Eleição de Representantes da Sociedade Civil para Composição do Grupo Executivo do Plano Municipal de Leitura, Livro, Literatura e Biblioteca". Entraram também, com seis votos, Marco Túlio Damasceno, que coloca bibliotecas em suas borracharias, e uma senhora bibliotecária, Dona Denise, com quatro votos. Ela já participava das reuniões como ouvinte. (Rogério frisa que os dados referentes a votos foram retirados do DOM - Documento Oficial do Município, do dia 2 de dezembro).     O que aconselha, como Conselheiro Civil eleito três vezes nos últimos anos, aos Governos do futuro?   Que sejam mais atentos aos clamores dos eleitos, praticando a observação, a ouvidoria, a escuta delicada de seus humildes, mas atentos representantes civis. Mesmo que milhares aplaudam festas e atividades circenses, outros milhões estão na calada querendo consideração e alimento. Por exemplo, se a população não quer que uma árvore seja cortada e se movimenta para tal, se ela se organiza pelo não-corte, por favor - não cortem a árvore! A natureza não precisa combinar com a obra feita pelo homem! A obra de arte não precisa combinar com o sofá! Se querem Conselhos Civis, ouçam-nos, pois merecemos ser ouvidos. É de boa estratégia. Civis também são eleitores em maioria, e assistem-lhes do auditório que observa as falhas e as vitórias dos dirigentes, esperançosos de que lhes sejam dadas chances de uma vida digna.     Considerações finais, Rogério Zola Santiago?   Peço aos integrantes da Sociedade Civil, aos cidadãos não-funcionários da PBH, que, se tiverem disponibilidade de tempo e de espaço, se candidatem a um Conselho Municipal. Não importa seu partido, seu time de futebol, sua ideologia. Se não estivermos lá dentro, não poderemos atuar, fiscalizar, aconselhar, sugerir mudanças e melhorar decisões do governo em relação à população. Inscrevam-se, centenas de ex-alunos e ex-alunas da Comunicação, da Publicidade, das Relações Públicas, da Administração de Empresas, da Opinião Pública, do Inglês, do Português, da Escola IDIOM, do ICBEU, do Instituto Alcinda Fernandes, colegas da PUC e da UFMG; profissionais e amadores da Dança, das Artes Plásticas, da Cultura Popular, da Artes Visuais, Cinema, Teatro, Esportes e Literatura; escritores e acadêmicos; contadores de estórias; poetas e trovadores - moradores das várias regiões da cidade: lembrem-se de que toda participação é um início com possibilidade de realização do Bem Comum que inclui o futuro de seus descendentes.

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