Anvisa vai reavaliar quatro substâncias químicas em lavouras com a incidência de câncer

Iêva Tatiana - Hoje em Dia
08/04/2015 às 08:09.
Atualizado em 16/11/2021 às 23:33
 (Frederico Haikal )

(Frederico Haikal )

A relação de cinco tipos de agrotóxicos com a incidência de cânceres será reavaliada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), responsável pela liberação do uso desses produtos no Brasil. No fim do mês passado, uma publicação da Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (Iarc, na sigla em inglês) – órgão da Organização Mundial de Saúde (OMS) – mostrou a classificação da carcinogenicidade das substâncias tetraclorvinfós, parationa, malationa, diazinona e glifosato.

O assunto vem repercutindo em território brasileiro, principalmente, depois que o Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva (Inca) reproduziu um material afirmando que quatro desses agrotóxicos são liberados no país (glifosato, malationa, diazinona e parationa).

A discussão ganhou ainda mais notoriedade com a aproximação do Dia Mundial de Combate ao Câncer, comemorado nesta quarta-feira (8).

Medidas

Por meio de nota, a Anvisa afastou o alarde criado em torno da questão e afirmou que é preciso aguardar a publicação da monografia de cada ingrediente ativo apontado pela Iarc, “na qual os detalhes da avaliação dos estudos e resultados utilizados como base para a classificação adotada poderão ser avaliados e utilizados na reavaliação desses agrotóxicos pela Anvisa”, diz o texto.

Para reavaliar as substâncias, a agência deverá seguir procedimentos administrativos. Sobre os quatro tipos utilizados no país, a agência informou que o glifosato é o mais utilizado na agricultura e na silvicultura, em áreas urbanas e domésticas. “Para o prosseguimento da reavaliação do glifosato e dos demais agrotóxicos cuja revisão está prevista na Resolução de Diretoria Colegiada, a Anvisa firmou um contrato com a Fiocruz. A instituição ficou responsável pela elaboração das notas técnicas para cada um dos ingredientes ativos, as quais devem ser revisadas pelo corpo técnico da Anvisa antes de serem publicadas”, completa a nota.

Repercussão

Em Minas, a possível ameaça dos agrotóxicos relacionados pela Iarc também despertou a atenção da Secretaria de Estado de Saúde (SES). De acordo com a diretora de Saúde do Trabalhador, Marta de Freitas, uma comissão formada pela SES, pela Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento, pelo Instituto Mineiro de Agropecuária, Emater, Embrapa e Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Minas Gerais tem a missão de verificar a qualidade dos alimentos e a aplicação de agrotóxicos nas lavouras.

“Temos trabalhado na tentativa de combater a aplicação desses produtos, mas temos dificuldades, por causa do uso indiscriminado. Mesmo os que já foram proibidos no Brasil entram aqui de forma ilegal”, afirma Marta, destacando que a região do Triângulo é a que mais utiliza a substância, enquanto a Noroeste é que mais registra casos de intoxicação.

Postura otimista diante do diagnóstico ajuda a manter sistema imunológico fortalecido

O Dia Mundial de Combate ao Câncer não é uma data oficial, criada pelo Inca ou pela OMS, segundo o instituto, mas, ainda assim, tem grande importância para alertar a população sobre a importância de adotar hábitos de vida saudáveis e de conhecer melhor a doença.

O oncologista Alexandre Chiari, da Oncomed BH, ressalta que, além da alimentação balanceada e da prática regular de exercícios, é preciso conscientizar as pessoas sobre a necessidade de manter uma postura otimista diante de um diagnóstico de câncer, seja ele de qual tipo for.

“Isso é fundamental, porque o estado psíquico positivo mantém o sistema imunológico mais ativado, o que evita a possibilidade de desenvolver doenças”, diz Chiari.

Equilíbrio

A dona de casa Denise Paiva, de 38 anos, venceu o câncer de mama duas vezes, em 2004 e em 2011, mas confessa que nem sempre foi possível manter a confiança, mas reconhece que ela contribui para a recuperação e para suportar o tratamento.

“Tinha dias que eu achava que não ia aguentar o tratamento, mas penso muito nos meus filhos e nos meus pais, porque sou filha única. Além disso, participei de grupos de apoio que me ajudaram muito e ainda ajudam. Hoje, sou moderadora de um deles”, conta Denise.

Outra peça fundamental nos dois momentos que Denise enfrentou foi o marido, Robson, que sempre esteve ao lado dela. “Sei que muitos maridos correm, mas o meu, não. Estamos casados há 20 anos e ele está comigo para tudo”, afirma.

Evolução

O oncologista Alexandre Chiari lembra que a evolução da medicina vem garantindo melhores resultados no diagnóstico e no tratamento do câncer, que não é mais considerado uma “sentença de morte”, como antigamente.

Atualmente, os médicos enfatizam dois tipos de prevenção: primária e secundária. No primeiro caso, estão incluídas medidas que visam reduzir a incidência da doença. A principal delas é a alimentação saudável, prática de atividades físicas e não fumar. No segundo, está o diagnóstico precoce.

 

 

Tratamento de adolescentes requer cuidado especial

As dificuldades de lidar com um diagnóstico de câncer podem ser agravadas se a doença ocorrer na adolescência, fase de mudanças no corpo e na personalidade. O diretor do Departamento de Oncologia Pediátrica do Hospital Santa Marcelina, em São Paulo, e presidente da Associação para Crianças e Adolescentes com Câncer (Tucca), Sidnei Epelman, lança nesta quarta-feira (8) o livro “Oncologia no Adolescente”, que traz luz à questão.

Segundo ele, tratar o câncer em pacientes de 12 a 19 anos tem particularidades que precisam ser levadas em consideração por médicos e por hospitais e clínicas, geralmente mal equipados para acolher pessoas nessa faixa etária.

“Nessa fase, não somos mais crianças, mas ainda não somos adultos. Muitos profissionais não sabem lidar nem com pacientes sem câncer, imagina com os que têm. Temos que chamar muita atenção para isso, não só no Brasil como no mundo, para oferecer uma chance melhor de recuperação”, ressalta Epelman.

De acordo com ele, o impacto da doença e do tratamento é, sem dúvida, muito maior nos jovens, que geralmente têm dificuldades para lidar com tantas mudanças simultâneas.

“De repente, além de todas as coisas que começam a acontecer no corpo, ainda vem a queda do cabelo, por exemplo. Precisamos estar preparados para proporcionar um acolhimento adequado, com atendimento multiprofissional, que conte, também, com psicólogos”.
 

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