Figuras de pai e herói polarizam eleição em Minas

Aline Louise - Hoje em Dia
11/05/2014 às 07:34.
Atualizado em 18/11/2021 às 02:31
 (Flávio Tavares)

(Flávio Tavares)

O pai e o herói. Serão esses os dois perfis de candidatos que devem ser personificados pelos nomes que polarizam a disputa ao governo de Minas nas eleições deste ano.   Na avaliação do especialista em marketing político Daniel Machado, Pimenta da Veiga (PSDB) deve encampar o discurso do pai, do homem experiente que vai cuidar da população, dando continuidade ao projeto de Aécio Neves e Antônio Anastasia. Já Fernando Pimentel (PT) irá investir na indicação dos problemas do estado e se colocar como o herói capaz de solucioná-los, representando a mudança.    Esse tom pôde ser notado no primeiro confronto, mesmo que indireto, entre os dois pré-candidatos, na última quinta-feira (8), no 31º Congresso Mineiro de Municípios, em Belo Horizonte. Em palestra a uma plateia de prefeitos, Pimenta se concentrou em atacar o governo da presidente Dilma Rousseff e ressaltar os feitos das gestões tucanas no estado. Já Pimentel destacou o crescimento da insegurança em Minas como um dos itens que devem ser tratados de forma prioritária caso ele assuma o Palácio Tiradentes.    Segundo Daniel Machado, Pimenta e Pimentel já têm imagens consolidadas, tanto no que diz respeito às suas trajetórias políticas, quanto no visual, que não deve sofrer grandes alterações. Para ele, o que deve ser elaborado é o discurso de cada um. Daniel Machado explica que há quatro arquétipos de políticos facilmente reconhecidos pelos eleitores e trabalhados nas campanhas.    O pai, diz ele, é a voz da experiência, o cuidador, citando como exemplo emblemático o presidente Getúlio Vargas. Já o herói é aquele que soluciona problemas, representa coragem e geralmente aparece em momentos de crise. Aécio Neves, em sua primeira eleição no estado, teve a candidatura construída sobre este norte. O líder-charme tem boa oratória, elegância e costuma ter grande identidade com as eleitoras, como foi Juscelino Kubitschek. E, por fim, o homem simples, aquele que sai das massas para liderá-las, como o ex-presidente Lula.    “Esses arquétipos já estão no imaginário das pessoas. Através dessas imagens toda postura, todo gesto é assimilado, reconhecido pelo eleitor”, argumenta o especialista.    Pimenta da Veiga, como candidato do governo, não deve investir no discurso do herói, que é combativo, analisa Daniel Machado. “Ele representa continuidade, a ideia de que tudo vai bem e pode melhorar, então, deve prevalecer a imagem do pai, que cuida”, diz. Já Pimentel, na oposição ao Palácio Tiradentes, deve adotar o discurso do combate, propondo mudança, rompimento com a estrutura atual. “Quando ele fala que Minas precisa de um choque de gente, reforça essa imagem do herói”, destaca.    Flexibilidade   Ainda que sobressaiam as imagens do pai e do herói, ambos os candidatos terão que ter flexibilidade para atingir o eleitorado.   “Tem uma quinta imagem que o eleitor está buscando, a do gestor, que carrega um pouco de cada um dos arquétipos. O candidato tem que demonstrar capacidade para cuidar, já que questões como segurança e saúde estão entre as prioridades para as pessoas. Mas é preciso também saber lidar com a economia, com a crise que se apresenta, o que pega um pouco as características do herói. Tem ainda que saber dialogar e ter proximidade com o eleitor, como o homem simples”, pondera Machado.   Candidato se apoia em três pilares para fazer bonito nos palanques    Um candidato precisa ter uma série de predicados para se comunicar bem com o eleitor. E até que ele esteja preparado para subir no palanque, há muito trabalho.    O especialista em marketing político e propaganda eleitoral Adriano Mariano, ex-gerente da conhecida Chico Santa Rita e Associados e atual diretor da Machado Inteligência Política, explica que a construção da imagem do candidato se baseia em três pilares. O primeiro é a própria figura do político. “Uma campanha começa com um bom nome. Ele precisa preencher pré-requisitos de moral, que são valores para a sociedade”.    Depois, o candidato deve passar por um treinamento para saber lidar com a mídia, o que os especialistas chamam de Media Training. “Saber falar bem na TV é primordial. O candidato tem que saber dialogar com a câmera. Não pode ser monótono, nem apresentar algo que não seja natural”, pontua.   Para Adriano, nem Pimenta da Veiga nem Fernando Pimentel são homens do show business, a indústria do espetáculo, e necessitam de poucos ajustes por serem experientes.    Outro aspecto importante é a construção do discurso, que deve ser coerente com as bandeiras do candidato e ter identidade com o eleitor. “Não se trata de maquiar a realidade. Mas, como no Brasil, o período eleitoral é curto, não se pode ter um debate ideológico aprofundado. O discurso precisa ser bem montado para consumo da população”, pondera o especialista.    E a mudança deve permear todos os discursos este ano. É o que o eleitor quer, segundo pesquisas qualitativas recentes feitas pelo Ibope. “Pimenta tem o desafio de, apesar de representar a continuidade, também trazer o signo da mudança. Já para Pimentel, estar na oposição o favorece neste sentido, mas o PT está muito desgastado com os escândalos. Acredito que ele vai ter uma postura mais personalista, em detrimento do partido”, conclui. l    Marqueteiros guardam estratégias a sete chaves   Os marqueteiros que vão coordenar as campanhas de Pimenta da Veiga e de Fernando Pimentel já foram definidos. O tucano vai ser assessorado por Cacá Moreno, que trabalhou com Marcio Lacerda em sua trajetória até a Prefeitura de Belo Horizonte em 2012. Pimentel será orientado por Chico Mendez, que participou da campanha do opositor ao governo venezuelano em 2012 Henrique Capriles.   Procurados pela reportagem do Hoje em Dia, os dois profissionais foram reticentes e não deram detalhes sobre as estratégias de campanha. Cacá apenas adiantou quais são as características de Pimenta que devem ser exploradas. “A gente vai poder trabalhar muito a questão da sinceridade na forma como ele fala, além do jeito mineiro. Vamos destacar também a experiência administrativa e a biografia política e técnica dele, como o responsável por universalizar a telefonia celular no Brasil”.   Chico Mendez destacou que Pimentel tem um currículo e atributos sólidos. “A imagem que será trabalhada é do homem que se faz entender e sabe gerir. Sua capacidade de articulação também será explorada. Ele é conhecido pelo diálogo fácil, a habilidade para conversar tanto com empresários quanto com as classes mais populares, além de ter um bom trânsito em Brasília”.    Nenhum dos dois candidatos deve fazer grandes transformações em seus visuais. Ambos já apresentam imagens bem aceitas, na avaliação do especialista em marketing político Adriano Mariano. “É diferente do Lula, por exemplo, em que foi preciso colocar a essência de um metalúrgi-co num terno Armani”.    PERFIS   João Pimenta da Veiga Filho - Pré-candidato tucano ao governo de Minas Idade: 66 anos Formação: advogado   Se elegeu deputado federal pela 1ª vez aos 31 anos, pelo extinto MDB, que reunia lideranças que combatiam a ditadura no país. Depois filiou-se ao PMDB.    Atuou no movimento das Diretas Já, mas com a derrota da Emenda Dante de Oliveira apoiou a campanha de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral.    Participou da Assembleia Constituinte e foi um dos fundadores do PSDB.   Foi prefeito de Belo Horizonte de janeiro de 1989 a abril de 1990, quando deixou o cargo para disputar o governo de Minas.   Na administração da capital, desenvolveu o Propar, programa de participação popular para a escolha de obras públicas pela cidade.   Coordenou a campanha que elegeu Fernando Henrique presidente da República.   Foi reeleito deputado federal em 1998 e assumiu o Ministério das Comunicações no ano seguinte.    Hoje, preside o Instituto Teotônio Vilela de Minas Gerais.    Fernando Damata Pimentel - Pré-candidato do PT ao governo de Minas Idade: 63 anos Formação: economista   Um dos fundadores do Partido dos Trabalhadores, iniciou a militância política nos movimentos estudantis de 1968 contra a ditadura militar. Chegou a ser perseguido e preso de 1970 a 1973.    Depois atuou como professor da UFMG, além de ter participado de entidades e classe de professores e economistas.    Em 2000, foi eleito vice-prefeito de Célio de Castro (PSB), e a partir de abril de 2003 assumiu o cargo de prefeito em razão do afastamento do titular.    Nas eleições de 2004, com 68,5% dos votos válidos, tornou-se o primeiro prefeito na história da capital mineira eleito no primeiro turno.    Em sua gestão foi instituído o Orçamento Participativo municipal, no modelo que é hoje.    Foi apontado pelo site inglês Worldmayor como o oitavo melhor prefeito do mundo.   Em 2011, foi nomeado ministro pela presidente Dilma Rousseff. Comandou a pasta do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) até 12 de fevereiro deste ano, quando se desincompatibilizou.

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