(Editoria Arte)
O quadro mostrado pela pesquisa Ibope, da terça-feira (26), seguido do primeiro debate entre sete dos presidenciáveis na TV Bandeirantes, e o levantamento CNT/MDA de intenção de voto, divulgado nessa quarta-feira (27), determinam uma nova fase da corrida ao Palácio do Planaltto. O quadro que surge da movimentação dos candidatos segundo a preferência dos eleitores exigirá mudanças de estratégias das campanhas de Dilma Rousseff (PT) e de Aécio Neves (PSDB), além de maior consistência nas propostas de Marina Silva (PSB), que deverá lançar seu programa de governo nesta sexta-feira (29). A avaliação é de cientistas políticos ouvidos pelo Hoje em Dia.
Para a coordenadora do Observatório das Eleições da UFMG e professora de História da instituição, Regina Helena Alves, o esperado é que o debate entre os candidatos, a partir de agora, seja “mais qualificado”, com o aprofundamento das propostas.
“Vamos sair agora dessa argumentação pobre, não propositiva. Quem conseguir mostrar melhor o programa que quer para o Brasil vai levar esta eleição presidencial”, afirma a professora.
A cientista política da UFMG Helcimara Telles acredita que a “onda Marina” colocou em xeque a tradicional polarização entre PT e PSDB e motivou tentativas reforçadas de petistas e tucanos de ressaltar os feitos de seus governos e apontar as falhas dos adversários.
Surpresa
“O Instituto Ibope revelou que, pela primeira vez, desde 1994, o quadro eleitoral foi alterado, ainda que momentaneamente, com indícios de redução da polarização entre o PT e o PSDB. Tanto um partido quanto o outro havia se preparado para uma disputa na expectativa que a competição mantivesse o pressuposto das demais eleições, decididas em um segundo turno entre estes dois partidos”, diz.
“Neste debate, Marina acabou sendo espremida pelas estratégias do PT e PSDB, que parecem querer trazer novamente esta polarização. De um lado, porque o candidato Aécio necessita novamente se colocar como alternativa, de outro lado porque, aos olhos do Planalto, é mais fácil “combater” uma proposta que já é sua conhecida de outras ocasiões”, acrescenta.
Tendência
Segundo Regina Helena Alves, o movimento de alta de Marina Silva já é uma tendência, tendo como base o não crescimento das intenções de voto de Aécio nas últimas pesquisas eleitorais. “A queda de Aécio foi consistente. É um indício de firmeza do nome de Marina”, comenta.
A candidata do PSB torna-se, então, o novo alvo de ataques de Dilma e dos tucanos. “Marina deve preparar melhor o seu plano de governo, ao menos detalhando-o de forma mais realista e como irá operacionalizá-lo em um Congresso com o qual terá que lidar. O debate demonstrou que os seus adversários não a pouparão de questionamentos. E a eleição apenas começou”, avalia Helcimara Telles.
A pesquisa CNT/MDA seguiu a tendência apontada no levantamento realizado pelo Ibope na terça-feira. Segundo o Ibope, a presidente Dilma Roussef tem 34% das intenções de voto contra 29% de Marina Silva e 19% do senador Aécio Neves.
Ainda de acordo com o Ibope, em um eventual segundo turno entre as duas candidatas mais bem colocadas, Marina ganharia de Dilma com nove pontos percentuais à frente - 45% contra 36%. Se a disputa do segundo turno for entre Dilma e Aécio, a atual presidente seria reeleita, com 41% dos votos contra 35% do ex-governador de Minas Gerais.
Tucano quer recuperar votos e petista vai intensificar exibições
Em Minas, os tucanos confirmam que Aécio Neves deverá se ater agora à região Sudeste para reforçar os palanques regionais e recuperar votos dos grandes centros que migraram para a candidata do PSB, Marina Silva, e os petistas reafirmam que vão intensificar a exibição das realizações do governo federal. Ambos os lados creditam a comoção pela morte trágica do ex-presidenciável Eduardo Campos (PSB) como fator que ainda influencie os entrevistados das pesquisas. No campo socialista, a análise é de situação de “conforto”.
Para o presidente do PT, deputado federal Odair Cunha, as pesquisas CNT/MDA e Ibope são “retrato de momento”. “As pessoas estão começando agora a conhecer as propostas e é natural que haja uma intensificação da campanha, mas não por causa de levantamento de intenção de voto ou debate, e sim pelo tempo natural da corrida presidencial”, afirma. “Vamos insistir nas ações do governo federal, usar o espaço da Dilma na TV e no rádio para mostrar como o país melhorou”.
Virada
O coordenador-geral da campanha de Pimenta da Veiga (PSDB), ex-secretário Danilo de Castro, conhecido como “braço direito” de Aécio, acredita na virada tucana nas pesquisas a partir do foco no Sudeste. “Aécio foi bem no debate na TV e nas pesquisas. Assim que passar a comoção que carrega Marina, ele vai mostrar o que tem para oferecer ao país. Ele tem que tirar os esforços do Nordeste e concentrar seus trabalho em Minas Gerais e em São Paulo”.
Na pesquisa Ibope divulgada na terça-feira, Pimenta está 14 pontos atrás do petista Fernando Pimentel na disputa pelo governo estadual e a presença de Aécio é uma tentativa de alavancar o ex-ministro de FHC.
Democrático popular
Pimentel também se manifestou sobre os levantamentos CNT/MDA e Ibope, dizendo que o eleitor brasileiro quer ser governado pelo “campo democrático popular”, representado, de acordo com ele, por Dilma e Marina.
“Acho que o maior prejudicado, até este momento, é o senador Aécio Neves, que ficou em terceiro lugar, e não vejo muita perspectiva dele sair desta posição. Quem está perdendo, neste momento, é a candidatura do campo conservador, que mal chega a 25% das intenções de voto do país. As outras duas somadas já têm mais de dois terços das intenções de voto”, observa. “Agora vamos ver se o povo brasileiro quer continuar no rumo seguro da presidente Dilma ou se quer fazer algum tipo de mudança com a candidata Marina Silva. Eu vou trabalhar pela Dilma”.
Pimenta da Veiga não comentou a pesquisa e o debate. Já Tarcísio Delgado, candidato ao Palácio Tiradentes pelo PSB, diz que Marina prova que “vai ficar no páreo até o final”. “Após a tragédia do Eduardo Campos, o pessoal estava achando que ela ia subir e depois iria cair. A situação é boa. A pesquisa (Ibope) saiu antes do debate, né? Acho que se fosse divulgado depois, ela estaria melhor ainda. Ela foi rigorosamente melhor que todos os candidatos”.