Católicos no Congresso

18/06/2016 às 06:00.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:56

Aristóteles Drummond*

Hoje só se fala em bancada evangélica, quando o país é majoritariamente católico. No passado, a Igreja liberava para a militância política os clérigos. 

No Rio, um padre, Olímpio de Melo, não só foi um eficiente prefeito, como exerceu forte influência política. E os católicos tinham seus deputados e vereadores, como, também na capital fluminense e naquele Estado, o professor Gladstone Chaves de Melo e Eurípedes Cardoso de Menezes. 

São Paulo elegeu senador o padre Calazans e deputado, o padre Godinho, grande orador e escritor, que viveu muitos anos em Roma. E Pernambuco teve o monsenhor Arruda Câmara, um dos mais atuantes do Congresso. 

Alguns cardeais se destacaram pela vigilância na defesa de princípios éticos e morais católicos, vetando nomes que defendiam teses ou ideologias combatidas pela Igreja. Um deles foi o cardeal Jaime de Barros Câmara, o primeiro a subir nas favelas cariocas. 

Minas teve o arcebispo de Diamantina, D. Sigaud, de presença nacional em seus pronunciamentos; Rio Grande do Sul, D. Vicente Scherrer, que abraçava com fervor a causa democrática. D. Helder Câmara, quando padre, foi militante na Ação Integralista Brasileira, que reunia nomes do catolicismo, como Plínio Salgado (autor do livro “A Vida de Cristo”), Alceu de Amoroso Lima, Jackson de Figueiredo e outros. 

Atualmente, são poucos os deputados e senadores efetivamente compromissados com a Igreja, como é o caso de Hugo Leal, do Rio de Janeiro, formado em seminário franciscano, Lael Varela e Bonifácio Andrada, em Minas, onde a esquerda católica tem seu representante no deputado Odair Cunha. 

Claro que nada impede alianças com políticos de outras crenças, como, aliás, têm defendido enfaticamente os três últimos papas, que pregam a união do mundo cristão.

Essa presença ostensiva na política teve de positivo o conhecimento do pensamento dos religiosos pelas suas opções partidárias e posições diante do debate nacional. O afastamento deles, por orientação superior, não impede que clérigos tenham suas preferências, mas sempre passíveis de interpretações não muito claras. Um afrouxamento que se reflete até mesmo no abandono dos sinais visíveis nas roupas, o que, inclusive, contraria o Código Canônico em vigor. 

Este é um fenômeno da América Latina, uma vez que, na Europa, freiras e padres, com suas indumentárias próprias, fazem parte da paisagem urbana. A população religiosa é composta, por princípio, de cristãos em sua maioria e muitos misturam crenças. 

Na Constituinte de 1988, houve a tentativa da retirada do nome de Deus da Carta, o que os cristãos e judeus impediram. E esta presença sempre será positiva, como foi na Itália, no final dos anos 1920, quando o papa Pio XI, com apoio da forte bancada católica, conseguiu do então governo o retorno do crucifixo nas salas de aula das escolas e o Acordo de Latrão, que criou o Estado do Vaticano.

Fazer política não é pecado e pode até ser recomendável. Mas, de maneira transparente.

(*) Escritor

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por