EXPECTATIVAS E INCERTEZAS

25/04/2016 às 17:32.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:06


O que leva a economia de um país a paralisar? Por que a economia brasileira está estagnada e, desde 2014, passou a apresentar taxas negativas de crescimento? Por que assistimos impotentes ao rápido avanço das taxas de desemprego numa economia que transita da recessão para a depressão?
Do lado real de nossa economia, os fatores determinantes do crescimento estão presentes na atualidade, em intensidade e qualidade indispensáveis, embora com pontos de estrangulamentos detectáveis.

 A nossa base de recursos naturais é ampla e diversificada, diferenciando o Brasil na economia globalizada e favorecendo a estruturação de cadeias produtivas poderosas a partir de vantagens comparativas e competitivas para um crescimento econômico mais acelerado. Avança e progride a nossa formação de capitais intangíveis (humano, intelectual, institucional, empreendedorismo, etc.) necessários à realização de um processo de desenvolvimento sustentável no país, a partir de investimentos na qualidade de vida e bem estar de nossa população. Muitas vezes esses potenciais se encontram latentes ou ofuscados por ciclos esporádicos e inconsistentes que abafam nossos processos de crescimento econômico e de desenvolvimento sustentável, mas não é pela sua ausência que estamos fracassando.

O que estaria, pois, inibindo a nossa expansão econômica e induzindo o empobrecimento dos grupos sociais mais desalentados? Ora, como já dizia Keynes em 1936, as nossas principais decisões econômicas de consumir, de produzir e de investir dependem de nossas expectativas de médio e de longo prazo e do prognóstico mais provável sobre o futuro que possamos formular. Dependem também da confiança com a qual fazemos esse prognóstico. Se esperarmos grandes mudanças e transformações, mas não tivermos certeza quanto à forma com que elas possam ocorrer, nosso grau de confiança será, então, fraco.

 Assim, se a economia passa por um período de relativa estabilidade nas regras do jogo que não se contrapõem aos imperativos de uma economia de mercado, e sendo esperado que persistam, as expectativas podem simplesmente adaptar as tendências observadas no passado para construir uma distribuição de probabilidades sobre o estado futuro da economia. Nesse contexto, não sabemos apenas o que sabemos, mas temos boas chances de saber o que não sabemos. E as expectativas se organizam coerentemente de forma adaptativa.

 A situação muda completamente quando através de um conjunto de intervenções governamentais na economia permeadas por ações voluntaristas inconsistentes e erráticas que têm a capacidade de desestruturar os instrumentos econômicos e os mecanismos institucionais de incentivos paradigmáticos à iniciativa privada e ao comando e controle das políticas públicas. Nesse contexto, não sabemos o que não sabemos e as instituições e agentes econômicos passam a se embrenhar num campo dominado por incertezas, sequenciais e crescentes, que culminam na total perda de rumo.

 Mesmo se considerarmos todas as informações disponíveis sobre as variáveis econômicas prevalecentes, não conseguiremos formar expectativas racionais sobre o que fazer porque as incertezas sobre a evolução das políticas econômicas também tornam precárias as bases sobre as quais temos que fazer os nossos cálculos sobre as receitas e as rendas esperadas, assim como sobre as condições de empregabilidade. Enquanto isto, a crise econômica vai se aprofundando e passando à margem das imensas potencialidades de desenvolvimento da economia brasileira. Os recursos escassos e os fatores de produção se tornam ociosos; a demanda agregada se encolhe; a perda da qualidade de vida avança sobre as famílias dos trabalhadores.

 Não se trata, contudo, do fracasso da economia brasileira por falta de esforço e energia de sua população. Mas do fracasso de políticas econômicas construídas sobre os alicerces de ideologias historicamente desatualizadas e sobre os interesses tristes e mesquinhos de partidos políticos com elevada propensão a se corromperem. A economia e a sociedade brasileira clamam, pois, por grandes transformações que tenham intensidade suficiente para reverter expectativas sombrias e reduzir incertezas avassaladoras.

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