Teatro

Paulo Betti resgata antepassados e conta sua história em apresentação única no Sesc Palladium

Rodrigo de Oliveira
rsilva@hojeemdia.com.br
18/11/2022 às 18:54.
Atualizado em 18/11/2022 às 19:16
“Autobiografia Autorizada” tem apresentação única em BH neste domingo (20), às 19h, no Sesc Palladium (Mauro Khouri)

“Autobiografia Autorizada” tem apresentação única em BH neste domingo (20), às 19h, no Sesc Palladium (Mauro Khouri)

"Eu não sabia que escrevia", afirma o ator Paulo Betti ao explicar o processo criativo que deu origem ao monólogo “Autobiografia Autorizada”, que tem apresentação única em Belo Horizonte neste domingo (20), às 19h, no teatro Sesc Palladium.

Na peça, o ator de 70 anos (47 de carreira) apresenta ao público, em forma de ficção, fatos marcantes da sua juventude em Sorocaba, no interior de São Paulo, como a esquizofrenia do pai e a origem italiana do avô. O espetáculo nasceu em 2015 e já passou por diferentes países e cidades do Brasil.

"No início, convidei um grande amigo para escrever a peça. Porém, notei um certo descompasso, principalmente em relação à classe social. Ele escreveu que eu tinha uma empregada doméstica, quando, na verdade, eu era filho de um servente de pedreiro e de uma empregada doméstica. Percebi que havia uma necessidade de eu mesmo contar minha história”, diz.

Apesar de ser sua estreia como autor de dramaturgia, Paulo Betti não é nenhum novato na arte da escrita. Ele publicou artigos semanais por quase 30 anos no jornal Cruzeiro do Sul e textos pessoais na adolescência – o caderno com mais de 400 páginas foi usado na construção da peça.

"Acho que o pulo do gato é isso... Anotar as coisas que você ouve e sente. Isso traz uma preservação da memória e acaba dando estofo ao material", garante.

Razão de ser 
O ator conta ainda que sentiu insegurança quando decidiu fazer um monólogo retratando a própria história, "pois isso parecia um excesso de ego", e que encontrou nas vivências do avô uma das principais "justificativas" para a existência do espetáculo.

"Ele era um imigrante italiano que trabalhou para um fazendeiro negro, então isso fala muito sobre a história do Brasil. Eu cresci em um bairro pequeno, com quatro ruazinhas de terra e tendo 90% dos moradores negros. Cresci com muito samba, música paraguaia, batuque, cultura quilombola e tinha até uma 'igreja misteriosa'", conta.

“Meu avô era um imigrante italiano que trabalhou para um fazendeiro negro e isso fala muito sobre a história do Brasil" (Mauro Khouri)

“Meu avô era um imigrante italiano que trabalhou para um fazendeiro negro e isso fala muito sobre a história do Brasil" (Mauro Khouri)

Um ponto alto da peça – e dos mais emocionantes – é quando Paulo Betti encena a morte da mãe.

"Traz muita reflexão. Um dia desses uma mulher na plateia falou 'quais as memórias meus filhos vão ter de mim?'. Acho bonito que a peça faça as pessoas se questionarem assim", diz.

Junto ao drama e à poesia, o ator garante que o humor é outro elemento fortíssimo no monólogo "Autobiografia Autorizada".

"O povo assiste e vê que é engraçado e divertido. Aliás, teve uma época que eu até quis chamar a peça de stand-up. Quando falamos em monólogo vem o peso de algo chato e enfadonho. O stand-up é mais leve. Mas depois desisti e assumi que era um monólogo mesmo", brinca.

Vocação e política 
A influência de Betti, no entanto, não se restringe aos palcos. Ciente do seu papel no mundo, ele promove conversas com jovens após algumas apresentações.

"Tenho cada vez mais consciência da minha vocação como ator e dessa minha missão de fazer o corpo a corpo com o público. Faço questão de debater a peça com estudantes e promover reflexões sobre a vida", afirma.

“Tenho cada vez mais consciência da minha vocação como ator e da minha missão de fazer o corpo a corpo com o público" (Mauro Khouri)

“Tenho cada vez mais consciência da minha vocação como ator e da minha missão de fazer o corpo a corpo com o público" (Mauro Khouri)

Além disso, em tempos de isenção por parte de muitos artistas, Paulo Betti não esconde que votou em Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas eleições presidenciais deste ano. Seu posicionamento, aliás, aparece estampado em diversas postagens nas suas redes sociais.

"É, sobretudo, uma aliança pela democracia e contra o (Jair) Bolsonaro. O mais interessante é que venho recebendo diversas manifestações positivas do público. A última delas aconteceu em uma apresentação em Maceió, no Alagoas. Acho que as pessoas estão sentindo necessidade de comemorar e confraternizar nesse momento", analisa.

Relação com Minas 
Pisando em território mineiro, onde chega para contar sua história, Paulo Betti não poderia deixar de citar suas referências artísticas do passado e do presente.

"O que mais me aproxima de Minas é minha relação com os atores Antônio Grassi e Anton Chaves. Tenho um convívio longo com Anton. Ele é praticamente um guru para mim; me ensinou a dirigir e me inspirou a fazer uma continuação deste monólogo, com uma pegada mais cômica", revela.

“Admiro muito os escritores mineiros, como Carlos Drummond de Andrade, Fernando Sabino e Paulo Mendes Campos" (Mauro Khouri)

“Admiro muito os escritores mineiros, como Carlos Drummond de Andrade, Fernando Sabino e Paulo Mendes Campos" (Mauro Khouri)

Além desses atores, os autores mineiros também têm lugar cativo na memória afetiva do sorocabano.

"Admiro muito os escritores, como Carlos Drummond de Andrade e Paulo Mendes Campos. Adoro o livro ‘Encontro Marcado', do Fernando Sabino. A primeira experiência que tive com essa história foi justamente em uma peça de teatro e foi incrível", recorda.

Serviço:

Autobiografia Autorizada

Local: Grande Teatro SESC Palladium (rua Rio de Janeiro, 1046 – Centro)
Data: 20/11
Horário: 19h
Ingressos: Sympla
Informações: (31) 3270-8100

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