Sem suporte, Minas tem 15 casos de violência contra mulher por hora

Alessandra Mendes - Hoje em Dia
30/04/2014 às 19:20.
Atualizado em 18/11/2021 às 02:22
 (CRISTIANO COUTO)

(CRISTIANO COUTO)

Mais de 15 registros de violência doméstica e familiar contra a mulher são feitos por hora em Minas. Casos que refletem o drama de vítimas de violência física, psicológica, patrimonial, moral e sexual. Os dados, contabilizados pela Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds), são referentes a 2013, quando 133.054 registros deste tipo foram feitos no Estado. Um quadro crítico que não vem merecendo a devida atenção dos gestores municipais.   Das 853 cidades mineiras, 85% não contavam com serviços especializados para mulheres em situação de violência até o ano passado. Segundo levantamento divulgado ontem pelo IBGE, apenas 127 municípios prestam atendimentos psicológico, social e jurídico para as vítimas, como prevê a Lei Maria da Penha. Serviços que são essenciais na prevenção e combate do problema, que ainda é subnotificado em grande parte do território mineiro.   “No Norte de Minas, quase todos os municípios não têm nenhuma estrutura neste sentido. A única alternativa acaba sendo a polícia, que se mostra despreparada. As vítimas de agressão acabam virando alvo também do machismo, já que viram piada e não são levadas a sério”, explicou a presidente do Coletivo de Mulheres Organizadas do Norte de Minas, Maria de Lourdes Nascimento.   Como consequência, os casos de agressão acabam não vindo à tona, já que as vítimas não contam com serviços especializados aos quais recorrer. “As mulheres estão desamparadas e os crimes acabam ficando encobertos. Não sabemos ao certo de que universo estamos falando. O certo é que é um problema muito grave que não conta com a solidariedade dos gestores municipais”, afirmou Maria de Lourdes.   Com uma estrutura adequada, não só os casos seriam tratados de forma correta como a prevenção também seria abordada de maneira eficiente. Nestas circunstâncias, as mulheres se sentem mais protegidas e cientes de seus direitos. Uma estratégia que vem sendo aplicada há 18 anos em Belo Horizonte pelo Centro de Referência Bem Vinda, porta de entrada para vítimas encaminhas das mais variadas formas.   O outro lado   O suporte psicológico, social e jurídico prestado pelos profissionais, além da possibilidade de acolhimento em casos mais graves é responsável por mudanças nas vidas de centenas de mulheres. “Só fui capaz de tomar uma atitude porque sabia que encontraria ajuda de pessoas especializadas. Isso faz toda a diferença. Ser agredida na própria casa todos os dias é horrível, mas é preciso ajuda para mudar”, contou uma estudante de 23 anos, atendida pelo Centro, que preferiu não se identificar.   Após cinco anos de uma relação conturbada, permeada por violência doméstica, a jovem tomou coragem de sair de casa levando a filha de 3 anos, que presenciou todas as agressões sofridas pela mãe. “Às vezes corremos risco de morrer e nem nos damos conta”, afirmou a estudante.   "Para a mulher conseguir romper com uma situação assim é necessário o trabalho de uma rede que envolve uma série de serviços do poder público. As vítimas estão em situação de fragilidade e perdem autonomia”, explicou a gerente do Bem Vinda, Daniele Caldas. Aquelas que estão submetidas a um ambiente sem esse amparo ficam à mercê do perigo. “A diferença para essas mulheres é crucial: é algo como estar viva ou morta”, afirmou a coordenadora de Políticas para Mulheres da prefeitura de BH, Cláudia Monteiro Rocha.   Em Belo Horizonte, foram registrados 16.718 casos de violência doméstica e familiar contra a mulher em 2013, o que significa uma média de 45 casos por dia, ou quase dois por hora   Ajuda em BH Delegacia da Mulher - Rua Aimorés, 3005, Barro Preto, tel. 3291-2931 Centro de Referência Bem Vinda - Rua Hermilo Alves, 34, Santa Tereza,  Tel. 3277-4379 Centro Risoleta Neves de Atendimento à Mulher - Rua Pernambuco, 1000, Funcionários, tel. 3261-0696 / 3261-3236 

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