Foi de revirar o estômago

19/04/2016 às 13:50.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:01

Meu voto é sim, senhor presidente!

Ouvimos isso ontem por 367 vezes. Por motivos religiosos, por motivos familiares, por motivos partidários, por motivos corporativistas. Votos que raramente foram justificados pelo crime imputado à presidente: a pedalada fiscal inventada por Fernando Henrique e praticada desde então, sem nunca ter sido questionada pelo TCU ou pelo Congresso.

Teve de tudo. Até voto dedicado pelo excelentíssimo deputado Jair Bolsonaro ao torturador e assassino Carlos Alberto Brilhante Ustra, chefe do DOI-CODI de São Paulo durante a ditadura, morto no ano passado sem que tenha respondido por seus crimes hediondos.

Todos sabem, mas não custa lembrar, que o “senhor presidente” da sessão de ontem era Eduardo Cunha, que também votou “Sim” e pediu a Deus “que tenha misericórdia dessa nação”.

Eduardo Cunha, todos sabem, mas não custa lembrar, será o segundo na linha sucessória se o impeachment vingar. Trata-se de um reiterado criminoso. Corrupto, recebedor de propinas, vendedor de facilidades, facilitador de negociatas, comprador de votos, escroque de empresários, fraudador do fisco e sabe Deus o que mais.

Cunha dirigiu uma sessão de dar engulhos tamanha a dissimulação, levianismo, esperteza e despreparo demonstrada pela maioria dos deputados. Todos sabem, mas não custa lembrar, que é esse tipo de gente que vota em nosso nome: “Em memória do coronel Carlos Brilhante Ustra” foi só a frase mais emblemática, mas não a única absurda ou risível.

Todos sabem, mas não custa lembrar, que antes de Cunha o primeiro na linha sucessória é o vice-presidente Michel Temer, que ontem divulgou foto sua com um enorme sorriso, acompanhado de assessores no Palácio do Jaburu. Trata-se do operador histórico das negociatas e gerenciador do dinheiro sujo que irriga o partido mais corrupto do país, o PMDB.

Em que mãos estamos caindo em nome “de Deus”, “da minha família”, “dos meus filhos”, “do meu estado”, “dos meus eleitores”, “do meu povo”.

Buraco negro
A partir de agora caímos definitivamente no buraco negro da economia. Pouco se poderá fazer até a decisão sobre a abertura do processo contra Dilma no Senado, em 4 de maio, quando se decidirá se o processo será extinto ou a presidente afastada para julgamento por 180 dias. Até lá, nada poderá ser feito em relação ao desajuste das contas públicas, que para ser corrigido necessitaria da aprovação das reformas em tramitação no Congresso.

O aprofundamento da instabilidade política ameaça, inclusive, os poucos pontos marcados recentemente pela equipe econômica. A inflação perdeu volatilidade e já começou a convergir para a meta de maneira mais estruturada. E as contas externas são, hoje, a grande surpresa positiva por conta do forte ajuste na taxa de câmbio e da queda da demanda doméstica.

O problema é que não há mais tempo ou ambiente para que se possa aproveitar o ajuste desses dois importantíssimos indicadores econômicos. O fel da política azedou tudo.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por