Presidente da Uefa e presente em 1985, Platini teme um novo "Heysel" na Europa

Estadão Conteúdo
24/05/2015 às 15:27.
Atualizado em 17/11/2021 às 00:11

Michel Platini foi o autor do gol que deu a vitória por 1 a 0 à Juventus na final da Liga dos Campeões da Europa de 1985 contra o Liverpool. Hoje, como presidente da Uefa, ele faz seu alerta: um novo desastre pode voltar a ocorrer se governos e dirigentes não unirem forças contra grupos extremistas que começam a invadir as arquibancadas do continente. Platini, porém, é acusado por muitas testemunhas de Heysel de ter ignorado os mortos em 1985 na conquista do que foi seu maior título com clubes. Este ano, ele se recusou até mesmo a comparecer aos eventos que marcam a data.

"A Europa está vendo uma expansão do nacionalismo e extremismo como não víamos havia muito tempo", disse o francês. "Essa tendência também pode ser vista em nossos estádios, já que o futebol é reflexo de nossa sociedade. Diante de sua popularidade, nosso esporte é o barômetro dos males de nosso continente. E esse barômetro aponta para fatores preocupantes. Portanto, eu faço um apelo para que se dê maior atenção a esse problema por parte de nossas autoridades públicas para evitar que os dias negros de um passado voltem. Nos últimos meses temos visto imagens que se parecem com o passado. Alguns de nós a experimentamos em primeira mão. No meu caso, faz exatamente 30 anos. Ninguém quer a volta de tais eventos", disse o presidente da Uefa.

Sua proposta é que a Europa estabeleça regras mais duras para limitar e expulsar certos torcedores dos estádios. Ele também pede a criação de uma "força policial europeia dedicada aos esportes". "Sentimos que estamos sozinhos no combate que precisamos realizar", afirmou. "Mas é uma disputa que podemos ganhar se tivermos a ajuda das autoridades públicas".

Apesar do alerta de hoje, Platini é alvo de duras críticas na Bélgica por ter comemorado o gol que marcou enquanto as pessoas ainda tentavam encontrar os mortos. Além disso, o craque deu uma volta olímpica com a taça mesmo depois de a Uefa ter sido discreta na premiação. Ele vivia o auge de sua carreira e seu sonho era aquele troféu.

Oficialmente, Platini sustenta a tese de que os jogadores não sabiam que havia mortos e que, depois do jogo, saiu de carro com seu pai. O jornalista Nicolas Ribaudo, que estava no local, tem outra versão. "Os torcedores, ensanguentados, foram se refugiar nos vestiários dos jogadores. Os jogadores ficaram trancados no vestiário por horas e até Trapattoni (técnico da Juventus) confirmou que o presidente de seu clube declarou que não entrariam em campo. Como é que Platini pode dizer que não sabia de nada?", perguntou.

François Collins, outro jornalista e porta-voz da candidatura da Bélgica e Holanda para receber a Copa de 2018, também sustenta a tese contra Platini. "Os jogadores entraram em campo sabendo das mortes. Depois, deram uma volta olímpica". Oficialmente, a Uefa explica a ausência de Platini na cerimônia que marcará os 30 anos da tragédia alegando que no mesmo dia haverá a eleição na Fifa.

Depois da reforma, o estádio ganhou novo nome: Rei Balduíno. Placas para marcar os nomes das vítimas chegaram a ser retiradas, mas voltaram depois do protesto das famílias das vítimas. Muitas delas jamais receberam indenizações.

Para marcar os 30 anos do desastre, os times sub-20 do Liverpool e da Juventus foram convidados a disputar um "jogo da amizade". Os ingleses se recusaram a participar.

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