De volta aos velhos rituais de comer acompanhado

Eduardo Avelar - Hoje em Dia
04/01/2015 às 10:09.
Atualizado em 18/11/2021 às 05:33
 (Eduardo Avelar)

(Eduardo Avelar)

“No sistema de valores elaborado pelo mundo grego e romano, o primeiro elemento que distingue o homem civilizado das feras e dos bárbaros (que estão eles próprios ainda próximos do estado animal) é a comensalidade: o homem civilizado come não somente (e menos) por fome, mas também (e sobretudo) para transformar essa ocasião em um momento de sociabilidade, em um ato de forte conteúdo social e de grande poder de comunicação".   A partir da leitura deste trecho do livro História da Alimentação de Jean Louis Flandrin e Massimo Montanari, resolvi fazer algumas reflexões sobre este ato de comer acompanhado, que a cada dia que passa se torna mais difícil de ser compartilhado com a frequência desejada com os familiares e amigos mais próximos.   A começar pelo exemplo de Jesus Cristo, algumas das passagens mais importantes de sua vida, se deram em torno da mesa junto aos seus seguidores. Com as festas de fim de ano e nas reuniões à mesa, inevitavelmente degustamos alguns casos divertidos passados na família e também relembramos dos gostos e aromas da infância.   Em qual família não existe um prato lembrado com carinho como sendo “o melhor do mundo”? Algumas pérolas como: “O molho de tomate da minha avó cozinhava o dia todo exalando aquele aroma de ervas que só ela tinha o segredo, etc, etc, ..”.   Associada ao molho vem a lembrança da confecção da massa, onde os netos reunidos brincavam de massinha, como por exemplo, dobrando os capeletes. Reforçando mais ainda a lembrança chegava a grande festa ao redor de uma enorme mesa, onde reunidos naquele espírito festivo, todos saboreavam aquela delícia sentindo o prazer da cumplicidade no preparo.   Certamente que a memória gustativa se mantém viva com os sabores destas passagens de nossa infância seguida das lembranças agradáveis do convívio na cozinha ou na mesa.   “La Cucina” Outro texto que muito me impressionou foi a introdução do livro La Cucina, onde a autora Marcella Hazan, que se tornou grande cozinheira e mestra da cozinha italiana, confessa nunca ter cozinhado antes da “cozinha escolhê-la”.   Ao se mudar ainda jovem com o marido para os Estados Unidos em companhia de um livro de receitas, se viu obrigada a executar, e bem, a arte da cozinha, pois “o marido não sabia lidar com uma refeição descuidada”. A autora revela que, embora o livro tenha sido útil, a sua trajetória foi mapeada pela memória que tinha dos sabores da comida que cresceu comendo.   Voltando ao comensalismo, os sabores armazenados em nossos cérebros quase sempre veem junto de uma situação especial com pessoas queridas. Com esses dias corridos, todos na casa tendo afazeres diferentes em horários quase nunca coincidentes, o ato de se reunir em torno da mesa vem se restringindo a ocasiões especiais.   Mas as férias estão aí, e esta é uma ótima oportunidade para praticarmos mais, e quem sabe recuperarmos, cada vez mais, estes velhos e inestimáveis rituais.   Tomates recheados Ingredientes para 6 pessoas 6 tomates grandes e carnudos, 6 colheres de azeite de oliva, 200 gr. de ricota fresca, 2 cebolas pequenas, 300 gr. de camarões frescos e limpos, 1 dente de alho amassado,1 litro de caldo de legumes e 1 copo de vinho branco seco. Ervas frescas. Azeitonas pretas sem caroço. Sal e pimenta do reino.   Preparo Aquecer o caldo de legumes, acrescentar o vinho branco, algumas ervas, sal e pimenta. Quando abrir fervura, mergulhe os camarões por alguns segundos até mudarem de cor. Retirar e reservar.   Cortar os tomates em 3 grossas fatias. Aquecer uma frigideira com azeite, alho amassado. Temperar os tomates com sal e pimenta e fritá-los rapidamente em cada face das rodelas cortadas e reservar. Aproveitar a frigideira e o azeite quente para passar ligeiramente as cebolas fatiadas bem finas ou cortadas em cubinhos pequenos. A seguir utilizando ainda a mesma frigideira saltear também ligeiramente em fogo bem alto e corrigindo o tempero dos camarões. Misturar a ricota com um pouco de azeite, com as cebolas, as ervas finamente picadas, algumas azeitonas e os camarões. Rechear os tomates e levar montados ao forno quente na hora de servir.

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