Mercado defende redução urgente do consumo energético

Tatiana Moraes - Hoje em Dia
12/04/2014 às 07:26.
Atualizado em 18/11/2021 às 02:05

À beira de um racionamento compulsório, o atual cenário do setor energético torna inevitável que o governo adote medidas para reduzir o consumo. Um programa de redução voluntária de energia seria o mais plausível para o momento. Segundo especialistas, falta apenas a decisão política para o início de, pelo menos, uma campanha junto a indústrias e consumidores residenciais. Negociações com os consumidores eletrointensivos também devem fazer parte da agenda.   “Basta uma pequena análise dos números para perceber que a situação é alarmante. Em fevereiro, o ONS (Operador Nacional do Sistema) afirmou que 43% seria o limite para os reservatórios de março. Estamos em 36,55%. E agora?”, questiona o presidente da CMU Comercializadora de Energia, Walter Fróes. De acordo com ele, o risco de não atendimento da carga chega a 40%, índice considerado alto.   Instituída pelo Operador Nacional do Sistema (ONS) em abril do ano passado e deixada de lado em setembro do mesmo ano, a norma 4.041 definiu uma Curva de Aversão ao Risco (CAR) mensal para as diversas regiões do país por cinco anos. Ou seja, foi estipulado um nível mínimo que os reservatórios poderiam atingir.   Nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, que detêm 70% da energia produzida no Brasil, no entanto, os reservatórios estão abaixo do mínimo estipulado pela CAR nos últimos três meses.   Em fevereiro, o nível dos reservatórios chegou a 34,61%, enquanto o mínimo poderia ser de 37%. Em março, o armazenamento ficou em 36,26%, contra 44% da CAR. Em abril, a situação foi ainda mais drástica, com reservatórios em 36,55% e mínimo necessário de 48%.   A extinção da norma esconde o tamanho do rombo, conforme o diretor do Instituto de Desenvolvimento do Setor Energético (Ilumina), proprietário da RCM Consultoria e ex-conselheiro de Administração de Furnas Centrais Elétricas, Roberto D’Araújo. “Quanto a Curva de Aversão deixou de ser usada explicitamente, o perigo ficou mais escondido. Se medidas extremas não forem adotadas, acho difícil não ter racionamento. Se não acontecer neste ano, virá no próximo”, afirma.   De acordo com o diretor do Ilumina, é necessário que chova, principalmente, nas bacias dos rios Grande e Paranaíba, que deságuam no Paraná, rio que abastece Itaipu. No entanto, o período chuvoso é compreendido entre outubro e abril, que já chega ao fim sem volume suficiente de água.   D’araújo explica que o padrão hidrológico brasileiro dificilmente é alterado drasticamente no meio do ano. “Se não choveu quando deveria, dificilmente choverá muito a partir de agora. As mudanças hidrológicas se dão, normalmente, de um ano para o outro”, diz.   O governo, segundo o especialista, já deveria ter iniciado medidas para solucionar o problema. O principal, ainda de acordo com ele, seria aumentar a intensidade da produção térmica há mais tempo. l   Campanha envolveria indústrias e residências   A decisão política de iniciar, no mínimo, uma campanha para reduzir o consumo energético de indústrias – principalmente as eletrointensivas – e residências ainda não foi tomada, mas uma definição é urgente para a sobrevivência do setor. A afirmação é do coordenador-geral do Grupo de Estudos do Setor de Energia Elétrica (Gesel), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Nivalde de Castro.

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