Mostra de Mark Bradford retrata sistema político-social

Marina Vaz
02/04/2014 às 10:57.
Atualizado em 18/11/2021 às 01:54

Pelas ruas próximas a seu ateliê, na região centro-sul de Los Angeles, Mark Bradford recolhe o material que servirá de base para seus trabalhos. Materiais que, na maioria das vezes, são ignorados por quem passa por ali. Cartazes colados em telefones públicos, por exemplo, costumam chamar sua atenção. "Eles carregam tantas mensagens sobre o que está acontecendo", reflete. A partir desta quarta-feira, 2, o americano ganha sua primeira mostra individual no País, na filial paulistana da galeria White Cube, com sede em Londres.

São expostas nove pinturas feitas com colagens e muitas, muitas sobreposições. "A distância, quando você olha para as pinturas, elas parecem um trabalho expressionista abstrato, mas, ao se aproximar, vê que elas, na verdade, não são feitas de tinta, mas de papel; e isso é extraordinário", diz Susan May, diretora artística da galeria, citando o movimento que surgiu nos Estados Unidos, na década de 1950.

A escolha por incorporar elementos tidos como de pouco valor reforça o viés político-social das obras. "Os materiais que uso estão invisivelmente visíveis na cidade; são materiais pobres, que carregam um componente de classe social", analisa Bradford, que define seu estilo como "abstração social".

Uma das obras que integram a exposição é My Whole Family Is From Philly. Nela, o ponto de partida é uma pilha composta por pôsteres, recortes de jornais e folhas com impressões digitais coloridas. O artista faz "escavações" em partes dessa pilha, criando contornos e desenhos que lembram o mapa da cidade da Filadélfia (cujo apelido, Philly, aparece no título).

Referências à cartografia e a documentos antigos são constantes nos trabalhos de Bradford. "Eu gosto da história dos documentos e da ideia de eles formarem o passado político do país", afirma ainda.

É o caso dos trabalhos The Less Common Royalness e Rest Deep in Curiosity, que têm elementos que lembram plantas arquitetônicas, quarteirões de cidades e planos diretores.

Em Amendments #5-10, Bradford se apropria de trechos de emendas da constituição americana. "Ele faz vários trabalhos focados na ideia de democracia, e em como a democracia é manipulada por quem está no poder", analisa Susan. No caso, essas manipulações, essas distorções, estão visualmente explicitadas. "Ao longo da pintura, ela se torna mais e mais abstrata, e o texto se torna menos legível", acrescenta a curadora. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
http://www.estadao.com.br

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