Espetáculo "Edukators" faz apresentação única em BH

Patrícia Cassese - Hoje em Dia
14/08/2013 às 11:13.
Atualizado em 20/11/2021 às 20:58

Quando, ano passado, o diretor austríaco Hans Weingartner foi procurado para conversar sobre uma possível adaptação do seu cultuado filme "Edukators" para o teatro, no Brasil, a reação foi da mais genuína surpresa. "Para ele, a vida 'útil' do filme já tinha acontecido – lançamento, festivais, prêmios, TV e locadoras", lembra o ator Pablo Sanábio, um dos mentores da ideia. Mas, em pouco mais de um mês, o "negócio" foi fechado e, em janeiro, mantendo o nome original, a peça estreou no Rio de Janeiro.

Após temporada em São Paulo e passagens por Porto Alegre, Salvador e Brasília, "Edukators" chega a BH, para única apresentação quinta-feira (15), às 20 horas, no Teatro Bradesco. No elenco, além de Pablo, Edmilson Barros, Fabrício Belsoff e Natália Lage.

"Assisti ao filme em 2004, no Festival de Cinema do Rio, e fiquei muito tocado. Acabou ficando no lugar dos desejos guardados", conta Sanábio. Ano passado, conversando com o diretor João Fonseca, que também adorava a fita, veio a ideia da montagem. E o citado contato com Hans – cooptado pela ideia a ponto de não só vir ao Brasil conferir a estreia, como preparar um vídeo, que vem sendo exibido antes do espetáculo.

Uma opção da adaptação brasileira – de Rafael Gomes – foi não localizar a trama aqui. "O Hans não quis acompanhar o processo (de feitura da peça), mas a gente frisou que iria adaptar o argumento à linguagem teatral. Ou seja, não é cópia do filme. Tanto que o triângulo amoroso – formado, no Brasil, pelos ‘edukators’ Peter (Pablo) e Jan (Fabricio), mais Jule (Natália), namorada do primeiro, é mais forte na peça, que também insere mais humor".

Hans Weingartner foi tão receptivo às inovações que chegou a pedir o texto. "Ele vai tentar que alguma companhia alemã monte a adaptação", orgulha-se.

Desconfiguração

Para quem não assistiu, o filme traz três jovens, em Berlim, que invadem mansões para divulgar suas mensagens de protesto contra o sistema, "educar" a burguesia. O trio não subtrai nada, apenas altera móveis de lugar. O objetivo é confundir, ameaçar simbolicamente. No local, deixam um bilhete com a frase-manifesto: "Seus dias de fartura estão contados".

Mas eis que um dia, por uma contingência, o trio é obrigado a sequestrar um milionário. "A dramaturgia do Rafael Gomes é interessante, pois não ‘fecha’ em nenhum lugar. Os argumentos que os jovens usam são super pertinentes, mas os do sequestrado também". Informações pelos telefones (31) 3516 1027 e 3282 5420 ou pelo site http://www.teatroemmovimento.com.br.

Um elo com o movimento que tomou as ruas do país

Em plena temporada, a montagem de "Edukators" "deu de cara" com as manifestações populares, que tiveram seu ápice em junho e mobilizaram principalmente os mais jovens. "Foi uma coincidência. Agora mesmo, em Brasília, foi muito doido. O público urrava, se identificava, parecia meio que uma manifestação. A gente tem notado que os jovens estão querendo entender mais a situação política do Brasil, e o texto levanta argumentos dos dois lados (dos ‘edukators’ e do sequestrado) que levam a uma reflexão. O cara mais velho um dia foi revolucionário, acaba que a vida te conduz a outros lugares. Tem uma hora que você vai querer ter uma casa, uma estrutura para criar seus filhos. Então, o público sai da peça mais reflexivo", diz Sanábio.

Em 2004, quando assistiu ao filme, Pablo tinha 21 anos. Hoje, aos 30, ainda vê vestígios do espírito ‘edukator’ em sua persona. "Mas também entendo as questões práticas da vida. Tem que ter um equilíbrio dos dois lados, ao mesmo tempo mantendo o desejo de mudar". E apesar do desejo de não localizar o texto no Brasil, a produção inseriu palavras que estiveram em voga, como "vândalos", ou mesmo a máscara Anonymous. "Mas tudo en passant, pois a situação pode acontecer em qualquer parte do mundo".

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