'Os Outubros de Taiguara’ escancara a mão pesada da censura

Pedro Artur - Hoje em Dia
27/09/2014 às 10:26.
Atualizado em 18/11/2021 às 04:22
 (Divulgação)

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No poema “Aos que vierem depois de nós”, do alemão Bertolt Brecht, ele pede para lembrarmos de que escapamos dos tempos sombrios. Muitos tombaram. E os que conseguiram permanecer de pé tiveram que enfrentar a fúria da ditadura e da censura. O cantor e compositor Taiguara (1945-1996) sofreu o pão que o diabo amassou, mas manteve sua música, com letras de extremo lirismo e resistência. Assim, ao lado de Chico Buarque, foi um dos autores da Música Popular Brasileira mais censurados no período mais duro dos anos de chumbo.   Com fôlego para mergulhar em uma pesquisa profunda, a jornalista Janes Rocha levantou a história de luta do compositor no livro “Os Outubros de Taiguara” (Kuarup), previsto para chegar às livrarias no início de outubro. “O foco é a censura, o quanto o prejudicou. Acredito, inclusive, que foi um dos artistas mais censurados. Consultei o Chico e ele respondeu, através de assessor, que nunca fez um levantamento de quantas músicas tinham sido censuradas, disse que oficialmente foram poucas. Mas afirmou que sofreu muito com a censura indireta, quando a música era permitida ser colocada no disco, mas não podia tocar em teatro”, destaca a jornalista.    Corpos nus   Ela conta que, no período de 1970 a 1974, Taiguara submeteu 140 canções à censura e, dessas, 48 foram vetadas. Para se ter ideia da perseguição ao seu trabalho, até a música “Corpos Nus”, inscrita no Festival Internacional da Canção de 1971 da TV Globo, foi alvo da sanha dos censores. “Ele só soube que estava fora. Teve dois elepês integralmente censurados. O ‘Imra, Tayra, Ipy’ (1975) foi liberado, foi impresso, foi para as lojas, chegou a vender 5 mil cópias. Mas a censura resolveu vetar e recolher todos os discos da prateleira. Imagina o tamanho desse prejuízo, todo o trabalho intelectual”, ressalta.    Outro disco proibido pela censura foi “Let The Children Hear The Music”, feito em sua passagem por Londres, em 1975, antes de voltar ao país.   Em seus shows, Taiguara intercalava a interpretação de músicas fortemente panfletárias com discursos políticos intermináveis, à Fidel Castro. Naquela época, a música já não era sua preocupação central, conta a autora em trecho do livro.    Janes chega a uma contagem de inacreditáveis 81 canções censuradas oficialmente pelo Departamento de Censura e Diversões Públicas (DCDP).    Apesar de enorme sucesso no início de carreira, Taiguara, por conta dessa perseguição, foi quase esquecido por seu público. “Não é que ele tenha ficado invisível. Mas ele perdeu o contato, a ligação com o público dele. Tinha milhões de fãs na fase em que era super romântico. Quando começou a ser censurado por suas músicas de protesto, esse público se afastou”, diz a jornalista.   Disco   O culto a Taiguara está de volta não só com o já citado livro – “Os Outubros de Taiguara” – quanto com o álbum póstumo “Ele Vive”. O CD foi produzido através de dezenas de fitas cassetes que o artista registrou em um gravador caseiro, com centenas de horas de gravação. Trata-se de uma bela homenagem da gravadora Kuarup – curadora de parte da obra do músico.

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