Do deserto às alamedas do Municipal

Gláucio Castro - Hoje em Dia
05/07/2014 às 10:07.
Atualizado em 18/11/2021 às 03:16
 (Lucas Prates/Hoje em Dia)

(Lucas Prates/Hoje em Dia)

Todos os dias, o marroquino Yassine Maarrach, 26 anos, acorda cedo, pega seu equipamento e sai para mais um dia de intensa cobertura da Copa do Mundo no Brasil. Durante horas e horas, o repórter da TV Aljazeera, do Catar, percorre vários cantos de Belo Horizonte em busca de grandes histórias locais e reportagens da seleção argentina, que escolheu a Cidade do Galo como centro de treinamento.   Até aí, tudo bem. A rotina não é diferente de nenhum dos milhares de profissionais que estão no país trabalhando no Mundial.    A questão é que, muçulmano, o repórter árabe está no início do Ramadã, período sagrado do islamismo, quando o jejum é obrigatório do nascer ao pôr do sol durante um mês. Nem água é permitido entre 5h30 e 17h30.   A situação que seria um sacrifício para a maioria das pessoas é tirada de letra por ele. “Estou acostumado. É tranquilo para mim. Só estou impressionado com o calor do inverno de Belo Horizonte, mas também não sinto sede. Faz parte da nossa cultura. Somos criados assim”, explica o jornalista, com bastante tranquilidade e simpatia.   Hospedado em um hotel na avenida Afonso Pena, ele teve pouco tempo para conhecer as atrações da capital. Mas, sempre que pode, Yassine visita seu local favorito. “Adoro o Parque Municipal. Estou bem perto e gosto de fazer uma caminhada lá para respirar o ar puro. Lá dentro é bem mais fresco do que aqui fora. Me sinto bem ali”, diz.    Antes de voltar ao país africano, o jornalista pretende visitar uma mesquita em Belo Horizonte. “Já me falaram que existem duas”. Enquanto não encontra tempo, ele segue rezando ajoelhado em direção a Meca, cidade sagrada dos muçulmanos, cinco vezes por dia.   Quando está fora do período do Ramadã, Yassine aproveita para provar os sabores da culinária mineira. Ele ainda não teve oportunidade para experimentar os tradicionais feijão tropeiro e o pão de queijo, mas gostou de outro quitute bastante apreciado em terras brasileiras, apesar de não ser um produto mineiro. “Não sei bem como é o nome. É assim quadrado e tem um recheio por dentro. Acho que chama pastel”, explica entusiasmado.    Torcedor do Raja Casablanca, equipe marroquina que venceu o Atlético no Mundial de Clubes do ano passado, ele se sente orgulhoso por entrar quase diariamente na “casa” do time brasileiro que fez a equipe de Casablanca virar notícia no Mundo todo por bater a equipe de Ronaldinho Gaúcho.   Apesar do orgulho com a religião, Yassine não esconde a tristeza de ver sempre o Islamismo ligado a atos terroristas, principalmente depois do ataque às Torres Gêmeas, em 2001, nos EUA. “No Brasil até que está mais tranquilo, mas quando vou à Europa ou aos EUA passo horas nos aeroportos tendo minha vida toda vasculhada. É sempre assim. Essa discriminação deixa a gente triste”, lamenta.

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