Clubes terão de refazer as contas após veto da Fifa a fundos de investimentos

Gláucio Castro - Hoje em Dia
28/09/2014 às 09:10.
Atualizado em 18/11/2021 às 04:23
 (Lucas Prates 23/07/2014)

(Lucas Prates 23/07/2014)

O futebol brasileiro deverá passar por uma transformação profunda nos próximos anos. Confirmada na sexta-feira (26), a decisão da Fifa de banir os fundos de investimentos do esporte mais popular do planeta promete mexer com as finanças dos clubes, que terão um prazo ainda não estipulado para se adaptar à nova realidade.   “A mudança será avassaladora”, alerta o especialista em marketing esportivo Amir Somoggi. “Todos os grandes clubes do país têm hoje jogadores que são fruto de parcerias com fundos de investimento. Essa situação vai mudar muito a maneira de os presidentes dirigirem os clubes de agora em diante”, acrescenta.   Como a novidade é complexa, a Fifa deve dar prazo de três a quatro anos para que se complete o processo de transição, que afetará diretamente os principais clubes da cidade.    Prática comum no país, a “divisão” dos direitos econômicos dos jogadores também é uma realidade no América, no Atlético e no Cruzeiro, com vários atletas ligados a fundos de investimentos.    É o caso do atacante Guilherme, apresentado como presente de aniversário nos 103 anos do Galo e uma das contratações mais caras da história do clube alvinegro. Quando ele chegou à Cidade do Galo, seus direitos estavam fatiados entre Atlético, Banco BMG e Traffic.   No Cruzeiro, outro bom exemplo é o zagueiro Dedé, cuja transferência do Vasco para a Toca da Raposa se deu graças às parcerias financeiras com a direção celeste.   A Fifa anunciou a mudança depois da pressão de clubes europeus, que se diziam obrigados a pagar quantias milionárias a jogadores cujos direitos estavam divididos entre vários empresários, o que inflacionava o valor das contratações.   No Brasil e em outros países sul-americanos, que têm poder econômico bastante inferior, os investidores acabaram se tornando uma boa saída para que os clubes conseguissem reforços de qualidade.   “Não concordamos com esta medida. Vamos precisar de um tempo para nos adequar. Os clubes já estão mal financeiramente e tinham estas parcerias como uma boa forma de arrecadação”, reclama o diretor de futebol do Atlético, Eduardo Maluf.    “Mais do que ajudar a fazer uma grande contratação, os parceiros são importantíssimos quando compram direitos econômicos de jogadores em início de carreira. É uma outra forma de entrar dinheiro nos cofres”, completa o dirigente alvinegro.    Gerente de futebol do Cruzeiro, Valdir Barbosa adota discurso mais cauteloso. “Precisamos aguardar um pouco mais. Ainda está tudo muito recente. A Fifa não informou como essa regra de fato vai funcionar. Ainda carece de um detalhamento maior”, alega.    Mesmo assim, ele não esconde o estranhamento. “É uma coisa normal, que já é feita há mais de dez anos. Você arrisca um lucro e um prejuízo. Quando você tem um produto valioso em qualquer segmento, é normal você procurar um parceiro para dividir a responsabilidade”, opina.   Base e sócios podem ser fontes de recursos   Sai de campo o dinheiro abundante, entra em cena a boa administração. Para o especialista em marketing esportivo Amir Somoggi, quando a determinação da Fifa estiver valendo de fato, os clubes que terão mais sucesso dentro das quatro linhas serão aqueles que conseguirem alcançar administrações equilibradas.   Incentivar as categorias de base e investir nos programas de sócio-torcedor são outras fontes para balancear as receitas e despesas. “A partir de agora, os dirigentes vão ter que trabalhar com os pés no chão. Quem tiver mais competência vai se sobressair no mercado. Agora, será necessária uma administração muito mais profissional e eficaz”, explica Somoggi. “Os clubes não estarão mais naquele mundo de fantasia. Todos estavam reféns dos próprios modelos de administração e gestão, fazendo várias contratações e pagando salários astronômicos com a ajuda desses parceiros”, completa o especialista.   De acordo com um estudo da KPMG, empresa mundial de consultoria e auditoria, na Europa, os investidores detêm entre 3,7% e 7,8% dos valores de mercado dos atletas em atividade. O montante pode chegar a R$ 3,3 bilhões. As cifras no Brasil devem ser ainda maiores, principalmente pela difícil situação econômica dos clubes nacionais. Em marcados como Portugal, ela chega a 30%, segundo dados da KPMG.    O investimento de terceiros em direitos econômicos de jogadores já é vetado em alguns países da Europa, como na Inglaterra e na França. Na Alemanha, há uma limitação da participação dos fundos de investimento, o que não ocorre na Espanha e em Portugal, onde a prática é mais difundida, como na América do Sul.    Entre os fundos de investidores do Brasil, o mais conhecido dos mineiros é o BR Soccer, um braço do Banco BMG. Traffic, DIS, Doyen, Energy Sport e LA Sports são outros nomes fortes que também atuam no futebol nacional.

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