Tiradentes redescoberto em livro de mineiro

Ana Flávia Gussen - Hoje em Dia
23/04/2014 às 07:55.
Atualizado em 18/11/2021 às 02:15
 (Washington Alves)

(Washington Alves)

Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, é considerado um dos militantes políticos mais citados e influentes na literatura brasileira. Um personagem misterioso, cuja imagem foi manipulada por interesses políticos e sociais em épocas diferentes da história do País. O que poucos sabem é que ele foi um exímio “cabo eleitoral” dos defensores da República. Não era pobre e tão pouco foi o grande líder da Inconfidência.

Três séculos depois de sua morte na forca, Tiradentes continua motivando os pesquisadores. Quem se debruça agora sobre a história desse mito é o jornalista e escritor mineiro Lucas Figueiredo que há três anos refaz os passos do inconfidente por cinco países.

“Tiradentes foi um ativista político. Foi também um agitador. Nenhum outro inconfidente conspirou tão abertamente contra a Coroa Portuguesa. Tiradentes não perdia a oportunidade de bradar pela queda da monarquia, em alto e bom som, em todos os lugares por onde passava, inclusive em prostíbulos”, contou o escritor que percorreu Portugal, França, Inglaterra, Benin, na África, além do Brasil. A obra vai ser lançada em 2015 pela Companhia das Letras.

A história do mineiro ficou adormecida por cem anos até o final do século XIX, quando ele foi redescoberto e sua trajetória política manipulada pela primeira vez. “Sem nenhuma base histórica, e com muita fantasia, cria-se um personagem muito parecido com Jesus Cristo: barba longa e túnica branca. Por que? Porque o movimento republicano precisava de um herói facilmente reconhecível pelo povo”, afirma Lucas.

O escritor explica que sua obra visa retratar o Joaquim, pai solteiro da Joaquina, órfão de pai e mãe e caçador de bandidos.

Poucos sabem, diz ele, mas Tiradentes, pouco antes de morrer, estava tramando a morte do governador de Minas, Visconde de Barbacena. Outro mito em torno do alferes é de que ele seria pobre e um “testa de ferro” de um grupo de intelectuais. Segundo o escritor, Tiradentes tinha posses e luxos. Era dono de um relógio inglês, raríssimo em Minas no século XVIII, além de leitor das leis constitucionais dos Estados Unidos. Mas, apesar da mitificação, as pesquisas concluem que Tiradentes foi mesmo um mártir: “Quem prefere morrer a negar sua crença só pode ser chamado de mártir”, define o escritor.
 
Militantes inspiram livros de ficção

Figuras que militaram em diferentes períodos da história política brasileira também inspiraram romances. Além de Tiradentes, o psicanalista Hélio Pellegrino, os ex-presidentes Tancredo Neves e Getúlio Vargas, dentre outros, serviram de inspiração para escritores.

É o caso do Encontro Marcado, de Fernando Sabino. Escrito em 1956, o romance conta a história do jovem Eduardo Marciano. Considerado autobiográfico, fala sobre a vida do autor e seus amigos Hélio Pellegrino, Otto Lara Resende e Paulo Mendes Campos.

Pellegrino inspirou o personagem Mauro Lombardi. Um dos fundadores da União Democrática Nacional (UDN), Pellegrino ajudou também a fundar o Partido dos Trabalhadores. Ao lado de Otto Lara Resende e outros companheiros, editou o jornal clandestino Liberdade, em 1944.

Misturando ficção e realidade, o livro Agosto, de Rubem Fonseca, retrata os momentos políticos que culminaram no suicídio de Getúlio Vargas em 1954. O mineiro e então ministro de Getúlio, Tancredo Neves, também tem voz na obra de Fonseca. Boca do Inferno da cearense Ana Miranda é um romance cuja história se passa em 1863 e é inspirada no padre e missionário português Antonio Vieira e no poeta Gregório de Mattos, recriando disputas políticas da época.

A investigação como matéria-prima

O jornalista e escritor Lucas Figueiredo nasceu em Belo Horizonte em 1968. É autor dos livros-reportagem Morcegos Negros, Ministério do silêncio, O operador, Olho por olho e Boa ventura! Recebeu três vezes o prêmio Esso, duas vezes o prêmio Vladimir Herzog, além dos prêmios Jabuti, Imprensa Embratel e Folha de São Paulo, entre outros. Foi agraciado com o Mérito Grandes Jornalistas, concedido aos 15 jornalistas brasileiros mais premiados no período 1995-2010 de acordo com o ranking Jornalistas & Cia.

Foi pesquisador da Comissão Nacional da Verdade e consultor da Unesco. Realizou coberturas jornalísticas na Suíça, Itália, França e Inglaterra, em Liechtenstein e Portugal, no Benin, nos Estados Unidos, no Canadá, na Argentina, no Peru, Paraguai, Uruguai e Haiti.

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