Falta de verba compromete atuação dos Bombeiros em Minas

Gabriela Sales - Hoje em Dia
22/07/2015 às 06:27.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:01
 (Flávio Tavares)

(Flávio Tavares)

O serviço de resgate do Corpo de Bombeiros está comprometido. Sem repasse da taxa de incêndio desde janeiro, batalhões de todo o Estado não têm dinheiro para comprar equipamentos ou reparar viaturas. Somente em três unidades com sede na Grande Belo Horizonte, 108 veículos – um terço da frota desta região – apresentam algum tipo de avaria.

Apenas no 2º Batalhão, em Contagem, responsável por atender a 32 municípios, 30 estão encostados por causa de defeitos diversos, inclusive ambulâncias. “A oficina só tem sucata. Muitos carros já não suportam revisão. O ideal seria a aquisição de novos”, afirmou um oficial que pediu para não ter o nome revelado.

Entre as avarias listadas por ele estão carros com desgaste nos freios, para-brisas quebrados e lataria enferrujada ou amassada. Alguns têm pneus carecas.

No pátio do 1º Batalhão, no Funcionários, unidade referência na região Centro-Sul de BH, 48 viaturas lotam o lugar esperando conserto. “Faltam carros para o combate a incêndios e, principalmente, para transportar equipamentos”, disse outro oficial, que também pediu anonimato por medo de represálias do comando da corporação.

Prejudicial

A escassez de equipamentos prejudica o atendimento à população. Na última quarta-feira, um pelotão subordinado ao 2º Batalhão de Contagem precisou pedir uma ambulância de resgate emprestada a outra unidade para socorrer uma vítima de acidente de carro. “A única viatura em funcionamento estava empenhada em uma ocorrência de atropelamento. A outra foi recolhida para manutenção faz três meses para troca de pastilhas de freio e até agora está sem data para devolução”, contou um oficial.

Por causa disso, os socorristas gastaram 40 minutos para chegar ao local, quando, normalmente, o tempo de resposta é de, no máximo, dez minutos. A mesma deficiência de viaturas é registrada nas regiões Norte de Minas, Triângulo Mineiro e Campo das Vertentes. “As unidades do interior não recebem novas viaturas há pelo menos quatro anos, e as que são enviadas são as recuperadas e que estavam rodando na capital”, revela o oficial do 1º Batalhão.

À espera de dinheiro

Em nota, o governo do Estado informou ter liberado para as unidades do Corpo de Bombeiros R$ 3,7 milhões para a compra de viaturas e R$ 2,5 milhões para manutenção e aquisição de peças.

A corporação reconhece a situação grave de falta de estrutura e informou aguardar a liberação da verba para recuperar os equipamentos. “Estamos com uma defasagem de quatro anos na captação de recursos. Há um número significativo de viaturas para manutenção. Tão logo o dinheiro seja liberado, os reparos serão feitos de imediato”, disse o chefe da assessoria de imprensa do Corpo de Bombeiros, capitão Thiago Miranda. A expectativa é normalizar os serviços em aproximadamente um mês.

Veículo de R$ 3,5 milhões com pane elétrica desde junho

O pátio do 3º Batalhão do Corpo de Bombeiros, no bairro São Francisco, em BH, também está repleto de viaturas quebradas. São 30 no total, mas com um agravante. Dentre elas está o único veículo capaz de atuar em incêndios em altura, como em edifícios.

O chamado “autobomba plataforma escada” apresenta problemas elétricos e mecânicos. A manutenção não acontece desde junho, quando venceu contrato com a oficina especializada.

“Hoje, se ocorrer um incêndio de grande proporção em edificações na cidade, teremos problemas no resgate”, conta um oficial do batalhão.

O caminhão especial foi adquirido em 2006, na Finlândia, por R$ 3,5 milhões. Dentre os equipamentos está uma escada que pode atingir 54 metros de altura e um jato de água de precisão. O veículo foi empenhado pela última vez em 2012, em um incêndio em um edifício na avenida Afonso Pena.

A assessoria de imprensa da corporação confirmou que o equipamento está parado desde o primeiro semestre e aguarda a abertura de licitação para a contratação da empresa de manutenção.

Verbas

Desde de 2004, o Corpo de Bombeiros conta com recurso da taxa de incêndio. O decreto nº 43.779 de 2014 estabelece que o valor arrecado seja aplicado na compra e manutenção de viaturas. “O problema é que, a partir de 2008, grande parte desse dinheiro passou a ser utilizado para cobrir despesas administrativas do governo”, explica Cláudio Teixeira, ex-comandante da corporação e coronel da reserva.

Em nota, o governo do Estado informou que, no primeiro semestre de 2015, foram arrecadados R$ 59,9 milhões com a taxa de incêndio. Porém, não informou o valor destinado à corporação.

‘Vaquinha’ para comprar de gasolina a luva descartável

Além da precariedade nas viaturas de resgate e combate a incêndio, a falta de equipamentos para a realização dos atendimentos traz risco aos militares. Para desinfetar viaturas, macas e demais equipamentos, bombeiros são obrigados a tirar dinheiro do próprio bolso para a compra de material químico.

“O risco de contaminação é grande, tanto para a vítima quanto para os militares. Em alguns batalhões, os produtos disponibilizados estão vencidos, o que gera risco ainda maior”, conta o oficial que pediu anonimato.

“Vaquinha” tem de ser feita também para a compra de gasolina de equipamentos como motosserra. A aquisição de luvas, seringas e gaze depende da “caridade” dos próprios bombeiros.

No 3º Batalhão, a casa de máquinas da piscina usada em treinamentos está quebrada há um ano. No 2º Batalhão, faltam material de limpeza e espaço para armazenar e guardar equipamentos de salvamento.

Piora

Para o deputado Sargento Rodrigues (PDT), representante da Comissão de Segurança Pública da Assembleia, faltam investimentos para manter a estrutura da corporação.

“Desde janeiro, a situação que já era ruim pirou muito. Há um descaso com uma corporação responsável por salvar vidas. Isso reflete diretamente na assistência à população”.

Segundo o chefe da assessoria de comunicação do Corpo de Bombeiros, capitão Thiago Miranda, os atendimentos de urgência e emergência estão sendo realizados normalmente.

A falta de insumos, garante ele, está sendo resolvida com a liberação dos recursos do governo do Estado. A corporação também espera a liberação do dinheiro para melhorar as instalações.

1.085Viaturas estão disponíveis no Estado para operações de resgate e combate a incêndios

A Polícia Militar, que também registra sucateamento de viaturas, aguarda o processo de terceirização da frota, previsto para o fim do ano. Segundo a corporação, a elaboração dos detalhes do convênio está em fase final. A aquisição estimada é de 3 mil veículos
 

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