A vida na favela sob o olhar do estrangeiro Stephen Daldry

Paulo Henrique Silva - Hoje em Dia
09/10/2014 às 08:47.
Atualizado em 18/11/2021 às 04:32
 (UNIVERSAL)

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Estreia que chama a atenção principalmente por ser uma produção estrangeira que investe no tema favela brasileira, com os mesmos ingredientes de trabalhos premiados como “Cidade de Deus” e “Tropa de Elite”, “Trash – A Esperança Vem do Lixo” não vai além de um resumo bem-intencionado dos mais de dez anos desse subgênero.
A única diferença é o “olhar de fora” do diretor inglês Stephen Daldry (“Billy Elliot”, “As Horas”), menos irônico com seus personagens e com a realidade esquizofrênica do país. A partir desse ponto de vista, a trama é redondinha, com um arco dramático bem definido em torno de três meninos de rua transformados em heróis.

FUNÇÃO POSITIVA

Todos os personagens, dos políticos e policiais corruptos aos missionários e ativistas americanos (interpretados por Martin Sheen e Rooney Mara), têm uma função, podemos dizer, “positiva”, colaborando para a compreensão de todas as peças que envolvem a caçada por um chip com dados reveladores sobre um esquema de abuso de poder político.

Se a trama se desenvolvesse no Haiti ou na Índia, não precisaria mudar nada além da língua. Prova disso é que a história que inspirou o filme, extraída do livro de Andy Mulligan, não localiza o seu enredo em nenhum país. Os atores reproduzem esse “não lugar”, com Selton Mello fazendo o típico policial inteligente e frio, que está sempre a um passo de pegar as crianças.

Até mesmo o candidato corrupto de Stepan Nercessian cai nessa generalização, do político que usa a máquina em benefício próprio, enquanto Rooney e Sheen vivem um “casal”, representantes das figuras (substitutivas) materna e paterna. Não quer dizer que seja malfeito. Pelo contrário, conta uma narrativa eficiente que prioriza uma crescente perseguição de gente poderosa aos mais fracos.

O que incomoda em “Trash” é o fato de apresentar, como elementos de identificação de uma realidade específica, apenas o que “Cidade de Deus”, “Tropa de Elite” e tantos outros já tinham mostrado. Daldry trilha um caminho seguro e preguiçoso em relação a sistema político e social complexo até para os brasileiros.

Nessa simplificação – na qual, é bom que se diga, não se chega a cometer erros do tipo fazer do Rio uma floresta amazônica (como em “Feitiço do Rio”) – o filme recorre a situações, personagens e até atores (Leandro Firmino e Wagner Moura) que criam uma relação imediata com os exemplares nacionais. A trilha sonora segue essa apropriação, tirando duas canções de “Tropa de Elite”.
 

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