Entre joias raras, coleção do Instituto Amilcar Martins constitui a melhor mineiriana do mundo

José Antônio Bicalho - Hoje em Dia
23/04/2014 às 07:36.
Atualizado em 18/11/2021 às 02:15
 (Flávio Tavares)

(Flávio Tavares)

O Triunfo Eucarístico está na parte de cima da estante dedicada aos livros do século 18, na sala climatizada da seção de livros raros do Instituto Amilcar Martins. Ao seu lado, também com capa original em couro, está o Áureo Trono Episcopal. São dois livros raríssimos e fundamentais para o estudo da história de Minas Gerais dos setecentos.

No Triunfo Eucarístico está o relato da festa grandiosa realizada em Vila Rica em 1733 para a inauguração da Matriz do Pilar. Foi publicado em Lisboa, um ano depois, para descrever o “evento social mais exuberante da América portuguesa”, do qual participou toda a população da cidade e no qual os nobres se vestiram de sedas e veludos, bordados em ouro e diamante. Já o Áureo Trono fala de outra festa, igualmente teatral e exuberante, em comemoração à chegada a Mariana do primeiro bispo de Minas Gerais.

São, talvez, as duas principais joias da enorme biblioteca mineiriana do Instituto Amilcar Martins, colecionada ao longo de uma vida inteira pelo historiador Amilcar Vianna Martins Filho, professor da Faculdade de Ciências Econômicas (Face) da UFMG. Hoje, o acervo está abrigado numa espaçosa casa dos anos 50, na rua Ceará, quase esquina com Contorno, aberta ao público.

Mas, somente na sala dos livros raros estão outras 2.500 preciosidades. Ali encontram-se também as obras completas de Cláudio Manoel da Costa, em edição de 1768; o Compêndio Narrativo do Peregrino da América, de Nuno Marques Pereyra (edição de 1731, considerado o primeiro romance mineiro); e os poemas épicos Caramuru, de Santa Rita Durão (edição de 1781, sobre a conquista da Bahia), e Uraguay (grafia original, edição de 1769, sobre os entreveros entre portugueses e espanhóis na região do Prata), de Basílio da Gama.

Tem muito mais. Os principais dicionários dos séculos 18 e 19 (Viterbo, Bluteau e Moraes), importantes para os pesquisadores de fontes primárias, além de literatura, poesia, medicina e mineralogia.

Mas, não são apenas os livros raros. Ao todo, a coleção reúne mais de 15 mil volumes, sob o tema único de Minas Gerais. Se não for a maior mineiriana do mundo (a biblioteca pública Luiz de Bessa é um concorrente forte), é a mais organizada e completa no que diz respeito às obras fundamentais produzidas no Estado ou sobre ele.

Instituto publica pouco, mas apenas obras de qualidade

Quando foi fundado, em 2001, o Instituto Amilcar Martins contava apenas com o acervo da biblioteca pessoal do professor Amilcar Vianna Martins Filho, de cerca de cinco mil títulos (o nome do instituto é uma homenagem ao pai do fundador, médico parasitologista e cientista renomado). A coleção havia sido formada, principalmente, ao longo da vida acadêmica de Amilcar, durante o curso de história, na UFMG, e do mestrado e do doutorado nos Estados Unidos.

“Ironicamente, foi nos Estados Unidos que conheci a obra de brasilianistas que não tinha acesso no Brasil e tive contato com fontes primárias, como as mensagens completas de todos os governadores de província brasileiros”, afirma.

No final dos anos 90, já sem espaço em seu apartamento para tantos livros, e consciente da importância do acervo que reunira, Amilcar começou a trabalhar a ideia da estruturação de um instituto. Nos primeiros anos, ele funcionou em meio andar do Edifício Acaiaca. Ali, a estrutura do instituto já estava criada com a seção de obras raras, o corpo restante da biblioteca, a oficina de restauro de livros e a área de publicações.

Dessa última, os títulos saem em ritmo lento, na velocidade com que entra dinheiro no instituto por meio das leis de incentivo à cultura, mas são obras interessantíssimas.eite Criôlo, publicação modernista da década de 20 de Belo Horizonte (na verdade um encarte de uma página no suplemento literário do jornal Estado de Minas), e que estava esquecida, ganhou reedição fac-simile.

Em Defesa do Patrimônio, que reúne a correspondência entre Rodrigo Melo Franco de Andrade, criador do Iphan (na época, Sphan), e seu braço direito nas pesquisas em Ouro Preto, Manoel José Paiva, é outra obra da maior relevância.

O próximo lançamento será o ambicioso Novo Dicionário Biográfico de Minas Gerais, para o qual a biblioteca do próprio instituto foi uma das principais fontes de consulta.

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