Viajar para comer: não existe turismo sem gastronomia

Frank Martins - Hoje em Dia
04/01/2015 às 10:16.
Atualizado em 18/11/2021 às 05:33
 (Guiri Reyes / Divulgação)

(Guiri Reyes / Divulgação)

Quem viaja sabe que essa é uma das formas mais eficientes de escapar da rotina do dia a dia: conhecemos novos ambientes, diferentes paisagens, retornamos com a mente mais aberta (além dos chaveiros e camisetas de praxe) e, na maioria dos casos, trazemos conosco a experiência de algum prato ou sobremesa que comemos durante a viagem.   A gastronomia está cada vez mais presente no turismo brasileiro. O número de viajantes que arrumam as malas com destino a um dos mais de duzentos festivais gastronômicos que ocorrem todo ano pelo país é cada vez maior.   A variedade de sabores e de novos chefs de cozinha aumentam ainda mais o apelo turístico de alguns destinos brasileiros. Para o jornalista gastronômico Rafael Tonon, do blog What The Fork (whatthefork.com.br), esse movimento de viajar para comer está se tornando mais popular no Brasil porque a gastronomia entrou na moda. Ele considera que, além de as condições de viajar pelo país estar melhor, essa dinâmica vem construindo uma imagem de tendência e refletindo nos setores da sociedade.   “O grupo de pessoas que tem como prazer comer e aproveita para viajar cresce a cada dia na nossa sociedade. E o potencial para aumentar ainda mais é enorme. A internet e as redes sociais têm colaborado muito para a escolha desses roteiros e para que as pessoas que foram deem suas opiniões em reviews. Neste sentido, os blogs e os aplicativos de celulares têm exercido um papel fundamental na democratização da informação na área. É importante ressaltar que quem viaja para comer tem bagagem melhor de gastronomia e sempre vai atrás de algo melhor. Com isso, não adianta querer enganar o cliente”, ressalta Tonon.   Exemplos de sucessos de turismo gastronômico, as cidades de Tiradentes (MG), Joinville (SC) e Brotas (SP) realizam festivais que são referências em todo o Brasil. Nenhuma delas nasceu com essa vocação, mas as três encontraram na gastronomia um reforço para seus atrativos turísticos. Tiradentes é uma das principais cidades históricas do país; Brotas, um importante destino de esportes de aventura e Joinville, uma cidade de arquitetura colonial alemã com um dos melhores índices de desenvolvimento humano (IDH).   “Minas faz um bom papel neste tipo de turismo. Soube construir bem a sua imagem e está aprendendo a vender melhor a sua gastronomia. A cidade de Tiradentes é o seu maior exemplo, mas não é a única. São Paulo, pela sua diversidade e pelo grande número de restaurantes, também não pode ser esquecida como destino de turismo gastronômico. Destaco o movimento que acontece em Belém com a redescoberta dos sabores e dos ingredientes típicos regionais que vem encantado turistas daqui e de fora”, assegura Rafael Tonon.   A culinária vem ganhando importância no turismo brasileiro. Dados da Confederação Nacional de Turismo registram, por ano, 10 grandes encontros que reúnem chefs brasileiros e estrangeiros e restaurantes tradicionais no país. Além disso, os festivais regionais já ultrapassam 10 mil edições.   Pesquisa de demanda turística internacional, realizada pelo Mtur (2012), aponta a gastronomia como um dos itens com maior aprovação entre os visitantes estrangeiros: cerca de 90% de satisfação. Isso prova que o turismo gastronômico está presente tanto nas opções de lazer quanto para os negócios.   Os roteiros preferidos Conheça alguns locais que estão entre os destinos preferidos dos que fazem turismo gastronômico no Brasil:   Tiradentes – Pequena cidade de estilo colonial em Minas Gerais, Tiradentes chama a atenção pelas ruas de pedra, pelo casario colonial e pela qualidade da gastronomia. O município oferece aos amantes da boa cozinha uma grande variedade de bares restaurantes com o melhor da cozinha mineira e internacional durante todo o ano.   Belém – Quem se interessa por turismo gastronômico no Brasil não pode deixar de visitar Belém. Afinal, a lista de sabores únicos é extensa e saborosa. Tacacá, pato no tucupi, maniçoba, pirarucu, feijão manteiguinha de Santarém, aviú (tipo de camarão), pimenta de cheiro e uma infinidade de frutos e frutas como o açaí, o cupuaçu, e o bacuri.   Chapada Diamantina – Da comida de garimpo a restaurantes com a filosofia slow-food. Lençóis, a principal cidade desta chapada, é um banquete. Entre os ingredientes típicos estão a palma (um cacto) e a batata da serra. Entre os pratos, pirão de parida (como o nome diz, é feito para mulheres que deram a luz e é feito a base de caldo de galinha caipira) e godó de banana (ensopado feito de banana nanica verde).   Pantanal – É um excelente destino para quem gosta de peixe. Em alguns passeios, o peixe é pescado e preparado no próprio barco. Existem alguns roteiros turísticos são organizados para levar os turistas para conhecer o modo de vida dos pescadores.   Vale dos Vinhedos – Na Serra Gaúcha está uma das regiões mais estruturadas para este tipo de passeio. Lá estão grandes vinícolas e a única escola no Brasil que forma técnicos em enologia. As vinícolas fazem visitas guiadas e existem já roteiros estruturados como o Caminhos de Pedra, Vinhos de Montanha e Estrada do Sabor, todos com degustação de produtos.   Receita Tacacá com tucupí     Tacacá é uma comida regional muito diferente, preparada com o tucupí (caldo da mandioca), previamente fervido com alho e chicória), camarões secos graúdos, goma (mingau feito com uma massa fina e branca, resultado da lavagem da mandioca ralada) e jambú (planta considerada afrodisíaca).   O Tacacá é servido em cuias, acompanhado ou não com molho de pimenta-de-cheiro, e é encontrado geralmente nas esquinas de Belém, em barracas das famosas “tacacazeiras”. É um prato originário dos índios.   Ingredientes 2 litros de tucupí, 4 dentes de alho, 1 colher (chá) de sal, 4 pimentas de cheiro, 2 maços de jambú, 1/2 kg de camarão salgado (seco), 1/2 xícara de goma de mandioca, Pimenta-de-cheiro.   Preparo Coloque em uma panela o tucupí, tempere com alho, chicória, alfavaca e sal, leve ao fogo e deixe levantar fervura. A seguir abaixe o fogo, tampe a panela e deixe cozinhar por 30 minutos. Cozinhe o jambú em água quente, deixe cozinhar até os talos ficarem macios, retire e escorra, deixe reservado.   Retire a cabeça do camarão e deixe de molho em uma vasilha com água para retirar o sal. Ferva 4 xícaras de água com sal a gosto, dissolva a goma em uma vasilha com água fria, acrescente aos poucos na água fervente, até ficar um mingau grosso, ou, ao ponto de sua preferência.   Dicas: sirva em uma cuia na seguinte sequência: duas colheres de sopa de tucupí, uma concha de goma, uma concha de tucupí, algumas folhas de jambú e 5 camarões, sal e pimenta a gosto. Na falta de goma de mandioca pode ser usada o polvilho azedo. O rendimento é de 6 porções.

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