Titulares em amistoso, reservas enxergam a chance de virar protagonista

Felipe Torres - Enviado especial
03/06/2014 às 08:17.
Atualizado em 18/11/2021 às 02:51
 (Alexandre Loureiro)

(Alexandre Loureiro)

TERESÓPOLIS – O banco de reservas gera sentimentos desencontrados no futebol. Para os que iniciam a trajetória nos gramados, estar ali é motivo de orgulho, a oportunidade que lhes faltava na carreira. Por sua vez, os “rodados” o temem e lançam olhares de desconfiança. Sentar perto do técnico significa aceitar a situação de coadjuvante e ter de acompanhar os titulares em ação de uma posição privilegiada.
 
Na turma da Seleção Brasileira, que encara o Panamá, nesta terça-feira (3), às 16 horas, em Goiânia, o primeiro amistoso antes da caminhada rumo ao hexa na Copa do Mundo, a segunda alternativa se adequa ao perfil dos canarinhos. A maioria ostenta a condição de astro nos seus clubes. E, mesmo que seja um torneio de tamanha importância, a sensação do “quase” deve bater forte.
 
Por isso, o zagueiro Dante e o volante Ramires prometem “suar sangue” nesta tarde, no Serra Dourada, em Goiânia. Eles herdaram as vagas de Thiago Silva e Paulinho, respectivamente, poupados do confronto no time de Luiz Felipe Scolari. Eles sequer viajaram. Permaneceram na Granja Comary, em Teresópolis. A estreia contra a Croácia, pelo Grupo A, será em apenas nove dias, no Itaquerão, em São Paulo, na abertura do Mundial.
 
Oportunidade

 
Se os atuais reservas do comandante Felipão bisbilhotarem as cinco conquistas mundiais do Brasil, vão se animar. Nas campanhas do tetra e penta, com Carlos Alberto Parreira e Scolari, por exemplo, atletas considerados suplentes ganharam uma chance e não a desperdiçaram, colocando nomes de peso no banco.
 
Em 1994, Raí, ídolo do São Paulo, desembarcou nos Estados Unidos com a camisa 10. O meia seria o armador dos titulares de Parreira. As atuações não agradaram na fase de grupos e o volante Mazinho tomou sua posição já nas oitavas, na vitória, por 1 a 0, sobre os anfitriões da Terra do Tio Sam.
 
A expulsão do lateral-esquerdo Leonardo, após dar uma cotovelada em Tab Ramos, nesse duelo, também garantiu que Branco fizesse história. Nenhum torcedor canarinho se esquece do gol de falta em De Goeij, além dos 3 a 2 sobre a Holanda nas quartas.
 
Vale lembrar ainda que Ricardo Gomes e Ricardo Rocha formariam a zaga titular. Ambos acabaram machucados, cedendo lugar a Aldair e Márcio Santos.
 
Estrela de Kléberson
 
O relógio apontava 34 minutos da etapa complementar, em Yokohama, no Japão. O volante Kléberson passa a bola para Rivaldo, que, com um corta-luz, a deixa para Ronaldo.
 
O Fenômeno supera Oliver Kahn e marca o segundo gol frente a Alemanha. O penta da Seleção estava sacramentado. Kléberson foi ovacionado pelos torcedores canarinhos, encerrado a decisão. O detalhe é que ele começou a Copa de 2002 na reserva do meia Juninho Paulista. O mineiro Gilberto Silva, seu companheiro de meio-campo, havia substituído Emerson, que, machucado, foi cortado.

Em 58, Pelé e Garrincha se tornaram titulares apenas no terceiro jogo

Pelé e Garrincha no banco de reservas da Seleção. Isso não é uma piada, ou outra lenda da bola! Aconteceu mesmo na trajetória do primeiro título de Copa do Brasil, em 1958, na Suécia. A dupla não tinha a preferência do técnico Feola, que apostava na ofensividade Joel e Dida.
 
Apenas no terceiro duelo do torneio, contra a União Soviética, os craques apareceram. Não sairiam mais. Na atividade antes do duelo, Feola fez mistério e enganou os repórteres. O treinador disse que treinaria à tarde, mas acabou comandando o treinamento pela manhã. Assim, ninguém soube que Pelé e Garrincha ficariam com as vagas.
 
A partir de então, ambos não perderam nenhuma partida atuando juntos pela Seleção. Até o Mundial de 1966, foram 40 duelos um ao lado do outro, com 35 resultados positivos e cinco empates.
 
No bi do Chile, em 1962, Pelé viveria um duro golpe, ao machucar a coxa direita diante da Tchecoslováquia. Era o segundo compromisso da Seleção.
 
Por isso, um reserva precisou assumir a responsabilidade de brilhar no ataque. O escolhido foi Amarildo e ele não decepcionou. O avante do Botafogo, apelidado pela imprensa chilena de o “Pelé branco”, marcou três gols.
 
Improvisações
 
As improvisações chamaram a atenção na campanha do tri, em 1970, no México. A começar pela troca do técnico João Saldanha por Zagallo. Dentro das quatro linhas, o Brasil apostou na polivalência das suas peças.
 
O volante cruzeirense Piazza parou na zaga, função que desempenhou muito bem. Jairzinho foi deslocado à ponta direita. “Eu era um ponta de lança, um camisa 10. O que acontece é que aquela Seleção do Zagallo, de 1970, conseguiu algo especial: juntou, na mesma equipe cinco caras que exerciam praticamente a mesma função em seus clubes. Éramos todos meias-atacantes”, declarou o Furacão, ao site da Fifa.
 
Ele se refere a Gérson, do São Paulo, Tostão, do Cruzeiro, Rivellino, do Corinthians, e o rei Pelé, astro do Santos. “A posição foi determinada praticamente pelo número da camisa: eu usei a 7 e fui ponta-direita. O Rivellino, com a 11, ponta-esquerda. E, no fim, todos atacávamos”, revelou Jairzinho.

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