(Divulgação)
BRASÍLIA – Devido à diversidade de propostas dos filmes da mostra competitiva do 47º Festival de Brasília, o resultado, que será divulgado nesta terça-feira (23) à noite, é uma incógnita. Certo mesmo é a força do cinema pernambucano atual, representado no festival com dois longas. Depois da ácida comédia política “Brasil S/A”, de Marcelo Pedroso, a noite de domingo teve a exibição de outra obra marcante: “Ventos de Agosto”, de Gabriel Mascaro.
O olhar de Mascaro flagra o homem em contato com a natureza. Mas não se trata de uma narrativa bucólica, que valoriza a ecologia e critica a interferência do ser humano. Aponta, sim, para o intercâmbio do prosaico e da singeleza com os conflitos e os ruídos (interferências não naturais). Um bom exemplo está na sequência inicial, em que um barco ganha gradativamente o rio.
A beleza do lugar contrasta com o rock saído de uma caixinha de som, enquanto uma garota se “bronzeia” com o líquido de um refrigerante. Mascaro, porém, não condena essa estranha amálgama e vê nela uma harmonia até mesmo estética.
A maneira como fotografa esses corpos estampa uma conformidade com esse meio. O que altera são os conflitos internos. A narrativa é, ao mesmo tempo, frágil e poderosa, vasculhando pequenos aspectos de uma comunidade litorânea que ampliam a dicotomia entre passado e futuro, tradição e modernidade e antiguidade e juventude.
O protagonista está preso fortemente ao passado de sua família, e quer sair daquele cerceamento. Aquele lugar de exuberância acaba se tornando uma prisão emocional para o rapaz e sua namorada, que deixa claro esse incômodo ao dizer, para a sua avó, que só está cuidando dela por que sua mãe pediu. Seu intuito mesmo é fugir. A narrativa é interrompida justamente nesse momento de decisão, em que imaginamos os desdobramentos, mas sem saber o que trarão para o casal.
(*) Viajou a convite da organização do Festival de Brasília