O número de incêndios florestais registrados em Minas nos sete primeiros meses deste ano já é superior à média histórica contabilizada no mesmo período entre 2009 e 2013. Houve aumento tanto nas ocorrências dentro de áreas protegidas (25%) quanto na quantidade de hectares queimados (150%). A estatística pode ficar ainda pior: o período crítico apenas começou.

Historicamente, focos de calor identificados em unidades de conservação estaduais aumentam significativamente a partir de julho e só voltam a cair após outubro. Os dados mostram que, nestes quatro meses, são registradas mais de 75% das ocorrências contabilizadas durante todo o ano. Em 2013, entre julho e outubro, foram identificados, via satélite, 5.658 focos, que representam 79% do total.

Os registros de incêndios florestais também crescem nestes quatro meses específicos. No ano passado, das 384 queimadas registrados em áreas protegidas de Minas, 316 (82%) ocorreram neste período. Do total de hectares destruídos em 2013, 94% foram consumidos entre julho e outubro. Na maioria dos casos, os incêndios são provocados de forma criminosa.

Um ato desse tipo, ao que tudo indica, provocou as chamas no Parque Estadual da Serra do Rola-Moça, na região metropolitana. O fogo, que começou por volta das 10h40 desta segunda-feira (4), consumiu parte do Morro do Cachimbo – área que há mais de 16 anos não era atingida por queimadas. As chamas foram controladas no início da noite.

“Esse foi o pior dos 75 incêndios registrados no parque neste ano. Praticamente todos eles são criminosos. O prejuízo para a fauna e a flora é sempre grande e estamos trabalhando para que espécies endêmicas não sejam atingidas” explicou o gerente-técnico do parque, Marcus de Freitas.

Risco de extinção

A unidade, que completa 20 anos no mês que vem, tem cerca de 4 mil hectares e, inclusive, é área de ocorrência do lobo-guará, cuja espécie está em extinção.

Desde a manhã de segunda-feira, mais de cem pessoas, entre brigadistas e bombeiros, estão mobilizadas para tentar debelar as chamas. O trabalho é feito com a ajuda de quatro aeronaves (dois air tractors e dois helicópteros), que jogam água no local das chamas.

O pior incêndio registrado na unidade de conservação, nos últimos anos, ocorreu em setembro de 2011, quando 1.949 hectares foram destruídos, o que representa 48% de toda a área do Rola-Moça.   Devastação é ainda maior no entorno das unidades de conservação   Em 2014, foram registrados 155 incêndios florestais em unidades de conservação estaduais – até o início deste mês. Ao todo, mais de 870 hectares de vegetação foram queimados, apenas dentro das áreas protegidas.

O entorno das unidades também vira alvo das chamas. Incêndios nessas áreas já dizimaram mais de 680 hectares, entre janeiro e agosto deste ano.   Maior desafio é localizar criminosos   A Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Semad) informa que, ciente do aumento dos incêndios florestais e dos focos de calor nos próximos meses, adota medidas preventivas para evitar o crescimento ainda maior dos casos.

Dentre as ações em curso estão a criação de áreas que impedem a progressão do fogo, o trabalho educativo com comunidades vizinhas e visitantes e campanhas em veículos de comunicação de massa. A maior mudança, destaca a Semad, passa pela conscientização das pessoas. “Esse é um panorama que só vai ser mudado com a participação da população, através de denúncias e de mais respeito com o meio ambiente”, avalia o diretor de prevenção e combate a incêndios do órgão, Rodrigo Belo.

A dificuldade de identificar e responsabilizar autores de incêndios criminosos também contribui para a perpetuação do problema. “Se conseguíssemos chegar ao culpado de todas as ocorrências e ele fosse punido com multa ou pena, teríamos um resultado melhor. Estamos nos aproximando da Polícia Civil para que consigamos realizar um trabalho mais eficaz”, afirmou Belo.

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