Reforço em busca de resposta após tragédia

Renata Galdino - Hoje em Dia
05/07/2014 às 10:25.
Atualizado em 18/11/2021 às 03:16
 (Wesley Rodrigues/Hoje em Dia)

(Wesley Rodrigues/Hoje em Dia)

Vinte e dois peritos da Polícia Civil reforçaram o time de engenheiros e especialistas da Polícia Federal (PF) nos trabalhos de apuração das causas do desabamento do viaduto Batalha de Guararapes sobre a avenida Pedro I, em Belo Horizonte. Divididos em equipes de quatro pessoas, eles farão plantão para monitorar a situação da área e avaliar as causas da tragédia.   Neste sábado (05), às 7h, o grupo se reúne para tirar as primeiras conclusões sobre o que teria ocorrido e delinear as estratégias de retirada dos escombros e liberação da via. Quase 40 horas após o acidente que matou duas pessoas e deixou outras 23 feridas, sabe-se apenas que o elevado caiu porque o pilar central, de 7,5 metros, afundou cerca de seis metros.    Mas o que teria causado o chamado recalque ainda é desconhecido. É possível que o pilar, um bloco de 4,5 metros por 8 metros, não tenha suportado o sobrepeso que veio em decorrência da retirada de escoras do elevado.   Essa é uma das causas apontadas pelo Instituto Brasileiro de Avaliação e Perícias de Engenharia de Minas Gerais (Ibape-MG). Problemas de fundação, característica de solo não contemplada no projeto da obra e perda de atrito nas estacas que compõem o pilar não são descartadas.    Para saber a situação do solo da área, ao lado do Parque Lagoa do Nado, onde há um espelho d’água, equipamentos farão a sondagem do terreno. Os trabalhos indicarão onde está o nível de água e qual o tipo de solo. O resultado será comparado a relatórios das sondagens do início do projeto da obra.   “Não vemos com frequência esse tipo de desabamento. A estrutura desceu direto, rapidamente. Sabemos que houve o afundamento. Agora é descobrir o que o causou”, frisou o engenheiro Frederico Correia Lima, presidente do Ibape. O especialista também não descarta erro no projeto. “É necessário, porém, analisarmos os estudos feitos e o diário de obras para verificar a compatibilidade desses projetos em relação ao que foi executado”.    Outro viaduto ao lado do que caiu sofreu “um impacto pequeno relativo ao desabamento do primeiro”, segundo Frederico Correia. “O colapso fez com que o outro se deslocasse cinco centímetros. Ele está sendo monitorado. Nas últimas horas não houve movimentação que indicasse perigo”, afirmou.   O viaduto desabou por volta das 15h de quinta-feira, esmagando dois caminhões, um carro e parte de um ônibus suplementar. Duas pessoas morreram e 22 ficaram feridas.      ‘Jeitinho’ na obra põe edificações em risco     Normas técnicas que deixam de ser seguidas à risca e medidas que já viraram praxe nas grandes obras podem deixar em perigo outras construções na cidade. O alerta é da diretora do Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia (Ibape - MG), Polyanna Lima Veras, especialista em patologia de edificações.   “Respeitar o tempo é primordial em qualquer obra. O concreto precisa passar pelo processo de cura, que é a fase de secagem. Se as escoras e formas forem retiradas precocemente, podem aparecer problemas na construção”, afirma.   Neste sábado, há recursos para acelerar essa etapa, como um componente adicionado ao concreto, em doses moderadas, para agilizar a secagem. O artifício é permitido mas, na opinião da especialista, a preferência deveria ser dada à cura natural.   Antes de ser utilizado em uma obra, o concreto também deveria passar por uma espécie de teste em laboratório, como determina a norma técnica. “O procedimento avalia a qualidade, resistência e outras características do material”. Muitas construtoras, porém, descartam essa regra como medida de redução de custos.   A especialista também destaca a importância do acompanhamento das obras, sobretudo porque falta mão de obra especializada e operários trabalham sem conhecimento suficiente na área. A presença constante de um profissional minimiza riscos. “Manutenção também é indispensável, e esse é um ponto que deixa de ser levado a sério no Brasil. A responsabilidade por essa fiscalização é definida em contrato”.    Com o passar dos anos, as inspeções devem se tornar mais frequentes. “Uma edificação é feita para durar, no mínimo, 50 anos. Mas, pela desobediência a essas regras, vemos construções recentes irem ao chão”.   (Colaborou Marcelo Ramos e Raquel Ramos)     PONTOS POLÊMICOS     PERGUNTAS   - Se o viaduto estava em construção, porque o trânsito sob a estrutura esta liberado?   - O projeto de engenharia estava correto?   - A retirada das escoras foi feita de forma correta e no momento adequado?   - Quando foram constatadas falhas no projeto do outro viaduto construído pela mesma empresa, os demais elevados foram devidamente periciados?   - Por ser terreno irrigado, houve estudo adequado de compatibilidade do solo antes do início da construção?   - Sendo um dos acessos ao Mineirão, na terça-feira, dia de jogo pela semifinal da competição, o trânsito na região já estará normalizado?

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