Poesia de Manoel de Barros inspira musical ‘Crianceiras’

Pedro Artur - Hoje em Dia
23/08/2014 às 11:02.
Atualizado em 18/11/2021 às 03:54
 (Vania Jucá /Divulgação)

(Vania Jucá /Divulgação)

A poesia de Manoel de Barros combina com tudo. Leve e plena como a existência. E fica ainda mais moleque quando fala para e com as crianças, voa por um mundo fantástico e infinito. Inspirado nesse universo lúdico, o músico e compositor sul-mato-grossense Márcio de Camillo desembarca em Belo Horizonte com o musical “Crianceiras”.   O desafio, segundo Camillo, era estar à altura da poesia de Barros, considerado o maior poeta da língua portuguesa vivo (ele tem 97 anos e mora em Campo Grande), como também da exigente criança dos dias atuais. “A criança é inteligente, não gosta apenas do laranja e do azul, gosta também de cinza, marrom. E hoje está muito mais longe do que a gente imagina com a tecnologia disponível. Ela (criança) cresce numa velocidade grande, é preciso estimular o visual, o auditivo, e usar uma múltipla linguagem”, sinaliza.   Assim, o espetáculo transita pela poesia, música, imagem, ação e movimentação, levado a cabo por atores e músicos. “Como diz Manoel, poesia é voar fora da asa. Assim, juntamos várias linguagens, tentando mostrar ao público a riqueza da obra dele. Não foi fácil, mas o diretor Luiz André (Cherubini) também captou essa sensibilidade da obra do poeta, e construímos um espetáculo para toda a família”, explica.   Camillo diz que está feliz por trazer “Crianceiras” a BH. “A gente sabe que a poesia do Manoel de Barros é muito consumida na cidade e em Minas. Já rodamos por várias partes do país, recentemente fizemos sete apresentações em três dias em Campo Grande para 5.400 pessoas”, ressalta o compositor, que nutre um sonho ousado: manter o espetáculo por dez anos.     INÍCIO   Com grande investimento em tecnologia, o projeto, que consumiu seis meses de ensaio, estava na cabeça de Camillo há pelo menos 20 anos – até que vingou em 2007. “Em 1990, conheci o Manoel na casa dele e houve empatia, surgiu uma amizade. Desde então, fiquei com isso na cabeça. Em 2007, consegui realizar esse sonho ao compor as melodias para as poesias dele; demorei cinco anos para musicar. Não tinha pressa. Em 2011, lancei o CD (indicado para o Prêmio da Música Brasileira) e aí o canal Gloob entrou como parceira. Fizemos cinco vídeos animados da música, (o projeto) tomou corpo grande. E já estamos há um ano e oito meses com o espetáculo em todo o país, para mais de 80 mil espectadores”.      ‘À Tardinha no Ocidente’ diverte e leva à reflexão   Em seu primeiro espetáculo de rua, “À Tardinha no Ocidente”, a Primeira Companhia dá uma chacoalhada na República. Desde o povo bestificado assistindo ao desfile de Deodoro da Fonseca e camaradas de armas até os dias atuais em que ainda tenta ser o protagonista.    Faz isso de uma forma brincalhona, às vezes, até debochada, mas com alto poder provocativo e de reflexão. Quem quiser acompanhar essa história basta dar uma chegada neste sábado (23), a partir das 16h, na Praça Floriano Peixoto (Santa Efigênia). Amanhã, a trupe se apresenta, às 10h, na Praça Milton Campos, em Betim.    A atriz Marina Arthuzzi está à vontade com o texto “Desabafo sobre o Brasil República”, da companheira de companhia Marina Viana, que serviu de base para a encenação de “À Tardinha no Ocidente”.    “São cinco crianças brincando na rua entre a Ave Maria e a Voz do Brasil, tempo que tinham para brincar. Essas crianças são as personalidades dessas vertentes da República, como a ditadura, com Dita; a anarquia, com Ana; Topes, é a utopia; a monarquia é a Mona e a Rê a República. Por exemplo, o jogo de queimada aborda as relações políticas, uma metáfora que criamos”, observa.   A montagem, que perpassa por todos os caminhos e descaminhos da nossa República, brinca também com os costumes de bebericar dos brasileiros, mas, sempre, com viés forte político.    Do café com leite, que remete à política da República Velha; do chimarrão, que lembra a chegada de Getúlio Vargas ao poder com a Revolução de 1930, e da Coca Cola e da vodca da Guerra Fria.   O espetáculo, com direção de Byron O’Neil, é concebido de forma compartilhada pelas atrizes da Primeira Companhia, que inclui também Mariana Blanco, e as artistas convidadas Dayane Lacerda e Denise Leal. 

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