(Bruna Assis Brasil)
“Não Quero Ser Marrom”! Eu quero ser branca como você”, disse, quase chorando, a garotinha Flávia, personagem do livro “Flávia e o Bolo de Chocolate”, de Míriam Leitão, editora Rocco.
Flávia é filha de coração de Rita, uma mulher que não consegue engravidar e decide procurar uma criança que não tenha mãe e a queira. Rita realiza seu sonho ao adotar a pequena Flávia até o dia em que a menina percebe a diferença entre a cor de sua pele e a da mãe. É quando entra em crise e começa a questionar as diferenças.
ENCONTRO
Jornalista e autora de outros dois livros infantis “A Perigosa Vida dos Passarinhos Pequenos”, que lhe rendeu prêmio FNLIJ na categoria “revelação”, e “A Menina de Nome Enfeitado”, Míriam Leitão disse que se inspirou numa história real para escrever “Flávia e o Bolo de Chocolate”. “Sabe aquele dia que você encontra uma amiga da universidade, sai para bater papo e pôr a conversa em dia? Reencontrei Rita, amiga querida, que mora em Vitória, depois de anos, e ela me contou essa história que ela viveu e nela me inspirei. O livro acabou nos aproximando ainda mais e hoje também sou amiga da Flávia, a filha dela, que já é adulta. Claro, que usei um pedaço da realidade e em cima disso construí a minha ficção”.
Adoção, diversidade e preconceito são tratados de maneira leve e sutil na história à medida que a mãe vai desmontando, com doses de bom-humor, o desconforto da filha com o fato de serem diferentes uma da outra. “Está bom, Flávia. Vamos fazer assim: de hoje em diante, nesta casa, não se faz mais bolo de chocolate”, propõe a mãe. “Ué! Mas eu adoro bolo de chocolate”, diz Flávia. “Não pode. É marrom e você não gosta de marrom”, rebate a mãe.
DESAFIOS
“Meu desafio foi tratar delicadamente o que é difícil. Não quero criar uma carga sobre a criança, quero diverti-la e, ao mesmo tempo, contar para ela sobre essas duas questões: a adoção e a diversidade de cor da pele entre os brasileiros. Cada palavrinha foi pensada e repensada”, conta Míriam, que disse ainda ter recebido muitos retornos de mães que tiveram boas conversas com seus filhos sobre aceitação das diferenças entre as pessoas e amor entre pais e filhos após a leitura do livro. “Estou muito feliz com o resultado do trabalho. E essa conversa é necessária seja qual for a situação da família”.
Os traços delicados da ilustradora Bruna Assis Brasil enriqueceram ainda mais a narrativa.