A arte de plantar

Hoje em Dia
26/08/2015 às 09:41.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:30

Por: Benjamim Salles Duarte*   A safra brasileira de grãos 2014/2015, de 2O8 milhões de toneladas, que é histórica e num momento delicado por que passa a economia nacional, resulta minimamente da convergência de alguns fatores aceleradores. Entre eles estão os mercados atraentes, acesso dos empreendedores rurais às inovações tecnológicas nas culturas e também nas criações via extensão rural pública e privada, crescimento da renda per capita, que promove o aumento das vendas de produtos alimentícios, crédito rural disponível no campo, exportações do agronegócio e das políticas agrícolas, em que pesem as restrições impostas pelas logísticas operacionais vigentes das fazendas à mesa do consumidor.   Segundo a ONU, a segurança alimentar recomenda uma disponibilidade de grãos per capita entre 5OO quilos e 1.OOO quilos/ano, limite superior desejável considerado pelos analistas. No Brasil, já contabilizando 2O4 milhões de habitantes, essa disponibilidade alimentar seria da ordem de 1.O19 quilos per capita/ano. Portanto, sem muitos detalhamentos, pode-se inferir que a questão é de acesso e não decorrente de safras agrícolas limitadas.   Comparando-se a safra brasileira de 2004/05 com a de 2014/15, a produção cresceu 82%, a produtividade média em quilos/hectare, 41%, e a evolução da área de plantio apenas 17,7%. Mercado e adoção de tecnologias explicam esse desempenho, que se configura substantivo desde a segunda década de 197O. Ganhos tecnológicos implicam também na redução considerável das pressões sobre os recursos naturais. A relação dos empreendedores rurais com a natureza é sinérgica e também até reciclada, através de uma espécie de cordão umbilical de aço.   Além disso, as boas práticas recomendadas à agricultura irrigada requerem o manejo correto dos recursos hídricos nas paisagens das respectivas bacias hidrográficas para conciliar, segundo as culturas, as chuvas com o apoio das técnicas diferenciadas de irrigação. Um hectare irrigado poderá ser usado em até três culturas anuais se comparado à cultura de sequeiro, que depende direta e exclusivamente apenas das chuvas, generosas ou escassas. Há muita ciência e tecnologia nas artes de plantar, criar, abastecer e exportar. A agropecuária não é obra para amador. Outra abordagem indispensável é a gestão dos estabelecimentos rurais, num horizonte de tempo, nos eixos econômico, social e ambiental, num universo de 551.617 estabelecimentos havidos em Minas Gerais, segundo o Censo Agropecuário de 2OO6, vigente. Essa trilogia exige multiplicidade de talentos humanos no campo, vigorosa assistência técnica e extensão rural, missão da Emater-MG, no que lhe compete, sintonia fina com os mercados e pesquisa agropecuária dilige nte, bem como acesso regular às tecnologias modernas de informação para que o decidir seja menos traumático, pois não existe risco zero em nenhuma atividade humana. Entretanto, sem o binômio água e alimentos disponíveis não há vida como a que se conhece e muito menos economias sustentáveis. A crise hídrica é um pequeno exemplo.   * Engenheiro Agrônomo - Emater-MG

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