Chance de recomeço para detentos da Nelson Hungria

Renata Galdino - Hoje em Dia
29/06/2014 às 09:17.
Atualizado em 18/11/2021 às 03:11
 (Frederico Haikal/Hoje em Dia)

(Frederico Haikal/Hoje em Dia)

Deixar o sistema penitenciário nem sempre significa o fim do cumprimento da pena. Do lado de fora da cadeia, o ex-detento enfrenta uma nova “sentença”: a dificuldade de conseguir um emprego e ter condições de recomeçar a vida em sociedade.    Muitas vezes, somente o aprendizado com o curso profissionalizante dentro das penitenciárias não é suficiente. “Quem está saindo da cadeia após tantos anos em reclusão precisa de orientação sobre como se portar em entrevistas de emprego, como tratar o cliente ou um fornecedor, por exemplo. Precisa de aprendizado sobre cidadania”, explica Daniela Prado, coordenadora do Programa de Inclusão Social de Egressos do Sistema Prisional (Presp), da Coordenadoria de Prevenção à Criminalidade, ligada à Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds).   Foi a preocupação com a situação do detento pós-cadeia que levou o Presp a desenvolver o curso de competências profissionais, ministrado na Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem, Região Metropolitana de Belo Horizonte. A capacitação, inédita no Estado (e desenvolvida em um presídio com perfil de presos perigosos), pretende preparar o detento para o mercado de trabalho. Para muitos, um cenário aqui fora bem diferente de quando entraram na prisão.   DIPLOMA A segunda turma treinada na Nelson Hungria foi certificada na última quinta-feira, em solenidade simples, mas alegre e cheia de expectativa. Quatorze condenados receberam o diploma, comprovando participação nas aulas com temáticas de direitos humanos e cidadania, como relações humanas e ética, empreendedorismo, saúde, direito do consumidor e meio ambiente.    As mudanças na sociedade também foram discutidas. Nos últimos cinco meses, eles tiveram oito encontros quinzenais, com duas horas de duração, com a equipe do Presp. Os técnicos são profissionais do Instituto Elo, associação privada sem fins lucrativos qualificada como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) e que presta serviço para o governo.    A psicóloga Carolina Ribeiro, uma das instrutoras do curso, diz que a experiência é compensadora. “Eles têm dúvidas de como se portar lá fora. Aqui, eles debatem seus receios e trocam experiência, com crescimento pessoal para cada um. São críticos e participativos, com expectativa de aprender coisas novas aqui e lá fora”, disse.   Ao fim do curso, agradecimento e esperança. “Dentro de uma cela, pensar bobeira é comum, já que não se tem nada para fazer. O curso nos ensinou a andar de cabeça erguida, a ter respeito, disciplina e lealdade, coisas que vou aplicar quando sair daqui. Quero ser um empresário de sucesso no ramo de gesso”, afirma Edmar Alves Vicente, de 40 anos, preso há 11 por tráfico de drogas e assalto.

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