Aos 34 anos, Alessandro relembra carreira e revela sonho de fazer despedida

Henrique André
hcarmo@hojeemdia.com.br
23/04/2016 às 19:49.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:05
 (Henrique André)

(Henrique André)

Apesar de não disputar partidas oficiais há um ano, Alessandro não admite ser chamado de ex-jogador. Personagem importante no futebol mineiro, o atacante de 34 anos, apesar do período desempregado, não desistiu de uma aposentadoria digna. Atualmente dono de uma escolinha de futebol na região da Pampulha, ele não tira da cabeça os momentos vividos com as camisas de América, Atlético, Cruzeiro e Ipatinga.
Em entrevista exclusiva ao Hoje em Dia, o atacante fala sobre a emoção de ter representado os três grandes clubes de Belo Horizonte, comenta os atritos com o técnico Adilson Batista na Raposa, lembra a saída do Galo e revela o sonho de encerrar a carreira com o uniforme do Coelho.

Atualmente você é dono de uma escolinha de futebol. Qual é a sensação de ensinar vários garotos a jogar bola?
Estou me surpreendendo com essa experiência. Não me via nesse trabalho. Vejo o carinho dos meninos, eles lembram de mim, me reconhecem. Com as reportagens que saem, principalmente agora na semana do clássico, eles ficam vivenciando esses momentos.

Você se aposentou ou ainda podemos ver o Alessandro em campo?
Eu não parei. Tem um ano que não jogo, mas é porque apareceram situações que não compensavam financeiramente. Não valia a pena largar a estrutura que montei para os garotos e ir para alguns clubes arriscar não receber salário. Minha família também não quer sair de Belo Horizonte. Talvez possa pintar uma oportunidade no Brasileiro, num clube bacana. Queria encerrar com 35 anos. Talvez pudesse ter chegado mais longe, mas não sou frustrado. Tive três convites do interior para o Mineiro, mas, por esses motivos, não aceitei.

Você se sente privilegiado por ter sido um dos poucos a vestir as camisas de América, Atlético e Cruzeiro?
Sim. Não posso deixar de citar o Ipatinga também, pois fiz uma bela história lá. Me sinto feliz, porque isso é para poucos. Quando houve a troca do Cruzeiro para o Atlético, sofri muita pressão. Depois, voltei para o América, onde recebi todo carinho. Minha vontade, que poucos sabem, era encerrar a carreira lá (no América). Por causa de alguns integrantes da diretoria (passada), acabou não acontecendo.

O América é o clube com o qual tem mais apego?
Sim. É um clube que eu cheguei com 14 anos e onde encontrei pessoas que me ajudaram muito, mesmo tendo uma estrutura aquém desta que existe hoje. Me ajudaram a alavancar minha carreira. Nesta época, cheguei até às categorias de base da Seleção Brasileira.Renato Cobucci - 20/04/2012 / N/A

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Você fez o gol do último título mineiro do América, em 2001. Aquela final contra o Atlético ainda te acompanha no dia a dia?
Me lembro como se fosse ontem. Eu tinha 18 anos. Vai ficar marcado pela forma que foi, por ter sido no Mineirão. Ganhamos o primeiro jogo por 4 a 1. Para o segundo, o Lula Pereira, treinador na época, quis fazer uma formação diferente e acabou me deixando de fora. Ele falou que eu seria a “arma secreta” dele. Eu tinha jogado o campeonato inteiro. Faltando menos de 15 minutos para o jogo terminar, estava 3 a 0 para o Atlético. Eles seriam campeões. Foi aí que ele me acionou. Não pelo nome, mas por “arma secreta”. Entrei e acabei fazendo o gol no canto esquerdo do Velloso. Às vezes, quando os jogadores da minha época me encontram, me chamam por este apelido.

É verdade que, no Cruzeiro, o Adilson Batista te cortou de um jogo, já dentro do ônibus?
Hoje eu acho graça dessa história. Na verdade, não foi dentro do ônibus. Íamos começar o Campeonato Mineiro, concentramos dois dias antes, e quando estávamos indo para o jogo, ele me comunicou que eu estava cortado, pois o contrato do Soares havia sido regularizado, e ele iria para a partida. Fiquei bastante chateado e procurei a diretoria para conversar. Foi o primeiro desacerto com o Adilson. Fiquei chateado por que o Zezé (Perrella) e o Alvimar tinham tentado me contratar três vezes. Não senti vontade nenhuma no Adilson em me utilizar. Deixei claro que eles poderiam me emprestar.Carlos Roberto - 12/2/2009 / N/A

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Guarda alguma mágoa do Adilson?
Ele optou por fazer o que achava melhor. Não gosto da forma que ele trabalha. Ele teve muitas oportunidades e nunca conseguiu sobressair. Pessoalmente eu não posso falar, porque não convivemos muito. Na minha opinião, foi ele que pediu a rescisão do meu contrato. Fui escolhido o melhor em campo em um jogo contra o Guarani. O jogo seguinte era pela Libertadores. Durante a semana, ele nem me colocou no coletivo e me deixou treinando separado. Procurei a diretoria novamente. Fiquei chateado com o presidente, porque larguei dois anos de contrato no Japão para jogar aqui, e ninguém ficou do meu lado.

“Minha vontade, que poucos sabem, era encerrar no América. Por causa de alguns integrantes da diretoria, isso acabou não acontecendo. É um clube onde cheguei e encontrei pessoas que me ajudaram a alavancar minha carreira de jogador”

Como você chegou ao Atlético, em 2009?
Quando saí do Cruzeiro, num momento conturbado, não tive apoio de ninguém. Rescindi um bom contrato, sem ter fechado com nenhum clube. Minha família e alguns amigos falavam que eu não poderia fazer aquilo. Foi aí que recebi uma ligação do presidente Alexandre Kalil. Sempre o admirei, mas nunca havíamos conversado. Ele disse que me daria o mesmo contrato que eu tinha no Cruzeiro e mais um ano. Foi difícil sair do Cruzeiro e ir para o maior rival. A pressão na rua, em casa e na imprensa foi muito grande. Mas fui muito bem acolhido. Até o Leão (treinador) me ligou e me deu muito tranquilidade.

Como resume sua passagem pelo clube?
Foi razoável. Poderia ter sido bem melhor. Faltou um pouco mais de oportunidade e sorte. Perdemos o Mineiro, e o Leão foi trocado pelo Celso Roth, com quem eu já tinha trabalhado no Flamengo. Ele trouxe alguns jogadores e outra filosofia de trabalho. Fui perdendo espaço com o passar do tempo. No outro ano, com a chegada do Luxemburgo, ele deixou bem claro que traria outros jogadores. Tinha me comunicado, inclusive, que estava tratando da vinda do Neto Berola e que, em troca, me mandaria para o Vitória. Mas eu não aceitei.

Pelo Ipatinga, você participou das semifinais do Mineiro de 2010, contra o Cruzeiro. Foi um jogo muito conturbado, graças à arbitragem de Ricardo Marques Ribeiro. O que você lembra daquele dia?
Da forma que ele (árbitro) estava apitando o jogo, foi um incentivo a mais para nós. Ele estava sem pulso firme e errando lances fáceis. Ele anulou um gol meu e não deu um pênalti que sofri do Fábio. No intervalo, combinamos de superar todos os obstáculos. Voltamos para o segundo tempo com o dobro da garra. Por causa da classificação, ganhamos uma premiação muito boa do presidente. Eu tomei um cartão amarelo num lance que nem participei, e outro quando fui comemorar o gol. Acabei de fora da final.

Você já trabalhou com Givanildo Oliveira, atual treinador do Coelho. O que tem a dizer sobre ele?
Ele tem os pés nos chão, é humilde e tem o grupo nas mãos. Ele extrai o máximo dos jogadores, principalmente em momentos difíceis. Ele fez isso em 2011, com a saída do Antônio Lopes. Ele se identifica com o América.

 Quem avança para a final do Mineiro: América ou Cruzeiro?
O futebol é jogado, mas o América tem dois gols que dão uma bela vantagem. O time do Cruzeiro não tem um jogador com capacidade de desequilibrar, por isso tem que estar num dia muito bom e inspirado para tirar a vantagem do América.

Quem será o campeão?
Fico em cima do muro, mas analisando friamente, o grupo do Atlético é bem superior.
 

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