Grão de bico: preço estável e boa produtividade tornam leguminosa nova aposta em Minas

Patrícia Santos Dumont
07/02/2019 às 15:49.
Atualizado em 05/09/2021 às 16:26
 (Amanda Lélis/Divulgação)

(Amanda Lélis/Divulgação)

Leguminosa ainda pouco consumida no Brasil, o grão de bico é uma alternativa viável e rentável para produtores rurais do Norte de Minas. Plantado em caráter experimental, em estudo conduzido por pesquisadores da UFMG de Montes Claros, mostrou-se quase cinco vezes mais produtivo em relação ao que é cultivado no mundo. 

A expectativa, para este ano, é a de que, ao lado de outros três estados e do Distrito Federal, Minas ajude a incrementar a área plantada no país, prevista para cerca de 12 mil hectares, equivalente a 30 mil toneladas. Como o consumo médio anual do brasileiro gira em torno de 8 mil quilos, o excedente deverá ser exportado para o Oriente Médio e Emirados Árabes, principais importadores.

Engenheiro agrônomo, pesquisador no Instituto de Ciências Agrárias (ICA) da UFMG, campus Montes Claros, Cândido Alves da Costa diz que o principal objetivo da pesquisa é conhecer o potencial da cultura e possibilitar a diversificação das atividades agrícolas na região.

“Até o momento, os principais resultados foram a identificação do melhor período de plantio – entre abril e junho – e do potencial produtivo da região. Enquanto a média mundial fica em torno de 900 a 1.200 quilos por hectare, no Norte de Minas foram mais de 5 mil quilos na mesma área plantada”, detalha o pesquisador, doutor em fitotecnia e olericultura. 

Chuva escassa e umidade

Embora não registre temperaturas baixas o ano todo, ideais para o plantio da leguminosa originária do Oriente Médio, o Norte de Minas tem se mostrado terreno fértil para a nova atividade. 

Localizada em área de transição entre Cerrado e Semiárido, a região apresenta chuvas escassas e temperaturas mais amenas no período de colheita. 

Além de Montes Claros, Januária e Janaúba também foram testadas para a atividade agrícola. No restante do país, há cultivo de grão de bico em Goiás, Mato Grosso, Bahia e Distrito Federal. As sementes usadas são fornecidas pela Embrapa Hortaliças, que tem sede na capital federal. 

Os próximos passos da equipe mineira – formada por seis profissionais do ICA/UFMG, estudantes de graduação e pós-graduação e pesquisadores da Embrapa, Instituto Federal do Norte de Minas Gerais (IFNM ) e Unimontes – incluem a identificação de pragas específicas e de mecanismos capazes de combatê-las, bem como melhores métodos de irrigação e de legislação mais específica. 

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“Como é uma cultura nova no país, ainda não existem produtos fitossanitários ou agroquímicos, como herbicida e fungicida, registrados especificamente para ela. Outro desafio é fomentar a atividade no país, incentivando o consumo”, afirma o chefe-geral da Embrapa Hortaliças e coordenador de pesquisas com grão de bico no país, Warley Marcos Nascimento. 

Pesquisadores de outras instituições também devem ser incluídos no estudo conduzido no Norte de Minas, reforça Cândido Alves da Costa, do ICA/UFMG. 

“As pesquisas devem envolver estudos na área de irrigação, de nutrição das plantas, de fitossanidade e manejo orgânico da cultura. Outras instituições interessadas serão bem-vindas”, reforça.

Em um ano, a área de grão de bico plantada no Brasil cresceu mais de 1.000%, conforme a Embrapa, saltando de 800 hectares em 2017 para 9 mil em 2018. O crescimento estimado para este ano é de 33%. Ao todo, 30% das lavouras são irrigadas – método utilizado em Montes Claros, que tem cultura de inverno seco. Robison Cipriano/Divulgação

2019 - Expectativa, para este ano, é a de que sejam colhidas 12 mil toneladas de grão de bico em diferentes regiões do país. Como o consumo da leguminosa ainda é pequeno no Brasil, o excedente previsto – cerca de 4 mil toneladas – , baseado no consumo de 2018, deverá ser exportado

 Vegetal tem custo de produção 40% inferior ao do feijão e possiblita alto lucro

Mais rentável em terras mineiras, onde a produtividade média por hectare foi até cinco vezes superior à do restante do mundo, o grão de bico é cultura promissora também do ponto de vista financeiro. Além de ter custo de produção até 40% inferior ao do feijão, por exemplo, a atividade proporciona lucro ainda mais alto, já que, diferentemente do concorrente, tem preço fixado no mercado internacional.

“A ideia é introduzir a cultura como opção de diversificação das espécies já cultivadas pelos produtores locais. A vantagem, em relação ao feijão, é que tem custo aproximadamente 40% inferior e preço fixado em dólar, o que proporciona lucro ainda maior”, detalha o pesquisador do ICA/UFMG, em Montes Claros, Cândido Alves da Costa.

Minas Gerais é o segundo maior produtor nacional de feijão.

12 mil hectares: previsão de plantio do grão no Brasil em 2019, conforme Embrapa

A segurança que oferece ao produtor é outro ponto positivo colocado pelo chefe-geral da Embrapa Hortaliças, Warley Marcos Nascimento. De acordo com o pesquisador, especialista na leguminosa, enquanto o preço do feijão, estabelecido pelo mercado interno, oscila, o do grão de bico, uma commodity, é baseado na moeda estrangeira e, portanto, estável.

“O produtor sabe exatamente por quanto vai vender, o que dá uma boa garantia a ele. A experiência que tivemos no Mato Grosso, por exemplo, foi excelente como alternativa à safrinha de milho”, reforça Nascimento. No Estado de Goiás, o vegetal é alternativa às culturas de trigo, feijão e tomate.

Índia

Com um terço da população declarada vegetariana, a Índia é, atualmente, o maior consumidor e também produtor mundial de grão de bico. Para se ter uma ideia, em 2017, o país importou 6 milhões de toneladas de pulses (tipo mais consumido por lá) para suprir a demanda de 25 milhões de toneladas. A expectativa é de que até 2030, a necessidade chegue a 40 milhões de toneladas.

Ao lado do país asiático estão Emirados Árabes e Oriente Médio como potenciais importadores da leguminosa produzida em território brasileiro. 

Por aqui, o consumo ainda é baixo – média de 40 gramas por pessoa ao ano. 

Planta da família do feijão e da lentilha, originária do Oriente Médio, o grão de bico é importante fonte de proteína vegetal, além de ajudar na redução do colesterol e da glicemia sanguínea, devido à alta quantidade de fibras solúveis. 

O vegetal, que pode ser servido cozido, em pratos ensopados, saladas ou molho, como o homus, tradicional na culinária árabe, também é rica em ferro, magnésio e vitaminas do complexo B, além de ter alto teor de ácido fólico.Robison Cipriano/DivulgaçãoMELHOR ÉPOCA - No Norte de Minas, leguminosa se mostrou mais produtiva, quando plantada entre os meses de abril e junho, em função da ausência de chuvas e das temperaturas mais amenas

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