Artistas têm fotos e imagens de obras vetadas em redes sociais

Cinthya Oliveira - Hoje em Dia
22/09/2015 às 06:58.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:49
 (Reprodução)

(Reprodução)

Semana passada, a equipe de Karina Buhr se surpreendeu ao ver que não conseguiria divulgar seu novo disco, “Selvática”, na rede social mais popular do mundo: o Facebook. Como a capa do álbum exibe os seios da cantora, a imagem foi vetada, gerando uma série de protestos na internet, com direito a publicação de outros peitorais femininos – fotos que também foram apagadas. Mas esse é só mais um caso de impasse entre artistas e empresas da internet, que vêm se tornando comuns.    Enquanto no século 20 o mundo viu muitos exemplos de cerceamento institucional e governamental, dessa vez o “não” parte de empresas. Mais do que a clara intenção de redes como Facebook e Instagram de vetar qualquer nu, há ainda casos de quem esbarrou em negativas de fábricas, como o músico Jonas Sá, que custou a encontrar quem fizesse os CDs de “Blam! Blam!”, ou o fotógrafo Gal Oppido que teve problemas com a Digipix, especializada em impressão fotográfica, que se recusou a fazer o livro-portfólio do artista.   Mercado   Destaque entre fotógrafos brasileiros por seus trabalhos sobre a beleza do corpo, Oppido também teve problemas na internet. Seu perfil do Instagram chegou a ser extinto por apresentar nus. O fotógrafo acredita que as regras colocadas pelas redes sociais são mercadológicas – ou seja, pesquisas das empresas indicariam que há mais pessoas incomodadas com os nus do que outras abertas à imagem artística.    Ele questiona o posicionamento das empresas sobre seios, pois entende que é preciso observar o contexto das imagens. “Se você tiver uma foto de uma bunda ao lado de uma lata de cerveja, pode – mesmo com a mensagem de que quem beber aquela marca terá acesso àquele corpo. Mas quando aparece numa forma que permite uma reflexão sobre corpo, moral e liberdade, isso passa a ser inconveniente”, diz Oppido, lembrando que a nudez sempre fez parte da arte, especialmente nos anos 60 e 70.    Até famosas são impedidas de se mostrarem na rede   As negativas não são problemas exclusivamente dos brasileiros. Há uma grande lista de mulheres famosas que tiveram suas fotos retiradas das redes sociais – ou, ainda, seus perfis bloqueados. O último caso de destaque foi o de Naomi Campbell, que postou uma belíssima foto nua em seu perfil do Instagram e recebeu 65 mil curtidas e 3.500 comentários antes de ter a imagem apagada. Ela integrou a campanha da internet “FreeTheNipples” (“libertem os mamilos”, em tradução livre) que recebeu adesão de famosas e desconhecidas de vários países.   Madonna também teve uma imagem censurada no Instagram, mas driblou o problema com uma tarja nos mamilos – o que não nos impede de admirar o belo corpo da cantora. “Por que é que se pode mostrar o traseiro, mas não peito? A afogar-me na hipocrisia dos média sociais”, publicou Madonna.   Em BH   A atriz e poeta mineira Paula Valentine engrossa a lista dos que já tiveram problemas com o Facebook. A primeira página criada por ela na rede social, Da Ponta à Tinta, chegou a ser extinta por causa de fotos de nus e contos eróticos. “Teve texto meu que foi denunciado e o publiquei em outro perfil e não tive problema. Parece até que era uma implicância comigo”, diz.   Ela estranha o fato de ver as redes sociais serem tão incisivas em relação ao nu, mas não no que tange a discursos violentos. “Gostaria de entender como são as denúncias. Eu e uma amiga vimos uma página de cunho racista no Facebook e fizemos uma denúncia, mas nada foi feito”, diz.    Procurada pela reportagem, a assessoria do Facebook encaminhou a nota repassada toda vez em que o assunto “censura” vem à tona, reforçando que só há retirada de conteúdo após denúncias: “O Facebook trabalha incansavelmente para manter em sua comunidade um ambiente ideal e permitir que as pessoas se expressem criativamente, tomando o cuidado de respeitar a sensibilidade de algumas pessoas com culturas e idades diferentes”.    Abertura   Mesmo entendendo o posicionamento da empresa, Paula Valentine, assim como muitas outras pessoas, brigam para que o Facebook reveja sua política.    “É mais do que uma questão de liberdade de expressão, é de abertura de ideias. Lidamos com pessoas que têm vergonha do próprio corpo, acreditam que é algo que deve estar escondido atrás de um pano. É muito interessante lutar por essa mudança, quebrar tabus para que o corpo seja visto com naturalidade”, diz ela, que faz performances que abordam a temática.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por