Protagonista de 'Fome' é favorito para ganhar troféu de melhor ator

Paulo Henrique Silva* - Hoje em Dia
19/09/2015 às 13:21.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:48
 (Hoje em Dia)

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BRASÍLIA - Quando morou na Europa, antes de virar cineasta, Cristiano Burlan passou fome em Madri, capital da Espanha. “É uma situação física e angustiante. Não queria ficar parado, pois seu corpo começa a lembrar que você precisa comer. Aí ficava deambulando, sem saber para onde ir. Só queria me colocar em movimento”, recorda o realizador, durante o debate do filme “Fome”, um dos concorrentes ao troféu Candango do Festival de Brasília.

O episódio é puxado da memória ao se descrever o movimento incessante do protagonista vivido por Jean-Claude Bernardet, um mendigo que caminha sem parar pelas ruas do centro de São Paulo. Bernardet, por sinal, é uma das atrações do filme: ex-crítico e professor de cinema, ele experimenta, perto de completar 80 anos, uma nova atividade, trabalhando em diversas produções independentes como ator. Tem grandes chances levar o prêmio de melhor interpretação.

O que não quer dizer que, durante o processo de feitura de “Fome”, o crítico nascido na Bélgica tenha aberto mão completamente de sua função crítica. “Ele é uma pessoa extremamente rigorosa e, muitas vezes, eu me via num processo dialético, discutindo o que fiz ou falei. Bernardet não é um ator convencional, preferindo ser chamado de performer. A gente mal entende o sotaque francês dele, mas a presença física dele me atrai muito”, diverte-se Burlan.

O cineasta, premiado pelo documentário “Mataram o Meu Irmão” (2013), enxerga em seu protagonista um bailarino, que dança para a sua câmera. “Foram seis dias de filmagens, sempre nos oferecendo essa elegância, essa fleuma belga”, registra. Burlan soltou uma declaração, no mínimo, curiosa, ao afirmar que os atores não gostam de liberdade. “Eles preferem ser dirigidos e até sodomizados. Se você não fizer (a direção de atores), ele vão fazer por você”.

O realizador também criticou o uso exagerado de preparadores de elenco em produções brasileiras. “É um cancro do nosso cinema. Como podem deixar de lapidar essa pérola e entregar para outro o entendimento da dramaturgia do roteiro, alguém que fará isso com exercícios de 'Kundalini' (ioga) e tapas na cara? Isso não existe em nenhum outro lugar do mundo, pois há  a necessidade uma relação íntima do ator com o realizador”, analisa.

(*) O repórter viajou a convite da organização do Festival de Brasília

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