Uso do cheque especial cresce com crédito restrito

Janaína Oliveira - Hoje em Dia
08/06/2015 às 08:22.
Atualizado em 17/11/2021 às 00:23

Os brasileiros estão ficando mais pendurados no cheque especial. Pelo menos 30 milhões terminam o mês com a conta corrente no vermelho, segundo estimativa da empresa de consultoria financeira Guia Bolso. Em abril deste ano, de acordo com o Banco Central, as concessões de crédito por essa modalidade alcançaram a marca de R$ 28,5 bilhões, o que representa crescimento de 4% desde o início do ano.   O problema é que mais veloz do que a evolução do volume da contratação do empréstimo é o aumento dos juros, que por ano chegaram a 225,96%, em abril. É a maior taxa dos últimos 12 anos, conforme estimativa da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac).   “O uso do cheque especial cresce porque a população está com a corda no pescoço. Na medida que os impostos e o custo de vida aumentam, e a renda não consegue acompanhar, os consumidores acabam recorrendo à modalidade. Por outro lado, pesa o fato de os bancos estarem mais seletivos na concessão de crédito, enquanto o cheque especial já é uma linha pré-aprovada, que não exige nem uma conversa com o gerente”, diz o diretor executivo da Anefac, Miguel Ribeiro de Oliveira. Por trás de tanta facilidade, porém, pode estar uma armadilha. “É uma linha muito cara. O cliente só deve recorrer a ela em caso de emergência, com um caso de doença na família, por exemplo”, aconselha o economista.   A coordenadora institucional da Proteste, Maria Inês Dolci, diz que, por ser pré-aprovado, o cheque especial é uma das principais causas de endividamento dos brasileiros. Para mostrar o tamanho do perigo para a saúde financeira que esta linha de credito pode representar, ela faz as contas na ponta do lápis.   “Para fazermos um exemplo prático, caso o consumidor utilize R$ 500 do cheque especial, com Custo Efetivo Total, o CET, de 250%, e deixar a dívida rolar por um ano, no final de 12 meses o débito estará em R$ 1,7 mil. É por isso que o endividamento pode ficar cada vez maior”, detalha Maria Inês.   Para aqueles que pensam que R$ 100 ou R$ 200 de juros por mês não é uma carga tão pesada assim, a sugestão do presidente da DSOP Educação Financeira, Reinaldo Domingos, é multiplicar o valor por 12 meses.   “Só assim, o consumidor percebe que, na verdade, se trata de R$ 1.200 ou R$ 2.400, ao ano, quantia que poderia viabilizar sonhos como uma viagem de final de semana”, exemplifica Domingos.   Consumidor deve pesquisar outras fontes de financiamento   Hoje, no Brasil, se tornou comum entre as famílias a utilização do cheque especial. É como se aquele valor fizesse parte do salário.   “A expressão limite disponível, utilizada pelos bancos no extrato bancário, ajuda a criar a ilusão de que todo aquele dinheiro é do correntista, fazendo parte do orçamento, e isso é uma grande mentira”, alerta o presidente da DSOP Educação Financeira, Reinaldo Domingos.   O analista de mercado Paulo Vieira recomenda ainda cautela para as ofertas de isenção de juros durante 10 dias para o uso do cheque especial.   “Se a pessoa, por descuido, utiliza o limite por 11 dias, ao invés de 10, paga caro por isso, já que a cobrança das taxas é retroativa”, adverte. Para fugir das taxas altas do cheque especial, Vieira recomenda trocar o empréstimo por outro mais barato, como crédito pessoal, o CDC, ou mesmo contratar a linha de antecipação da restituição do Imposto de Renda (IR), que tem juros menos salgados.   “Mas o consumidor deve se lembrar de que só compensa antecipar o IR se for para se livrar de uma dívida mais cara, como é o caso do cheque especial”, ressalta.   Escalada   Com a decisão do Conselho de Política Monetária (Copom), no último dia 3, de elevar a Selic para 13,75% ao ano, o maior patamar em quase nove anos, a tendência é a de que os juros médios cobrados das pessoas físicas subam ainda mais, atingindo 120,43% ao ano (ou 6,81% ao mês), segundo cálculos da Anefac.   “Com o aumento dos juros, é preciso ficar ainda mais atento às contas mensais para não se endividar”, adverte o diretor da Anefac, Miguel Oliveira.

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