A história de um case chamado High Line Park

Patrícia Cassese - Hoje em Dia
22/06/2014 às 08:45.
Atualizado em 18/11/2021 às 03:06
 (Iwan Baan)

(Iwan Baan)

Mal comparando, é meio como a lenda do colibri que, carregando uma gota de água em seu bico, se orgulha de ao menos estar fazendo a sua parte – mesmo que a missão em questão seja apagar um grande incêndio na floresta. “High Line – A História do Parque Suspenso de Nova York” (Bei Editora) é, sintetizando, o repasse de um case. Estamos falando de um projeto abandonado em plena Manhattan, e que seria demolido, até que um grupo, inconformado, decidiu reagir e dar um novo sentido ao projeto. O resultado é um dos lugares mais hypes da ilha atualmente, atraindo descolados de todo o mundo.
Curiosamente, apesar de ter a função de narrar o passo a passo do parque suspenso, a escrita do livro já seduz enquanto história, inclusive pela estruturação, em duas vozes, alternadas: a dos autores, Joshua David e Robert Hammond. A mudança de voz é identificada, no projeto gráfico, pela cor verde, utilizada também em páginas internas e nas orelhas, e linkada ao fato de a preocupação com a flora ser um dos pilares do ponto turístico.
Logo de cara, o leitor se depara com uma linha do tempo referente à malha ferroviária da cidade de Nova York, que remonta a 1847. Mas foi em 1934 que a High Line é oficialmente inaugurada: 26 anos depois, a linha entra em franco declínio.
Com a administração de Rudolph Giuliani, ganha força a ideia de derrubar a High Line. E entra em cena o marco zero desta história, o verão de 1999. À época, abandonado, o local era ponto de sexo, raves e acampamentos de sem-teto. Instado a se debruçar sobre o assunto, Josh viu acender a centelha: “não seria legal caminhar lá em cima, por 22 quarteirões, nessa velha coisa elevada, nessa relíquia de outra época, nesse lugar escondido em pleno ar?”. Devaneio? Zero. O tempo tratou de provar que Giuliani estava errado – e Josh, Robert e demais “colibris”, para voltar ao ponto inicial desta matéria, certíssimos.
Um dos pontos altos é o mirante sobre a via
O High Line Park começou a se tornar embrionário com o aceno da companhia ferroviária CSX, que comprou a linha e estava aberta a propostas, apesar da decisão pétrea de Giuliani. Uma primeira reunião foi articulada, e no livro Josh conta, divertido, que sentou-se ao lado de Robert apenas porque o achou bonito. Foi a gênese do Friends of the High Line, que passou a angariar o apoio de famosos – dado voluntariamente, como no caso do ator Edward Norton – ou caçado. “Vivemos em Nova York tempo bastante para saber que o que a mídia quer são pessoas famosas, ou ao menos conhecidas”. Sim, os famosos deram apoio.
Não que tudo transcorresse sem percalços, mas há uma frase de Robert que vale a pena ser repetida: “A chave para começar qualquer coisa é ficar confortável com a rejeição”. E veio um artigo na New Yorker. E a administração Bloomberg, que apoiou o projeto. O final desta história, os antenados com os points da hora de Manhattan já sabem. A High Line foi inaugurada e hoje é ponto de visita obrigatório. Aos que ainda não conhecem e ficaram curiosos, há vários vídeos no YouTube, inclusive contando a história com pormenores.
O High Line Park virou cenário de séries e filmes, e quem o visita ainda pode estender o passeio pelo irresistível Chelsea Market. No verão, dá para tomar sol espraiado pelos bancos. Na primavera, as flores são o destaque. E quem não se delicia em ficar no mirante, vendo os carros passarem lá embaixo, através do vidro, enquanto confere ao desfile fashion dos descolados?

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