Investidor amarga perdas com atraso de hotéis na região da Savassi

Janaína Oliveira - Hoje em Dia
29/09/2014 às 08:56.
Atualizado em 18/11/2021 às 04:23
 (LUIZ COSTA/Hoje em Dia)

(LUIZ COSTA/Hoje em Dia)

O sonho da aquisição de leitos de hotéis como um investimento rentável se tornou pesadelo para investidores de Belo Horizonte. Dezenas deles que compraram e já pagaram às construtoras Maio/Paranasa por unidades hoteleiras do empreendimento Site Savassi, que engloba o Novotel e o Ibis Savassi, reclamam do atraso na entrega. Prometida para fevereiro deste ano, a obra encontra-se inacabada e paralisada. Com a demora, a sonhada rentabilidade também fica adiada, o que significa mais prejuízos e apreensão.

Segundo cálculos dos advogados que representam os investidores, as empresas já teriam recebido o equivalente a R$ 60 milhões pela venda de quase 400
apartamentos. Porém, somente o esqueleto do prédio foi erguido, restando a ser feita toda a parte de acabamento, normalmente a mais cara de uma construção.

A hipoteca do empreendimento gera ainda uma dose extra de preocupação aos consumidores. Documento registrado no Cartório do 4º Ofício de Registro de
Imóveis de Belo Horizonte mostra que o terreno onde estão localizados os hotéis foi hipotecado como garantia de um empréstimo no valor de R$ 68,8 milhões,
contratado junto ao Banco do Brasil. No arquivo consta ainda que o custo global da construção é de R$ 74 milhões.

“A lei diz que qualquer recurso em que o imóvel é dado como garantia do empréstimo deve ser investido na própria obra, o que não aconteceu. O dinheiro da
hipoteca não poderia ter sido desviado para outro lugar, mas a verdade é que essa quantia sumiu”, diz Kênio Pereira, que advoga para o casal Alexandre e
Luciana Couri Sadi, donos de duas unidades do empreendimento desde julho de 2013.

Pereira, que é presidente da Comissão de Direito Imobiliário da Ordem dos Advogados do Brasil em Minas Gerais (OAB/MG), visitou pessoalmente a obra.

“A construção estava parada, mas na semana passada as construtoras contrataram seis operários. Ora, é muito pouco para um empreendimento de 22
andares. Perguntei aos próprios empregados, e a resposta é que seriam necessárias quase 200 pessoas para tocar uma construção daquele porte. O que há lá é
só um esqueleto”, afirmou.

Diretor comercial de uma empresa de metalurgia em São Paulo, Aguinaldo Fantinelli investiu suas economias na aquisição de uma unidade no Ibis. Pagou as parcelas rigorosamente em dia, num total de R$ 260 mil. Agora, entretanto, vive a expectativa de quando o empreendimento e os lucros esperados sairão do papel.

“Vi o anúncio na revista da Gol Linhas Aéreas, e como citava a Accor como administradora do grupo, achei que o negócio era confiável. Mas em maio as incorporadoras admitiram problema financeiro. E depois simplesmente sumiram”, reclamou.

Assembleia discute hoje possíveis medidas judiciais

O advogado João Antônio Lima Castro investiu cerca de R$ 800 mil na compra de duas unidades do Ibis Savassi e uma do Novotel. Diante do não cumprimento das obrigações por parte da Maio/Paranasa, da hipoteca no valor de R$ 68 milhões que dá o Site Savassi como garantia, e das dezenas de ações judiciais envolvendo as duas empresas, ele entrou em contato com outros investidores e passou a representá-los. Hoje, o grupo já conta com mais de 100 clientes frustrados.

“Há pessoas de todos os tipos de perfis. Alguns direcionaram todo o dinheiro que tinham na poupança na esperança de ter um complemento de renda na aposentadoria. Tem casos em que a unidade hoteleira é o único imóvel que elas têm na vida. A sensação é de indignação”, diz.

Segundo Castro, a Maio coleciona ações com relação a atraso, rescisão de contrato e ressarcimento de prejuízo na Justiça. Já contra a Paranasa há, inclusive, um pedido de falência por parte de credores.

“Diante disso, os investidores estão discutindo as medidas viáveis a serem tomadas e os termos das negociações, com possíveis ações na Justiça visando
preservar o patrimônio e ressarcimento dos prejuízos”, diz. Ainda de acordo com o advogado, uma assembleia com investidores da Maio/Paranasa foi convocada para hoje à noite.

Em nota, a assessoria de imprensa da Maio/Paranasa informou que a hipoteca trata-se de uma operação regular, prevista nos contratos de compra e venda, e praticada no mercado imobiliário para a maioria dos projetos lançados na planta. E afirmou que mantém diálogo aberto com seus investidores sobre a situação dos empreendimentos.

Por meio de comunicado, a Accor, futura operadora hoteleira do empreendimento Site Savassi, disse que partilha dos mesmos anseios dos adquirentes com relação ao cumprimento dos prazos de construção do empreendimento sob a responsabilidade da Maio/Paranasa, sem o qual não poderá desenvolver as atividades hoteleiras contratadas. O grupo Accor informou que enviou às empresas notificação extrajudicial solicitando uma solução efetiva e célere para a questão.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por