Príncipe pode virar sapo nos aplicativos do amor

Letícia Alves - Hoje em Dia
26/12/2014 às 07:58.
Atualizado em 18/11/2021 às 05:29
 (Frederico Haikal)

(Frederico Haikal)

Mesmo ampliando as possibilidades de conhecer a alma gêmea, aplicativos e sites de relacionamento, do tipo Tinder e Badoo, escondem vários riscos aos usuários. Criminosos “hi-tech” têm se aproveitado desses canais de comunicação para aplicar golpes, que vão de estelionato a crimes graves, como sequestro.

Neste ano, 1.208 delitos cometidos pela internet foram registrados na Delegacia Especializada em Crimes de Informática, em Belo Horizonte. Além dos sites e aplicativos, outro meio de aplicação de golpes é o e-mail.

Quem pratica esse tipo de abordagem virtual é conhecido como scammer, que significa “golpista do romance” ou “golpista da sedução”. São pessoas articuladas, que cuidam da aparência e ainda simulam ter uma carreira profissional sólida.

Os alvos podem ser tanto homens quanto mulheres. Os scammers agem de maneira padrão: mantêm o bate-papo por determinado tempo, até perceberem ter uma certa intimidade com a vítima.

O crime mais frequente é o estelionato, segundo a delegada de Crimes em Informática Paloma Bonson. Ela explica que, depois de ganhar a confiança do “pretendente”, scammers usam o subterfúgio de estar em dificuldade financeira ou doente para pedir dinheiro. Em alguns casos, dizem não ter condições de pagar a passagem para concretizar o primeiro encontro e embolsam o valor. “Se conseguem a quantia, desaparecem”, diz a delegada.

Foi o que aconteceu com Michele*. Ela conheceu o militar norte-americano Ryan Matthews em um site de relacionamento. Após alguns meses, ele pediu R$ 2.500 para vir ao Brasil, para montar um negócio e constituir família. Ela desconfiou e disse que não iria enviar a quantia.

“Fui aos poucos me envolvendo e gostando cada vez mais. Começamos a fazer planos para ficar juntos. Tudo ia bem até a questão do dinheiro”, relata Michele, no site www.forascammers.com.br, que reúne informações de perfis falsos na internet.

Com a recusa, o golpista mudou a conversa e alegou que o valor era para comprar presentes para a filha. Com tanta contradição, Michele não teve dúvida de que tratava-se de um scammer e resolveu alertar outras pessoas no site.

História começa no Orkut e evolui para o altar

Mesmo com todos os riscos, a internet pode ser o meio para encontrar um grande amor. Ainda mais na correria do dia a dia, em que o tempo é curto. Prova disso é a história do relações públicas Breno Henrique Diniz, de 34 anos, com a bióloga Bruna Souza Pereira Diniz, de 27.

Tudo começou em 2008, ainda na época do Orkut. Bruna viu uma foto de Breno em um perfil de um amigo e resolveu adicioná-lo. Durante mais de um ano, os dois conversaram, antes de se conhecerem pessoalmente. Para não caírem em uma “roubada”, os dois contam que “puxaram a ficha” um do outro, levantando informações com o amigo em comum.

Paixão virtual

Na época, ela morava em Alfenas (Sul de Minas), e o romance desenrolou pela web por três anos e meio. “Conhecer pela internet é complicado, e namorar à distância foi um empecilho”, conta Breno. Mesmo com todos os contratempos, os dois casaram-se e estão juntos há cinco anos.

Antes, Breno já havia utilizado a rede para conhecer outras pessoas, e até caiu em algumas situações suspeitas. “Tive experiências ruins, de tentarem me enganar e chantagear. Você se envolve emocionalmente e acaba ficando cego”.

Em casos extremos pode acontecer roubo, estupro e sequestro

Não é somente de estelionato que vivem os scammers. Quando a conversa sai do ambiente virtual para o real, o perigo pode ser ainda maior. Casos mais graves podem acabar em roubo, sequestro e estupro, destaca a delegada Paloma Bonson. “Não tivemos nenhum caso em Belo Horizonte, mas em outras delegacias há registros de desaparecimentos após encontros com pessoas conhecidas pela internet”, afirma.

Outras situações podem envolver também calúnia e difamação. Nesses casos, fotos e informações íntimas obtidas em conversas são enviadas para outras redes e sites, afetando a imagem da pessoa. Alguns scammers também utilizam as fotos dos usuários para aplicar outros golpes.

Há como verificar a procedência do perfil na rede social

Se não existe como verificar se uma pessoa diz a verdade na internet, alguns aplicativos fornecem ferramentas para a verificação de perfis. Uma delas é a sincronização da conta no site ou aplicativo com a de uma rede mais ampla, como o Facebook. Nesse caso, o usuário aparece como verificado e é mostrada a quantidade de amigos na rede social. Outra opção é solicitar fotos com números e imagens escritos em um papel. Os dígitos são gerados aleatoriamente e as imagens são checadas pela equipe do aplicativo. O recém-lançado Lovoo, para iOS e Android, já utiliza esse sistema.

Outro cuidado importante é somente marcar encontros após muito tempo de conversa e sempre em lugares públicos, como shoppings. Também é essencial informar o lugar e horário para um familiar ou amigo.

Para não se tornar a próxima vítima de um scammer, o que vale é a boa e velha precaução. “É preciso estar consciente de que a pessoa que está do outro lado pode não estar dizendo a verdade”, destaca a delegada Paloma Bonson.

Como proceder caso você se torne uma vítima

Vítimas de scammers devem procurar a delegacia para registrar queixa. É importante imprimir todas as conversas, que serão anexadas ao inquérito policial como provas. Em caso de crimes de informática, a reclamação pode ser encaminhada à delegacia especializada.

* Nome fictício

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