Um mineiro por trás de um case da telinha

Paulo Henrique Silva/Hoje em Dia
10/09/2014 às 07:45.
Atualizado em 18/11/2021 às 04:08
 (Divulgação)

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“Por que você não fez essa pergunta lá no início?”, indaga José Luiz Villamarim, divertido com o fato de o repórter ter deixado para o final da entrevista a pergunta que milhares de telespectadores estão se fazendo agora: quem é o assassino de Bruno Ferraz? “Talvez eu falasse algo que ninguém soubesse”, avisa, em tom misterioso o diretor da novela “O Rebu”, cujo último capítulo irá ao ar nesta sexta-feira.

Como todo bom contador de histórias, Villamarim prefere alongar o quanto pode o suspense. “São muitos os suspeitos”, resume o diretor mineiro, nascido em Três Marias. Ele seria mais um economista saído da PUC Minas se não tivesse se deixado levar pelo canto da sereia das imagens em movimento, radicando-se no Rio de Janeiro há 22 anos.

Recém-promovido a diretor do núcleo de teledramaturgia da Rede Globo, o realizador que aprendeu “Marx na marra”, durante a faculdade, está apostando na inteligência do público de TV para absorver uma trama complexa, baseada em novela homônima de Bráulio Pedroso, e exibida há exatamente 40 anos, com Buza Ferraz e Bete Mendes à frente do elenco. “Quebramos um pouco o formato que o povo estava acostumado”, destaca.

CASE

Essa ruptura está principalmente em sua narrativa não-linear, recheada de flashbacks numa história que, durante 36 capítulos, acontece em apenas um dia, a partir do enigma deixado por um homem encontrado morto (o ator mineiro Daniel de Oliveira) numa festa da alta sociedade. Villamarim admite que “O Rebu” está mais para uma série do que uma novela, obrigando o espectador a não perder nenhum capítulo.

“Sentimos que, no início, o entendimento foi complicado, com o pessoal de casa encontrando dificuldades para assimilar que tudo se passava num único dia. ‘O Rebu’ se tornou um case, com um ritmo mais pegado de seriado. Ainda vamos estudar com calma como foi a recepção. De toda forma, foi bem aceito pelo formador de opinião, que é um público que nos interessa muito”, assinala.

O diretor comenta que, entre os amigos que gravaram, em casa, os primeiros capítulos e os viram de uma só sentada, o entusiasmo foi ainda maior. “Como é uma novela curta, um capítulo perdido prejudica muito”, observa Villamirim, que não nega influências absorvidas de séries americanas. “Elas são responsáveis pelo resgate da TV, dando-lhe fôlego e tornando-se um veículo de grandes atores”.

Para esse mineiro de 50 anos, as séries elevaram tanto o padrão que, hoje, passaram à frente do cinema em matéria de ousadia e qualidade. “Estamos também perseguindo essa qualidade na TV brasileira. Mas vamos filmar à nossa maneira, com a nossa pegada. Não dá para simplesmente copiar o que fazem”, registra.

“O Rebu” deverá chegar ao seu the end com uma média de audiência de 17 pontos, número considerado ótimo por Villamarim, especialmente porque a novela teve horários diferentes a cada dia.

A novela original teve 112 capítulos. A principal mudança no remake foi o sexo do protagonista. Patrícia Pillar faz o papel que foi de Ziembinski na década de 70. “Também aceleramos a história e criamos novos núcleos, e crescemos alguns personagens, como o pessoal da cozinha”, compara o diretor.

Para o cinema, ele fará adaptação de Ruffato

José Luiz Villamarim é enfático ao explicar a adoção de uma mulher como personagem principal: “Elas estão tomando conta agora, fazendo a revolução e criando um novo espírito de comportamento tanto para o homem quanto para a mulher. Não tem como não refletir na dramaturgia”.

A escolha pela adaptação de “O Rebu” se deu juntamente com o roteirista George Moura, seu parceiro também em “Amores Roubados”, apresentado no início do ano. A ideia era dar prosseguimento aos remakes de novelas da Globo, iniciados com “Gabriela”, “Saramandaia” e “O Astro”.

“Dentre aquelas que estavam à disposição em nosso acervo, ‘O Rebu’ foi a que mais nos encantou”, justifica. Além de Moura, a equipe conta ainda com o diretor de fotografia Walter Carvalho, com quem também tem muitas “afinidades artísticas”.

Carvalho, por sinal, estará novamente sob o comando de Villamarim no próximo mês, dessa vez num set de cinema. Em Cataguases, o diretor filmará “Redemoinho”, adaptação do livro “Inferno Provisório”, de Luiz Ruffato, um dos filhos diletos da cidade da Zona da Mata. “Não terei tempo para respirar”, sublinha.

MINEIRO PARA SEMPRE

Serão sete semanas de filmagens em torno de uma história que tem muito da trajetória de Villamarim. Como o diretor, um dos personagens sai de sua terra natal e, anos depois, ao reencontrar um velho amigo, passa a limpo a sua vida. A dupla deverá ser interpretada por Selton Mello e Irandhir Santos.

“Apesar de morar no Rio, adoro ser mineiro. É o que Ruffato escreveu: a pessoa pode sair de seu lugar, mas o lugar nunca sai dela. É um tema universal, sobre as nossas aldeias”, analisa Villamarim. O elenco contará ainda com Cássia Kiss Magro e Júlio Andrade, presentes nos créditos de “O Rebu”.

O filme marcará a estreia de Villamarim na direção de longas. Um sonho que vem desde a época que frequentava os cinemas Pathé (fechado em 1999) e Humberto Mauro e estudava no colégio Dom Silvério. “Sempre fui apaixonado por cinema”, afirma o diretor, que espera que a investida no cinema não se torne um mero flerte.




 

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