Sequenciamento do genoma do eucalipto anima silvicultores

Janaína Oliveira e Iêva Tatiana
05/07/2014 às 08:53.
Atualizado em 18/11/2021 às 03:16
 (Leonardo Horta/Divulgação)

(Leonardo Horta/Divulgação)

A conclusão do sequenciamento do genoma do eucalipto, publicada na segunda quinzena de junho, anima os silvicultores em Minas Gerais, maior Estado reflorestador do país. A expectativa é a de ganho de produtividade, com árvores melhores e mais adequadas às necessidades da siderurgia e celulose, setores em que a demanda é maior no Estado.    “Além do melhor aproveitamento, esse passo para entendimento do eucalipto traz informações importantes sobre resistência às doenças e pragas e aprimoramento energético da planta. A pesquisa possibilitará mais biomassa, mais madeira e mais geração de energia”, avalia a coordenadora da Assessoria Técnica da Federação da Agricultura e Pecuária de Minas Gerais (Faemg), Aline Veloso.    Segundo ela, Minas conta com 1,5 milhão de hectares de florestas plantadas. A maioria é composta de eucaliptos voltados para a produção de carvão vegetal e celulose. As áreas de plantio estão distribuídas no Norte, Vale do Rio Doce, Triângulo, Alto Paranaíba e Zona da Mata. No geral, grandes fazendas produzem para indústrias, enquanto pequenas produções são voltadas para a atividade rural, como cercamento, e para o setor moveleiro.    De acordo com a especialista, a partir da decodificação do genoma do eucalipto, a rentabilidade do negócio, que já é atrativa, ficará ainda maior. Hoje, a planta já é até seis vezes mais lucrativa do que a pecuária. O retorno também tende a ser mais rápido.   “Com sete anos, o eucalipto já está apto para o primeiro corte da madeira. Também é um produto que se adapta com facilidade a várias condições climáticas. E todas essas qualidades devem ser aprimoradas com a nova descoberta”, afirma Aline.    A decodificação do genoma do eucalipto identificou 36 mil genes da planta – nos seres humanos, são encontrados, aproximadamente, 25 mil. Para o professor e pesquisador do Departamento de Fitopatologia da UFV e do Instituto de Biotecnologia Aplicada à Agropecuária (Bioagro), Sérgio Brommonschenkel, um dos 80 cientistas que participaram do estudo, a disponibilidade das informações referentes à planta facilitará os trabalhos de controle de características de interesse, aquelas específicas nas quais os pesquisadores querem direcionar seus estudos.   “Na UFV, por exemplo, trabalhamos muito com resistência a doenças. Em Minas Gerais, essa cultura é muito importante, porque é o maior Estado reflorestador do Brasil. Ela tem grande importância, também, para a produção de carvão para a indústria siderúrgica e de celulose”, diz o professor.   Segundo ele, a escolha do eucalipto pelos pesquisadores brasileiros foi pautada na expressividade que a árvore tem no país – ela é responsável por 2% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional, movimenta cerca de US$ 6 bilhões por ano em exportações e gera mais de dois milhões de empregos diretos e indiretos. Com as informações acerca do genoma em mãos, a expectativa dos especialistas é de potencializar a produtividade e a sustentabilidade das florestas plantadas diante das mudanças climáticas.     Estudo levou seis anos para ser concluído   Depois de seis anos, desde sua aprovação, o projeto do sequenciamento completo do genoma do eucalipto foi publica do pela revista britânica Nature. O estudo envolveu mais de 80 cientistas de 30 instituições, em nove países, incluindo o Brasil – e Minas. Por aqui, a coordenação ficou sob responsabilidade da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, e contou com a participação de profissionais das Universidades Federais de Viçosa (UFV), Brasília, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e da Universidade Católica de Brasília.   O ponto de partida da pesquisa também foi brasileiro: o Eucalyptus grandis, espécie tropical mais plantada no país, que representou o “genoma de referência”, segundo a Embrapa. Intitulado BRASUZ1, o exemplar foi desenvolvido por um programa de melhoramento genético e escolhido em razão de suas propriedades singulares, facilitadoras do processo.   “Esse trabalho é muito importante, porque participamos do sequenciamento inteiro do genoma de uma árvore. Ele será útil, também, em outros estudos que já vêm sendo executados com o eucalipto”, afirma o professor Brommonschenkel.      SAIBA MAIS   Brasil é o maior produtor mundial   O sequenciamento do genoma do eucalipto foi iniciado pela rede internacional Eucalyptus Genome Network (Eucagen) e liderado por três cientistas: Dario Grattapaglia, da Embrapa, Alexander Myburg, da Universidade de Pretória (África do Sul) e Gerald Tuskan, do Joint Genome Institute (Departamento de Energia dos Estados Unidos). Estima-se que haja, no planeta, cerca de 20 milhões de hectares de eucaliptos, a árvore folhosa mais plantada em todo o mundo. Somente no Brasil, estão concentrados 5 milhões de hectares, o que faz do país um dos maiores produtores mundiais.

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