Ferréz volta aos contos em nova publicação

Cinthya Oliveira - Hoje em Dia
24/05/2015 às 12:58.
Atualizado em 17/11/2021 às 00:11
 (Almeida Rocha/ Divulgação)

(Almeida Rocha/ Divulgação)

A palavra marginal, sempre atrelada aos trabalhos assinados pelo paulista Ferréz, pode provocar incômodo. Mesmo que o escritor seja morador do pobre bairro do Capão Redondo e trate do universo da periferia em todos seus textos, não há aqui nada que não possa ser colocado apenas como literatura.

Para ler “O Ricos Também Morrem” (editora Planeta), seu novo livro de pequenos contos, não é preciso ter interesse por uma linguagem atrelada ao mundo da periferia ou por um clima de faroeste, onde as pessoas trocam tiros pelos motivos mais diversos. Basta se interessar por boas histórias contadas de maneira convidativa.

Tramas simples que são criadas com naturalidade, coisa de quem sabe extrair literatura do que parece frívolo ou ordinário. No prefácio do livro, Ferréz conta que suas histórias surgem de momentos bastante cotidianos. Nascem de conversas inesperadas, de trechos dos jornais.

Uma notícia sobre uma senhora que havia ligado para a polícia para denunciar militares que estavam executando um jovem no cemitério logo foi transformada em um conto. Uma história inventada em meio a uma festa que logo gerou interesse nos vizinhos e que não poderia ficar de fora dessa compilação de textos.

Letras grandes
“Os Ricos Também Morrem” busca claramente por leitores que não integram a seleta elite intelectual. As letras são bem maiores do que boa parte dos títulos presentes nas livrarias e há ótimas ilustrações de Alexandre de Maio por toda publicação. E tomara que realmente o objetivo seja cumprido.

Ferréz deixa claro em seu prefácio que recebe bom feedback dos vizinhos de Capão Redondo – bairro pobre da região sudoeste de São Paulo, a 18 km da Praça da Sé.
“Passou muita coisa pela minha cabeça, as pessoas na rua me parando e perguntando sobre os personagens do ‘Capão Pecado’ (seu best-seller), também os meninos recitando um texto que eu sequer tinha lançado em livro, ‘Os Inimigos não Levam Flores’, em frente à Escola Euclides da Cunha, no Jardim Comercial”, escreveu Ferréz, mostrando-se apreensivo em permitir que sua literatura mude de foco, deixe de expressar o universo do qual é porta-voz. “É muito forte, quase indescritível o teste de se fazer literatura para quem nunca teve sequer o primeiro contato. É para esses que escrevo. Para os que usam a camisa com o nome de sua quebrada”, complementou.

Para todos
Mesmo que Ferréz se assuma como marginal e escritor dedicado aos seus, não pode ser restrito a esse universo. Faz bem também aos de classe média ter contato com seus personagens de fácil empatia, como o Júnior que aborrece a mãe por querer comer ovo frito, os trabalhadores que vão ter que fazer hora extra para manter o emprego e as crianças que dão atenção à cansada Dona Néia.

A linguagem é direta, há muitos palavrões, um quê de violência e muita ironia sobre questões sociais. Os contos ali podem até ter sido inventados, mas Ferréz faz retrato de uma realidade que todos devem conhecer.

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