Sistema de Seleção Unificada aumenta concorrência entre estudantes cotistas

Iêva Tatiana - Hoje em Dia
22/01/2015 às 07:17.
Atualizado em 18/11/2021 às 05:45
 (Eugênio moraes)

(Eugênio moraes)

O ingresso nas universidades públicas por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) utilizando a Lei de Cotas – que reserva vagas aos estudantes que cursaram o ensino médio em escolas públicas – tem sido mais disputado do que na chamada “ampla concorrência”. No ano passado, o número de candidatos por vaga entre os cotistas foi 16,8% superior ao dos demais, segundo balanço do Ministério da Educação (MEC).

Dentre as vagas reservadas pelas instituições de ensino para políticas de cotas próprias (ações afirmativas), a proporção ficou 11,6% acima da dos não-cotistas. Para o pró-reitor de Assuntos Estudantis da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Tarcísio Mauro Vago, esse quadro evidencia a quebra de dois mitos: o de que estudantes de escolas públicas iriam sair-se mal no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e que eles comprometeriam a qualidade do ensino das universidades estaduais e federais.

“Havia uma ideia preconceituosa, evidentemente, de que esses alunos não dariam conta do recado. Houve, também, a desmistificação da escola pública como ‘fim do mundo’, como muita gente costuma pensar”, diz Vago.

 

 

 

Desleal

De acordo com o pró-reitor, no entanto, o sistema de cotas previsto pela Lei Federal 12.711/2012 torna injusta a disputa por uma vaga, o que acarreta na concorrência acima da média, como observado no ano passado. Isso porque a legislação atual exige apenas três anos de estudo em escolas públicas.

“Dessa maneira, a disputa está sendo antecipada para o ensino médio. Após concluírem o nono ano do ensino fundamental, alunos da rede particular entram na concorrência pelas escolas federais e conseguem, futuramente, se enquadrar no critério de cotas. Não existe uma pesquisa que comprove isso, mas, analisando dados, notamos que aumentou o número de estudantes na UFMG vindos de escolas públicas federais”, considera Vago.
Impacto

Para quem busca um lugar no ensino superior, o aumento da concorrência entre os cotistas foi um misto de surpresa e frustração. A estudante Jéssica Alves, de 19 anos, fez a opção pelo sistema de cotas porque acreditava que seria mais fácil ingressar na faculdade de Biomedicina ou na de Ciências Biológicas.

“É complicado, porque esse critério deveria facilitar, mas só tem dificultado. Dá até vontade de ir para a ‘ampla concorrência’, mesmo tendo direito à cota”, lamenta.

Situação semelhante é enfrentada pelo estudante Marcos Antônio Gonçalves Corrêa, de 18 anos. Negro e ex-aluno da rede pública de ensino, ele também acreditou que encontraria menos candidatos às vagas que ele concorre nos cursos de Medicina e Ciências Biológicas, mas assustou-se com o cenário.

“Notei que, neste ano, está bem pesada a concorrência, há várias pessoas optando pelo sistema de cotas, principalmente, pelo fato de terem estudado em escolas públicas ou se auto declararem negras. O sistema faz parecer que abre um atalho e, por isso mesmo, torna-se cada vez mais difícil”, considera.
 

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por