Em se tratando de dor lombar, Paracetamol pode causar danos irreversíveis

Iêva Tatiana - Hoje em Dia
24/08/2015 às 06:46.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:28
 (Luiz Costa)

(Luiz Costa)

Se “paracetamol” é o primeiro nome que você se lembra quando sente alguma dor, é bom ter em mente medicamentos alternativos, caso o problema seja nas costas. No final do mês passado, uma publicação científica do British Medical Journal analisou 13 ensaios clínicos e descobriu que o remédio é pouco ou nada eficaz no combate à dorsalgia (dor nas costas).

O resultado confirma o que já havia sido concluído em um estudo publicado em 2014 na revista The Lancet – uma das mais reconhecidas pela comunidade médica: paracetamol não tem efeito diferente do placebo. Como agravante, as pessoas que fazem uso regular do medicamento têm quatro vezes mais chances de apresentar danos irreversíveis no fígado.

“Grande parte dos casos de dor nas costas, cerca de 90%, é considerada inespecífica. É aí que começa nosso problema, porque a maioria dos pacientes prefere ignorar a causa para tratar apenas os sintomas”, afirma o fisioterapeuta Leonardo Machado.

Variações

Dentre as causas mais comuns da dorsalgia, estão sedentarismo, doenças degenerativas, má alimentação, repetição de exercícios físicos de maneira incorreta e o tabagismo. Mas, a essa lista pode-se acrescentar doenças renais, histerectomia, gastrite e constipação intestinal.

“Por isso, o diagnóstico inicial é muito importante. Quando a pessoa apresenta um quadro de dor nas costas, ela tem que ficar atenta, primeiramente, a outros sintomas, como febre, calafrio e ardência na hora de urinar”, recomenda o ortopedista Guilherme Zanini, membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia, regional Minas Gerais.

Hélio Carlos da Silva, de 69 anos, começou a sentir dores nas costas há uma década. Depois de muita resistência, procurou um médico e descobriu uma artrite reumatoide. Após dois meses de sessões de fisioterapia, já percebe resultados.

“Não virava o pescoço, não agachava nem ajoelhava. Hoje consigo fazer tudo isso”, comemora.

Cuidados

De acordo com o estudo da revista The Lancet, desconhecer o gatilho da dor é o desafio maior para a escolha do remédio apropriado, já que o mais conhecido pela população não soluciona o problema. Para Zanini, ainda que o paracetamol fosse eficiente nos quadros de dorsalgia, ele não deveria ser tomado por conta própria.
“Se o incômodo for muito, antes de procurar um profissional, as principais medidas que podem ser adotadas são repouso e calor local. Se a dor persistir, o médico deverá ser procurado”, diz o ortopedista.

Problema afasta mais de 15 mil trabalhadores em Minas

Em Belo Horizonte, 40% dos pacientes que dão entrada nas unidades de pronto-atendimento todos os meses apresentam queixas de dorsalgia, de acordo com o ortopedista Guilherme Zanini. Em Minas Gerais, no ano passado, 15,5 mil trabalhadores foram afastados das atividades por causa do problema: 7,71% a mais do que em 2013, conforme balanço do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

No Brasil, o cenário é semelhante. Somente nos seis primeiros meses deste ano, foram mais de 50 mil afastamentos registrados pelo INSS pela mesma razão. “E as pesquisas afirmam que quem nunca teve dor lombar um dia vai ter”, ressalta a fisioterapeuta Carla Tissiane de Souza Silva.

Especialista em Reeducação Postural Global, Carla atende a pacientes de todas as idades, mas os mais frequentes são os de 25 a 30 anos. “Somos da era do controle remoto, não levantamos para mudar o canal da TV nem descemos do carro para abrir o portão. A população tem feito menos atividades físicas e, por conta dessas facilidades, ficamos com a musculatura inativa. Quando precisamos dela, ela falha e não funciona”.

A fisioterapeuta Alessandra Rizzotti recomenda atitudes simples para evitar ou amenizar problemas. “Aprender a sentar, deitar, levantar e agachar é o básico. Isso tem que virar um hábito, como escovar os dentes”, diz.

Além disso

Um dos tipos de dorsalgia mais comum é a lombalgia, aquela dor na região lombar das costas (parte mais baixa da coluna, perto da bacia). Na maior parte dos casos, ela ocorre sem gravidade, mas pode acarretar dores e dormência nas pernas em alguns pacientes.

Segundo especialistas, geralmente, o problema é provocado pela má posição para sentar, deitar, abaixar ou carregar algum objeto pesado. Outras vezes, pode ser decorrente de inflamações, infecções, hérnias de disco, escorregamentos de vértebras, artrose e até problemas emocionais.

Para as mulheres, além dos fatores que comumente favorecem a lombalgia – ou dores em outras partes das costas –, a endometriose e os hormônios podem agravar o quadro. Aquelas com seios muito volumosos também são mais propensas a desenvolver o problema, porque o peso faz com que a coluna se curve para a frente. De acordo com médicos, há situações que exigem o uso de sutiãs apropriados ou até de cirurgia de redução das mamas.

Para as gestantes, o peso da barriga, os quilos a mais e a liberação do hormônio relaxina (que deixa a coluna mais relaxada) perto do parto são outras causas de relatos de dor. O período menstrual é outro momento de reclamação das mulheres. Além da cólica, muitas sentem desconforto e dores nas costas. A explicação está na própria adaptação do corpo: com o aumento do volume uterino, a musculatura evita comprimir a área dolorida, buscando novas modulações que levam à tensão dos músculos, provocando dor. Na medida que o fluxo vai diminuindo, a dor vai cessando.

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