Região Norte de BH concentra a maior quantidade de casos confirmados de zika

Danilo Viegas e Igor Patrick
horizontes@hojeemdia.com.br
20/04/2016 às 20:31.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:02
 (Flávio Tavares/Hoje em Dia)

(Flávio Tavares/Hoje em Dia)

Grávida de 38 semanas, a gerente de vendas Mailane Gonçalves dos Santos está atenta às vítimas do Aedes aegypti no bairro Floramar, Norte de Belo Horizonte, onde ela mora. É nesta parte da capital que se concentra a maior quantidade de casos confirmados de zika, que pode causar a microcefalia.

“Tive dengue há dois anos, e foi horrível. Sempre verifiquei água parada no quintal, mas redobrei a atenção agora, na gravidez. Tenho comprado muito repelente, já que não consigo mais sair de casa”, disse a gestante, que está prestes a dar a luz.

Das 32 confirmações de zika na capital, dez foram na regional Norte, o dobro da quantidade em relação à Nordeste e Venda Nova, que aparecem em segundo no ranking do mapeamento da doença, cada uma com cinco casos confirmados. Os dados são da Gerência de Epidemiologia da Secretaria Municipal de Saúde (SMS).

Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, há mais confirmações de zika na região Norte pelo fato de o primeiro registro oficial ter sido feito nesta parte da cidade, que é formada por mais casas do que prédios

A regional Norte também aparece com o maior número de casos suspeitos de zika: 176. Gerente de Vigilância em Saúde da SMS, Maria Tereza Oliveira atribui o boom da doença nesta parte da cidade a dois fatores.

Ela ressalta que a primeira confirmação de zika em BH foi na região Norte, em dezembro de 2015, o que pode ter contribuído com a disseminação do vírus. O segundo motivo, segundo a especialista, é a horizontalidade desta parte da capital.

A regional Norte tem mais casas do que prédios, o que facilita o trânsito do Aedes aegypti, que voa a uma altura média de 1,20 metro. Quintais, garagens e varandas são ambientes propícios para o acúmulo de lixos, que podem servir como criadouros do mosquito.

Prevenção

De acordo com Mailane, diante do risco, os médicos do Centro de Saúde Floramar, onde ela faz o pré-natal, têm dado orientações sobre a prevenção da doença e feito exames de sangue em grávidas que reclamam de dor no corpo. O objetivo é diagnosticar possíveis quadros de zika a tempo de não prejudicar o feto.

“O atendimento é bom, só acho que deveriam distribuir repelentes pelo menos para os grupos de risco, pois, além de caro, está difícil encontrar aqui na região”, diz a gestante.

Voluntário

Depois de ver o vizinho quase morrer de complicações da dengue, o aposentado José da Silva Cândido, outro morador do bairro Floramar, tomou para si a tarefa de identificar e exterminar possíveis focos do Aedes aegypti na rua.

Em mora em frente a um grande terreno baldio. O aposentado capina o mato do lote frequentemente e recolhe o entulho. “Outro dia, achei vários baldes de tinta e tampas de álcool em uma sacola. Às vezes, o pessoal pode achar que por estar vazio não tem problema, mas se chove, o mosquito vem e a gente nem percebe”, diz Cândido. 

Para dentro do portão da casa dele, os cuidados se concentram no jardim. Os vasos de planta são perfurados na base para escoar a água e a caixa d’água é protegida por uma tela grossa, que ele mesmo fez, além da tampa.

O bebedouro do cachorro é limpo e reabastecido todos os dias, no fim da tarde. “Se cuidando já fica difícil escapar da doença, se não cuidar a coisa desanda. Meu vizinho ficou ruim, muito perto da morte. A gente que é idoso tem que tomar muita medicação, qualquer coisa pode ser o suficiente para nos derrubar”, avalia o aposentado.

Segundo a prefeitura, de janeiro a abril foram retirados 333 toneladas de entulhos em residências da regional Norte. Em 2016, já foram feitos 106 mutirões com, vistoria em 230 mil imóveis.

Perigo

Na avaliação da professora de saúde coletiva da Escola de Enfermagem da PUC Minas, Ninon Miranda, a maior concentração de casos confirmados de zika no Norte de Belo Horizonte se deve mesmo a horizontalidade da região, composta por mais residências baixas do que prédios.

Segundo a especialista, além do “manejo clínico” do poder público, com as ações de combate dos agentes de saúde e os estudos da zoonoses, falta grande parte da população se conscientizar sobre o perigo real da situação.  “Nos criadouros, os ovos de Aedes aegypty duram cerca de um ano, e basta certa quantidade de água para eclodirem. Por isso o check-list residencial precisa de uma constante vigilância”, alerta.

Mobilização

Apesar de registrar a maior quantidade de casos de zika, ainda não houve ações do Mobiliza SUS-BH nos 42 bairros da região Norte. Segundo Michelly Possidonio, que coordena o movimento, antes da divulgação dos números, na última sexta-feira, já está prevista na agenda intervenções nesta parte da capital.

O Grupo de Arte e Mobilização promove diariamente ações em escolas, shoppings, empresas e grandes corredores da cidade. A intenção é sensibilizar a população para o combate ao mosquito. Em cada apresentação, atores, músicos e dançarinos mostram de forma lúdica as diversas formas de eliminação dos focos.  

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