No dia dedicado a Zumbi dos Palmares, conheça vozes que vêm se elevando em BH

Cinthya Oliveira - Hoje em Dia
20/11/2015 às 06:58.
Atualizado em 17/11/2021 às 03:00
 (Frederico Haikal)

(Frederico Haikal)

Desde o início, o hip hop foi um movimento que soube dar voz a questões vivenciadas pelos negros: preconceito, desigualdades, violência... Mas os problemas femininos só começaram a pautar o rap há poucos anos. Pois bem, nesta sexta (20), Dia da Consciência Negra, vale lembrar que, em BH, existe um grupo de cantoras e rappers dispostas a mostrar seus trabalhos – e seus discursos. E o público poderá conhecê-las melhor no 2º Hip Hop Alto Vera Cruz”, que será realizada do próximo dia 24 a 5 de dezembro, em diferentes espaços da cidade.

Uma das responsáveis pelo evento é Zaika dos Santos – uma moça que tem conquistado espaço e elogios na cena cultural mineira, especialmente após seu primeiro disco, “Desabafo” (2013). A cantora, de apenas 27 anos, é declaradamente feminista – e faz questão de levar seu engajamento às músicas.

Há mais de dez anos no cenário do hip hop, ela sabe que é preciso arrombar portas para driblar a discriminação presente no universo da música – notoriamente dominado por homens. “Quero tratar do empoderamento feminino em meu processo artístico, e não consigo lidar com a indiferença dos homens. Muitas vezes, o colega do rap não quer ouvir a minha opinião e quer escolher as músicas que eu vou cantar”, brada.

Espelho

Formada em Rádio e TV, Zaika fez questão de estudar Webdesign para fazer um site que fizesse a diferença no universo virtual. Deu tão certo, que se tornou referência para outras mulheres, especialmente as jovens.

“Tem meninas que acompanham meu trabalho pela internet e me procuram pelo Facebook para conversar sobre seu processo de empoderamento. São meninas que têm dúvidas sobre como lidar com determinadas situações. Elas se identificam comigo”, explica Zaika, que atualmente oferece uma Oficina de Rap Feminino em Contagem.
A artista faz questão de se divulgar como uma defensora do “feminismo negro”, mostrando ao mundo que mulheres negras e brancas vivenciam questões diferentes. Afinal, embora o machismo seja um problema a ser encarado por todas, as negras lidam com questões mais complexas, frutos de um processo histórico de opressão e diminuição.

“Enquanto a mulher branca vive um processo de desconstrução do padrão de beleza, usando menos maquiagem, por exemplo, a mulher negra sequer chegou a vivenciar a cultura do uso da maquiagem da mesma forma, já que a indústria só há pouco tempo passou a investir em produtos dedicados ao nosso tom de pele. Agora, vivemos o momento da descoberta da beleza negra”.

Agenda

A postura de Zaika tem lhe rendido um bom destaque. Tanto que já cantou em festivais como “Conexão”, “Virada Cultural de BH” e “Transborda”. Nesta sexta (20), às 18h30, ela canta no “Festival Raízes”, na Praça de Serviços da UFMG e, no dia 28, às 21h, se apresenta com a banda Aláfia no Parque Municipal, dentro do Festival de Arte Negra (FAN). Os dois gratuitos.

A 2ª edição da “Semana Hip Hop Alto Vera Cruz” terá shows e diferentes ações no Centro Cultural Alto Vera Cruz, Centro Cultural Lá da Favelinha, Parque Municipal e outros. Toda a produção do evento está nas mãos de mulheres

De 25 a 29/11, acontece o Festival de Arte Negra (FAN), que vai ocupar espaços importantes da capital, como o Teatro Francisco Nunes, o Parque Municipal e o Circuito Praça da Liberdade, entre outros

CINARA RIBEIRO – Ela convida Sérgio Pererê, Douglas Din e Fernando Bento para o show, que integra o Festival de Arte Negra

Por uma música que apresente uma ótica diferenciada

Jovelina Pérola Negra abriu o caminho há décadas, mas as mulheres ainda têm de brigar muito por seu espaço nas rodas de samba, de mostrar a sua ótica sobre o mundo na música. Cinara Ribeiro (ex-integrante da banda Oi de Gato) mostra bem isso no CD “O Samba Mandou Me Chamar”, que lança nesta sexta (20), às 21h, no Teatro Alterosa (av. Assis Chateaubriand, 499), com entrada franca.

No repertório, está a música “Direitos Iguais” (Fabinho do Terreiro/Evair Rabelo/Chapinha do Samba Da Vela), na qual a cantora reivindica o direito de viver a boemia, de soltar a voz em uma roda de samba, de dividir espaço com os homens. “Quero chegar numa roda e mostrar o meu trabalho. Se não tiver sido convidada, eu me convido”, afirma.

O novo disco conta com produção de Thiago Delegado (“ele poderia fazer arranjos modernos sem esquecer do samba de raiz”) e traz músicas assinadas por compositores de Minas. “O samba do mineiro tem uma preocupação com as letras e faz melodias marcantes”, diz.

União

Quem também ganha destaque neste Dia da Consciência Negra é o projeto “Inéditas”, que leva nesta sexta (20), às 20h, ao Teatro Santo Agostinho (rua dos Aimorés, 2679), o espetáculo cênico-musical desenvolvido pelo coletivo NEGR.A.

Formado por cinco multiartistas negras, o coletivo foi criado a partir de um edital de ocupação do Teatro Espanca!. “Montamos um espetáculo com textos e músicas nossas que falam de feminismo negro e representatividade”, diz a violinista Nath Rodrigues.

“Nossas demandas são diferentes das (demandas das) mulheres brancas. A mulher negra sempre foi colocada no lugar de subalterna, como um pedaço de carne disponível para todos. Durante anos, a mulher negra que aparecia na TV era a Globeleza, uma pessoa nua, sem rosto, sem voz”, diz a artista, sobre a importância do engajamento do coletivo, que volta a se apresentar dia 26, no CCBB BH (Praça da Liberdade, 450), pelo FAN.

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